Os 80 anos de Ringo Starr, o 'melhor de todos os bateristas'
Marcelo Moreira
Simplesmente Ringo, simplesmente simples. O beatle mais carinhoso é um caipira quase simplório que se transformou na máquina propulsora do melhor grupo de rock que já existiu – só que Richard Starkey teve de virar Ringo Starr para alcançar o estrelato.
Ele será o segundo músico da segunda geração do rock internacional a alcançar os 80 anos de idade – a primazia coube ao imortal Bill Wyman, dos Rolling Stones, que continua firme aos 84 anos, embora tenha saído da banda há 28 anos.
O beatle das baquetas está organizado um evento para comemorar as oito décadas no dia 7 de julho, dia do seu aniversário. De acordo com o site da revista Rolling Stone, a apresentação terá lives e vídeos de shows inéditos de nomes como Paul McCartney, Sheryl Crow, Gary Clark, Jr, Ben Harper, entre outros artistas, tudo isso por conta da pandemia da covid-19. "Não era para ser assim, será diferente, mas será bastante divertido", disse o músico.
Muitas vezes menosprezado, mas muito mais vezes reverenciado e exaltado, Ringo Starr é chamado por grande parte dos fãs de música como o Maior Baterista do Mundo. É assim que o chama o escritor e jornalista Michael Seth-Starr, que não economizou nos elogios e na admiração, no livro "Ringo – A história do baterista mais famoso do mundo antes e depois dos Beatles", editado no Brasil pela Planeta.
O que na maioria das vezes se transforma em um pecado quase mortal nas biografias, aqui quase não afeta o produto final, que dá conta da inglória tarefa de escrever a história de quem nunca gostou de ver sua história publicada.
História bem contada
"Ringo", original de 2015, é a melhor biografia do ex-baterista dos Beatles. Seth-Starr fez um bom serviço de reportagem, pesquisa e muitas entrevistas, apesar da resistência do biografado, que se recusou a falar com o autor, assim como o outro beatle vivo, Paul McCartney.
Se a obra não traz nenhuma revelação inédita, tem o mérito de destrinchar várias histórias importantes da vida de Ringo enquanto beatle e depois do fim do grupo, em 1970. Se a admiração pelo músico é nítida, isso não impediu que as partes mais complicadas da biografia fossem dissecadas.
Como a banda mais biografada do rock, muita coisa sobre Ringo foi publicada, mas de forma esparsa e picotada, com informações desencontradas.
Por ter entrado bem depois nos Beatles, sua vida sempre ficou meio que em segundo plano em relação aos outros três companheiros. Foram poucos os escritores que se detiveram realmente nos seus problemas de saúde ou na inexistência de relacionamento com o pai biológico.
Michael Seth-Starr conserta isso e preenche as lacunas, com informações precisas sobre a infância do pequeno Richy, de seus graves problemas de saúde na infância e na adolescência – que o levaram a três longas internações em hospitais – e sobre a relação afetuosa com o padrasto, Harry Graves.
Sobre o pai, também chamado Richard Starkey, Seth-Starr não avança muito, mas faz mais do que todo os outros fizeram. Starkey pai simplesmente abandonou Elsie e o bebê durante a II Guerra Mundial e praticamente nunca mais deu as caras, para vergonha do avô paterno de Ringo.
"A última vez que o vi foi na casa de um dos meus parentes Starkey, e de forma casual. Fui visitar meu avô e ele estava lá, meio que de passagem. Ficou um pouco sem jeito ao me ver, me cumprimentou e elogiou o meu carro novo. Eu devia ter 19 ou 20 anos. Em seguida, deu um tchau geral para todos e foi embora", diz Ringo no livro, em reprodução de uma declaração rara dada a uma emissora de TV inglesa.
Para quem cobrava mais detalhes sobre a carreira musical de Ringo antes dos Beatles, o livro é uma festa, com detalhes sobre as bandas, os instrumentos que ele usou e os locais onde tocou nas imediações de Liverpool, no País de Gales e no norte da Inglaterra.
São deliciosas as histórias sobre as viagens que fez como baterista da banda Rory Storm and the Hurricanes e seu relacionamento com Alan Caldwell, que se transformou no insano cantor Rory Storm.
Seth-Starr também busca mais detalhes sobre a convivência da banda de Ringo e dos Beatles em Hamburgo, na Alemanha, entre 1960 e 1962, com o início da amizade e da camaradagem com os futuros colegas de trabalho. Curiosamente, a obra não acrescenta muito ao que se sabia a respeito do convite para Ringo entrar nos Beatles, em agosto de 1962, e sua chegada.
Nas conversas que manteve com muita gente que gravitou em torno dos Beatles, o autor colheu farta munição para cravar que, apesar de Ringo ser o elo que ligava os quatro integrantes durante a beatlemania, o baterista era menosprezado por John Lennon e Paul McCartney, que sempre desconfiavam de suas habilidades musicais, a ponto de pedir detalhadamente, no estúdio, como queriam que as partes de bateria fossem tocadas, o que enfurecia Ringo.
Seth-Starr garante que, apesar da amizade que manteve com os companheiros após o fim da banda, esse ressentimento nunca passou, e que contribuiu para as tensões que surgiram na reunião dos remanescentes no projeto "Anthology", entre 1994 e 1995.
A trajetória do baterista após o fim dos Beatles é bem documentada e aqui o texto ganha ares interpretativos, mostrando como a carreira musical solo começou bem e logo embicou na segunda metade dos anos 70, com uma sucessão de álbuns medíocres e o mergulho profundo no álcool e nas drogas, vícios que abandonou em 1989 após passar pela reabilitação.
Também são importantes as compilações de declarações de Ringo sobre suas ausências na criação dos três filhos que teve com a primeira mulher, Maureen. Há, inclusive, declarações do filho mais velho, Zak, também baterista, sobre o ressentimento que tem sobre o pai ausente.
Ringo admite isso e que sempre teve um relacionamento "difícil" com o mais velho, ao mesmo tempo em que solidificou a relação com a Lee, a filha mais nova, quando esta precisou passar por dois tratamentos por conta de tumores no cérebro.
"Ringo" é uma biografia sem sustos, sem surpresas e sem novidades, mas é um porto seguro para quem procurava mais coisas sobre o menos biografado dos Beatles.
O Ringo Starr que emerge é um músico talentoso, uma pessoa esperta e amante dos prazeres simples da vida, um cara meio caipira que teve de dificuldades de lidar com o sucesso, com a vida virada pelo avesso e com a falta de privacidade, algo que sempre prezou. A lamentar apenas que o livro tenha tão poucas fotos sobre o baterista antes de se tornar um dos "Fab Four".
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