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Preconceito e discriminação avançam no mundo do rock no Brasil - assim como a indigência mental

Combate Rock

10/07/2017 06h38

Marcelo Moreira

Preguiça de pensar, incapacidade de interpretar um texto, vocabulário restrito e reação desrespeitosa. A decadência intelectual e retrocesso generalizado nos debates são características predominantes nas sociedades ditas civilizadas e democráticas no século XXI, e tudo piora nos pântanos asquerosos das redes sociais.

De forma assustadora, parte dos fãs de rock e de heavy metal destilam ódio e apoiam discriminação e preconceitos quando se trata de analisar declarações de músicos retrógrados e conservadores.

Não é crime ser de direita ou conservador, longe disso. Democraticamente, ainda que sejam espantosas algumas opiniões, é do jogo tolerar e debater.

No entanto, quando a coisa transcende o razoável, com pregação explícita de políticas discriminatórias em relação a refugiados e minorias de todos os tipos, entre outras pérolas, é o caso de denunciar, atacar e lamentar.

O Combate Rock destacou aqui as declarações estapafúrdias do vocalista da banda polonesa Thunderwar Kamil "Madness" Mandes dadas ao blog Heavy Nation, do jornalista Julio Feriato.

Com profusão de declarações abomináveis, de forma vergonhosa, Mandes diz sem ficar vermelho de vergonha: "Não devemos deixar os muçulmanos na Europa porque eles querem nos superar culturalmente. A islamização é uma ameaça e entre os refugiados pode haver terroristas".

Ele continua vomitando: "Basta ver em países onde isso foi além do tolerável, com estupros, assaltos e toda a sorte de violência. Na Polônia isso não ocorre porque somos intolerantes e conservadores, lutamos contra isso. Somos um povo combativo."

Para arrematar, Mantes louva o fato de não haver muçulmanos na Polônia, pois naquele país "não há lugar para parasitas".

O texto original do Combate Rock foi compartilhado nas redes sociais e em alguns grupos fechados de heavy metal, já que a banda polonesa é de thrash/death. Lamentavelmente, a maioria dos comentários apoia o comportamento lastimável do músico polonês.

O mais grave foi a incapacidade geral de entender o que estava escrito – se é que a maioria realmente se deu ao trabalho de ler. Aparentemente direitistas e conservadores, esses supostos fãs de rock viram um viés de esquerda onde, na verdade, destacou-se a questão humanitária.

Combater a discriminação e o ódio independe – ou deveria independer – de questões políticas ou ideológicas, que os dois espectros contém gente que destila preconceito e ódio, especialmente contra adversários políticos (de partidos opostos ou do mesmo partido) e contra estrangeiros.

Curiosamente, parte expressiva dos supostos fãs de metal passou ao largo do cerne do texto e preferiu expressar sia indigência intelectual ao criticar o que consideraram esquerdismo do texto e bradando a favor do direito de não gostar de muçulmanos e de não serem obrigados a aceitar a cultura deles.

Thunderwar (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ninguém é obrigado a aceitar a cultura ou gostar de muçulmanos, mas é inaceitável que haja desrespeito generalizado, preconceito e discriminação contra qualquer povo – assim como a qualquer raça, religião, nacionalidade, gênero.

Xenofonia e discriminação racional, política, religiosa ou por nacionalidade fere a dignidade humana e colide diretamente contra qualquer noção de direitos humanos – e esse tipo de discriminação é contra a lei na maioria dos países democráticos.

Em resumo, discriminar afronta os direitos humanos, e não pode ser tolerada ou aceita. Simples assim.

E as manifestações que ocorrem nas redes sociais brasileiras, em especial em grupos fechados, é lamentável e preocupante: parte expressiva dos integrantes despreza os direitos humanos, apoia a discriminação generalizada e considera o combate ao preconceito de qualquer tipo como mera "política de esquerda que empesteia o mundo", como escreveu um indigente intelectual.

Os tempos em que vivemos são sombrios, e não havíamos percebido que são muito, mas muito mais tenebrosos dentro do mundo do rock, onde a preguiça e a incapacidade de pensar estão avançado de forma assombrosa.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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