Biografias de Dio e Shuldiner derrapam em pântano de erros e descuidos
Marcelo Moreira
Esquecido por décadas pelo mercado internacional de biografias e livros sobre bandas de rock, o Brasil experimentou uma avalanche de lançamentos de títulos importantes neste século, fato que também estimulou a elaboração de obras interessantíssimas sobre a música brasileira e o nosso rock, bem como a reedição de livros fundamentais, acadêmicos ou não, que celebraram a nossa música.
Muitas vezes escolhidos a dedo, livros de todos os calibres foram lançados, desde as meras historietas caça-níveis vendidas em bancas de jornal bem baratinho, mas com informações corretas, até as obras mais importantes, como os vários volumes de Philip Norman sobre os Beatles, o necessário tomo gigante sobre o Led Zeppelin de autoria de Mick Wall e inúmeros livros sobre o metal escritos por Joel McIver e Martin Popoff. Não há como não citar a editora Madras, que lançou muita coisa boa, ainda que básica.
Por aqui, os destaques são as ótimas análises do rock nacional de Ricardo Alexandre e livros variados de autores como André Barcinski e Luiz Cesar Pimentel. Tudo bastante caprichado e profissionalismo.
Diante desse cenário, é surpreendente quando nos deparamos com livros sobre rock descuidados e sem o devido acabamento – sem entrar no mérito sobre a capacidade do autor ou do profissionalismo da editora e seus funcionários.
Alguns anos atrás a autobiografia de Glenn Hughes (ex-Black Sabbath e Deep Purple), um artista que dora o Brasil e é adorado por aqui, foi lançada com certo estardalhaço em português e deixou um pouco a desejar no acabamento e em algumas partes da tradução. Entretanto, não comprometeu o resultado final.
Não é o caso, infelizmente, de duas obras lançadas recentemente por aqui, mostrando a trajetória de dois ídolos do rock pesado: Ronnie James Dio e Chuck Shuldiner (líder da banda Death e um dos criadores-disseminadores do subgênero chamado death metal).
As duas obras somam problemas semelhantes – erros factuais, erros gramaticais, problemas de encadeamento lógico na progressão do texto, tradução inadequada a ponto de afetar a compreensão do texto, entre outras mazelas.
Jornalistas importantes destruíram as duas obras nas redes sociais, não sem razão, em tons bem agressivos. Não sei se é para tanto, mas alguns dos problemas, para quem preza pelo profissionalismo, causaram indignação a fãs e mesmo a quem conhece rock, mas não a fundo os dois artistas.
"Ronnie James Dio: A História de Um Ícone do Heavy Metal", de James Curl, foi editado pela editora Estética Torta, com uma tiragem de 999 cópias. É um livro bem básico e superficial, que fica aquém no quesito conteúdo face aos R$ 74 reais, em média, cobrados. Há algumas escorregadas na tradução, que não conseguiu consertar o texto claudicante e sem imaginação.
"Death Metal – A História de Chuck Shuldiner e do Death", da mesma editora, foi escrito por Rino Gissi. É quase um almanaque de tão básico, mas isso, em si, não é um defeito, desde que seja devidamente esclarecido sobre o que se trata e seu formato.
Há problemas chatos de tradução e de erros gramaticais e de digitação/tipografia. Parece que uma edição feita às pressas para aproveitar algum momento especial que não veio. Nas redes sociais também foram apontados erros de informação, mas, até o momento, não os confirmei, já que nunca fui fã da banda e do estilo.
Os dois produtos, que certamente contaram com revisões bem precárias, comprometem o resultado final e jogam redes de desconfianças sobre algumas editoras pequenas e valentes que decidem enveredar por um caminho pedregoso e nem sempre rentável.
É o caso da Belas Letras, que assumiu o compromisso de editar no Brasil todos os livros escritos por Neil Peart, baterista do Rush que morreu no começo deste ano.
Todas as edições são primorosas, sem exagerar em adereços, e têm traduções ótimas, que conseguem transmitir exatamente a mensagem que o autor tentou passar. Claros e concisos, os textos de Peart propiciam uma leitura agradável. Sem a preocupação de ser um estilista, tornou-se um grande cronista de viagens, e a tradução captou bem esse espírito.
Traduzir um livro é uma tarefa muitas vezes inglória. Assim como o goleiro que defende tudo mas toma um único frango em um jogo, o tradutor precisar estar muito atento e não depender do revisor. O trabalho perfeito e magistral pode ser maculado por um ou dois escorregões na tradução. A parte boa é esquecida e sobrevive o erro chato e, às vezes, vergonhoso.
Em alguns trabalhos, é perfeitamente visível que o tradutor não tem muita intimidade com o assunto do livro traduzido. Em obras de caráter técnico, isso é fatal. O mesmo pode ser dito em relação a livros sobre futebol e rock, por exemplo.
Quem desconhece Dio certamente vai deixar passar erros do tamanho de mamutes e, em alguns momentos, o texto do livro nacional dá essa impressão.
No caso do livro de Shuldiner, a tradução é tão reta e insípida (provavelmente o texto original é assim, não tendo nada o que se fazer para "melhorar", neste caso) que não deu para identificar se o tradutor conhecia o biografado a fundo.
As reclamações nas redes sociais dão conta de que os biografados mereciam mais respeito, com edições sem comprometimento. Os dois biografados estão mortos e deveriam ser melhor tratados, mas o que percebemos é que a falta de cuidado não levou em conta os leitores brasileiros fãs de música, que tinham ser os primeiros a merecer o respeito e ter um livro que tivesse um cuidado maior em todos os aspectos. Não à toa foram destroçados nas redes sociais. É urgente que os dois livros passem por rigorosa revisão técnica e geral nas próximas edições.
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