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Berlim foi o epitáfio ao vivo, há 40 anos, do furacão Led Zeppelin

Combate Rock

07/07/2020 18h09

Marcelo Moreira

Led Zeppelin em Berlim, no dia 7 de julho de 1980 (FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE)

Há quem diga que os sinais estavam evidentes desde a morte do filho do vocalista e que o fim da banda era questão de tempo. O cosmos conspirava contra o Led Zeppelin.

Os misticistas e místicos acreditam que o quarteto inglês estava fadado à tragédia na turnê daquele ano de 1980. Seria a retomada da carreira depois de mais de dois anos e meio de hiato nos palcos, exceto por duas aguardadíssimas apresentações no Knebworth Festival, em 1979.

No entanto, o giro europeu estava envolvo por muitas dúvidas e reticências, principalmente depois do lançado do LP esquisito "In Through the Out Door", gravado aos trancos e barrancos e lançado em meados de 1979.

Muitos teclados, composições aquém do nível dos álbuns anteriores e pouca disposição para ensaiar e projetar um futuro mais promissor. E foi assim que os quatro músicos encararam aquela turnê que terminou na Alemanha.

Não havia elementos suficientes para indicar que aquela seria a última apresentação do Led Zeppelin, no Eissensportshalle de Berlim, em 7 de julho de 1980. Ma havia indícios.

Os quatro nunca foram grandes amigos, exceto Robert Plant (vocais) e John Bonham (bateria), amigos de juventude, no começo da banda. A morte de Karac, filho de Plant, em 1977, mergulhou o cantor na depressão e no questionamento de sua carreira musical.

O guitarrista Jimmy Page, frustrado com o momento e o distanciamento de Plant, buscava consolo nas drogas. Bonham, o mais volátil, deixava claro seu descontentamento com o mundo pop e caía de cabeça na bebida, enquanto o discreto baixista John Paul Jones não dava a mínima e ficava na sua.

O afastamento entre Plant e Page piorou com o aparente desprezo do guitarrista diante da dor do amigo – só Bonham acompanhou Plant no difícil regresso à Inglaterra e acompanhou o funeral de Karac.

Peter Grant, o empresário, estava desesperado para manter a banda unida e havia decidido que era a hora de voltar os shows. Mas não era, não para Plant.

Knebworth havia mostrado que o Led Zeppelin ainda era gigante e uma força do rock, mas o mundo estava mudando, o punk e a disco music dominavam as paradas e os quatro pareciam perdidos, envelhecidos e fora de contexto.

O álbum de 1979 indicava isso: Page sem muito entusiasmo e interesse, não se incomodou e largar tudo nas mãos de Jones, que era ótimo tecladista além de baixista.

As canções gravadas era pouco inspiradas, um punhado de boas ideias que não funcionaram tão bem como em álbuns anteriores. Pareciam que estavam apenas cumprindo um contrato, deixando a impressão de que estavam em busca de um novo caminho.

Cada vez menos receptivo ao mundo do show business e do rock megalomaníaco, Robert Plant relutava em assumir maiores compromissos. Não estava preparado emocionalmente para novas turnês. Sentia-se, de certa forma, culpado por estar tão longe no momento em que o filho foi fulminado por uma doença avassaladora causada por um vírus.

Paralisado, o vocalista sabia que colocava em risco o futuro da banda, mas não reunia forças para continuar. Grant precisou de muita habilidade e paciência para convencer o cantor a cair de novo na estrada.

A turnê europeia contou a maioria das datas na Alemanha Ocidental, onde o Led Zeppelin sempre reinou. Não era um giro extenso, mas mesmo assim a banda ganhou muito dinheiro tocando em locais menores. Era o recomeço ideal, segundo Grant e Page, para encarar uma gigantesca turnê de meses pelos Estados Unidos.

O Led Zeppelin que surgiu os palcos alemães e também da Suíça era uma banda diferente. Doze anos depois da fundação, mita coisa havia mudado, e de forma drástica.

De um grupo explosivo e transbordante, tinha se transformado em uma instituição, sem aquela vibração. Pareciam envelhecidos e não muito ligados. Cumpriram bem seus papéis, mas faltava algo.

As roupas largadas e puídas deram lugar a looks especialmente preparados. Era um outro ambiente e a descontração de outrora tinha sumido. Faziam um show eficiente de rock pesado emulando algumas virtudes do passado, e pareciam contentes em entregar o prometido, mas sem muita ambição.

O último show, em 7 de julho, resumiu bem todo esse clima, acrescentando uma dose a mais de cansaço e, depois, uma demonstração explícita de alívio nos quatro músicos.

Não fora um pesadelo, mas havia evidências fartas de desconforto em muitos momentos. Passaram no teste, mas Peter Grant precisaria suar bem mais para preparar a turnê norte-americana do segundo semestre.

Nem por um segundo pensaram que Berlim seria o último ato do Led Zeppelin em cima dos palcos, ao menos como banda em atividade – outros três shows comemorativos ocorreram em 1988, 1995 e 2007, sem contar o período em que Page e Plant formaram uma dupla, entre 1994 e 1998. Mas estava claro que as mudanças foram profundas naquele ano de 1980 e que os músicos não tiveram tempo de entender direito o que estava acontecendo.

Para muitos historiadores, a turnê europeia e o planejamento do giro americano pareceram e aceleraram o esgarçamento dos relacionamentos entre os integrantes.

Também contribuiu fortemente a incompreensão da "organização" em relação aos problemas cada vez mais evidentes de John Bonham, desde a sua inadequação ao seu esquema de show business do rock até as suas necessidades de isolamento e descanso com a família.

A morte do baterista, em 25 de setembro, durante os ensaios para a turnê norte-americana, acabou com o Led Zeppelin. Era previsível que isso acontecesse? A morte dele por ingestão excessiva de álcool em pouco mais de 24 horas foi o desfecho que uma série de problemas de comportamento que ele apresentava e que foram ignorados?

Até hoje a discussão permanece, como se fosse possível explicar como se para um furacão ou terremoto. Enquanto isso, aquela apresentação de 7 de julho de 1980 mostrava alguns caminhos, mas definitivamente deixava claro que muita coisa, ou quase tudo, tinha mudado. O Led Zeppelin não teve tempo de desfrutar dessas mudanças.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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