'Time's Up', do Living Colour, faz 30 anos, mas permanece atual
Marcelo Moreira
Não era dessa forma que a banda Living Colour pretendia marcar a data, mas o clipe que a banda divulgou na semana passada para "This Is the Life" lavou a alma de muita gente que gosta de rock e preza pelos direitos humanos.
O clipe, com imagens de protestos por conta da morte do segurança negro George Floyd, assassinado por um policial branco, é o início das celebrações do aniversário do álbum "Times Up", lançado há 30 anos e que consolidou o quarteto como uma das formações mais interessantes do rock pesado.
Na descrição do clipe, a banda se manifestou nas redes sociais dizendo que "'Time's Up' foi lançado há 30 anos e, infelizmente, ainda estamos lutando a mesma luta… Se você não gosta da agenda atual, é sua responsabilidade sair e votar!"
Vernon Reid, o guitarrista, foi além e postou: "De todos os chocantes registros de telefones celulares de assassinatos extrajudiciais da polícia, o assassinato de George Floyd é o exercício mais depravado de desrespeito à vida humana que eu já vi. Da próxima vez que você assistir isso – se tiver estômago – preste atenção à postura de mão no bolso."
Com "Vivid", lançado em 1988, a banda de músicos negros gerou muito impacto em sua estreia. O som era complexo, furioso e pesado, o que surpreendeu muita gente – "como assim quatro negões fazendo rock pesado, mas com roupas coloridinhas e guitarras de cores berrantes?"
Para quem se deu ao trabalho de reparar apenas na música, era rock da melhor qualidade e com mensagens potentes, algo que muita gente esperava do Guns N'Roses, estouradaço no mundo desde o ano anterior com "Appetite for Destruction", mas sem a mesma contundência do Living Colour.
"Time's Up" é um passo além do disco de estreia e marcou o fortalecimento de uma fórmula inusitada e, até certo ponto, inovadora: guitarras estridentes e pesadas, mas limpas e virtuosas, um baixo quase independente e quase jazzístico, bateria quebrada de inspiração funk e um vocal diversificado e muito técnico, podendo soar funk ou heavy sem esforço.
"This Is the Life" ganha proeminência novamente. Era o épico do disco em 1990, um arremate fantástico para um álbum que ganhou o Grammy de melhor LP de hard rock daquele ano. Estilisticamente não continua grandes novidades, mas seu trunfo é o forte conteúdo lírico, talvez uma das letras mais fortes da banda.
Os hits são "Type" e "Elvis Is Dead", rocks certeiros e nada óbvios. A primeira é contundente por seu ritmo frenético e incandescente; a segunda tem uma pegada mais funkeada e um vocal extraordinário, com Corey Glover mostrando uma versatilidade assustadora.
"Love Rears Its Ugly Head", um hit improvável, abusa da sonoridade misturada de uma Nova York que voltava a ser efervescente. É uma quase balada funk jazzística, com um vocal declamado de forma malemolente na primeira parte, que descamba para um lamento blues pesado na segunda.
Há outras ótimas ideias e realizações, como a sentimental "Someone Like You" e a forte "Pride", que também era candidata a hit estrondoso.
"Solace of You" é marcante por conta do ritmo frenético e pela guitarra faiscante de Vernon Reid, enquanto que "New Jack Theme" mostra um baixo diferentão e grooveado de Muzz Skillings casando perfeitamente com a batida simples, mas energética, de Will Calhoun.
Living Colour é produto de uma época em que a inovação estava em alta e ainda era possível experimentar, com sucesso, novas ideias e buscar outras sonoridades. Com a reedição de "This Is the Life", o quarteto se mostra muito atual e necessário.
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