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Pequenas tretas no rock nacional: alguns comentários aleatórios

Combate Rock

20/06/2020 06h20

Marcelo Moreira

Uma das formações do Matanza Inc, com ex-integrantes do Matanza (FOTO: DIVULGAÇAO)

– Emulando os "rachas" que ocorrem no rock internacional e que frequentemente dão origem a dois bandos usando o nome original – casos de Queensryche e Geoff Tate's Queensryche, Great White e Jack Russell's Great White, Venom e Venon Inc, entre outros -, ex-integrantes do Matanza correm para disputar a atenção dos fãs de uma das mais interessantes bem-sucedidas bandas underground que surgiram por aqui.

O grupo anunciou o seu fim com a saída do vocalista Jimmy London, em 2018, mas o quarteto remanescente surpreendeu com a criação do Matanza Inc. Segundo essa facção, seria uma maneira de manter o legado da banda e criar músicas novas com outro vocalista.

London optou por criar uma banda de celtic punk, Jimmy and the Rats, mas não conseguiu ficar longe da banda antiga. Matanza Ritual é a reunião de Jimmy London com músicos muito conhecidos do metal para "recuperar o legado da canções do Matanza".

Com ele estão Antonio Araújo (Korzus,guitarra), Felipe Andreoli (baixo, Angra) e Amílcar Christófaro (Torture Squad). Não é uma banda, mas apenas um projeto, de fiz London.

Seja o que for, é desnecessário, assim com a existência do Matanza Inc neste formato. Ou é Matanza ou não é. Duas bandas com ex-integrantes disputando nome, legado e fãs causam ma confusão grande e acaba prejudicando a todos.

Coisa típica de rompimentos mal resolvidos e de egos feridos, tudo encharcado de ressentimento grande. O nome Matanza é muito importante no rock nacional e deveria ficar a salvo desse tipo de disputa.

Jimmy London (sentado) com amigos no Matanza Ritual: Felipe Andreoli (Angra, esq.), Amílcar Christófaro (Torture Squad, centro) e Antonio Araújo (Korzus) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

– A separação do Matanza foi um evento em que todos saíram perdendo, da mesma forma como ocorreu com os Raimundos. Rodolfo Abrantes, o vocalista e um dos artistas mais reconhecidos do rock nacional no começo do século, abraçou Jesus de forma meio surpreendente lá em 2001 e renegou o passado.

Claro que os companheiros de banda não gostaram e o criticaram muito, tornando o racha inevitável. Abrantes virou músico gospel e tentou manter um pé no secularismo (nem tanto) com a banda Rodox, que teve vida efêmera. A carreira solo ficou restrita ao mundo evangélico, o que não o desagradou.

Já os Raimundos perderam o rumo. Tentaram ser um trio, com o guitarrista Digão nos vocais, mas aos poucos o gás foi se esvaindo junto com membros da formação original. O baixista Canisso e o baterista Fred foram e voltaram e algumas vezes, mas o grupo voltou (ou foi "rebaixado") para o underground, se equilibrando entre discos interessantes e outros esquecíveis.

Infelizmente a banda voltou aos holofotes não pela música, mas por tretas nas redes sociais e por reconciliações . Digão vociferou contra "comunistas" e fez uma defesa meio confusa de politicas e políticos de direita e extrema-direita, irritando profundamente Canisso – os dois ainda carregam os Raimundos nas costas.

Formação clássica dos Raimundos (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Canisso deu a entender que sua continuidade no grupo estava em risco depois das manifestações de Digão. Dias depois, sem ser muito claro, escreveu apenas que as coisas "estavam entrando nos eixos", indicando que teria se entendido com o guitarrista e vocalista.

Na semana passada, Digão fez uma live e surpreendeu ao exibir um vídeo gravado de Rodolfo Abrantes saudando o guitarrista e anunciando que quase 20 anos de inimizades tinham acabado – o que é uma boa notícia.

Canisso, entretanto, perguntado nas redes sociais se essa paz entre os dois significava uma eventual reunião da formação clássica e original da banda. "Não", respondeu secamente. é bom lembrar que o baterista Fred teria de concordar com isso.

Seja como for, o timing não e bom para um retorno dos Raimundos. A chance foi perdida e o tempo já passou. No máximo algo comemorativo, coisa de um dois shows nostálgicos.

Com o rock nacional em baixa e ainda sobrevivendo nas músicas de alguns medalhões, haveria pouco espaço para que o grupo voltasse. Seria mais do mesmo e algo com poucas perspectivas, infelizmente.

– Em outro patamar, há quem sonhe, ainda, com uma eventual, mas altamente improvável, reunião da formação clássica do Sepultura. Além da choradeira que volta e meia domina alguns ambientes do rock nacional, surgem ecos do exterior especulando sobre as possibilidades, ainda que remotíssimas.

Boatos dão conta de que empresas e promotores de shows europeus poderiam desembolsar uma soma importante em euros para garantir uma turnê que reunisse Andreas Kisser e Paulo Júnior com os irmãos Max e Iggor Cavalera. Tudo bobagem. Isso não existe e pessoas ligadas aos dois lados garantem que é fake news gerada em fóruns de internet.

De forma bastante improvável, foi uma separação em que todo mundo perdeu no começo, mas que, anos depois, com tudo se ajeitando, rendeu três bandas ótimas – o Sepultura hoje é um gigante artístico do metal, mesmo que sem o prestígio de outra; do outro lado, Soulfly e Cavalera Conspiracy são grupos de excelente qualidade e com um som que definitivamente não caberia no Sepultura.

Sepultura (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A melhor resposta para quem insiste na reunião do Sepultura é "Quadra", o mais recente CD do Sepultura. É um trabalho excelente, o melhor desde que o vocalista Derrick Greene entrou, em 1998, e candidatíssimo a frequentar as listas de melhores do ano.

Coincidência ou não, Max Cavalera parece ter jogado a toalha e vem declarando que uma reunião está cada vez mais distante, ao contrário de declarações de uns anos atrás. Voltou até a atacar os ex-companheiros em entrevista recente, ao dizer que ele e Iggor deveriam ter demitido Andreas Kisser e Paulo Júnior e ter ficado com os direitos sobre o nome da banda.

Tudo o que Sepultura não precisa atualmente, depois de 22 anos com Derrick e 24 anos da separação, é um mergulho nostálgico no passado. Foram duas décadas árduas para recuperar grande parte do que foi perdido e não é hora para abrir mão disso. E o Soulfly ainda continua como uma força importante do metal alternativo.

– Na ala dos exumados, o RPM volta a ser notícia por conta das intermináveis batalhas judiciais entre o baixista e vocalista Paulo Ricardo, de um lado, e os integrantes que fazem parte da atual formação.

O atual round foi vencido por Paulo Ricardo, que ganhou na Justiça o dirito de relançar as músicas "Louras Geladas", "Olhar 43" e "Rádio Pirata", clássicos do RPM. Foi a banda responsável pelo disco de maior sucesso do rock nacional ("Rádio Pirata Ao Vivo", que vendeu 2,5 milhões de cópias em 1986).

O vocalista regravou as canções em um show em maio de 2018, mas não obteve autorização do tecladista Luiz Schiavon, coautor das músicas, para lançá-las num álbum e em DVD, como planejava. As informações são do jornalista Rogério Gentile, colunista do UOL.

Paulo Ricardo e Schiavon travam uma disputa judicial em torno do direito de exploração da marca RPM, bem como o de poder tocar os principais sucessos da banda explorar comercialmente o catálogo.

O que espanta é que são quase 30 anos de batalhas judiciais, muitas vezes repisando os mesmos temas e as mesmas acusações. Enquanto isso, houve momentos de trégua onde a formação clássica voltou a se reunir algumas vezes para turnês e shows comemorativos.

O guitarrista Fernando Deluqui e a família do baterista Paulo P.A. Pagni, morto em junho do ano passado, estão ao lado de Schiavon nos processos.

Aqui, como no caso do Sepultura, foi uma ruptura em que todos perderam. Só que o Sepultura e os irmãos Cavalera encontraram seus caminhos, enquanto o RPM mergulhou no ostracismo há tempos e custa a sair do underground, o mesmo valendo para Paulo Ricardo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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