São Paulo ainda não está queimando. Até quando?
Marcelo Moreira
Por que São Paulo não está queimando agora?
Desde sexta-feira, 12 de junho, Dia dos Namorados, são pelo menos quatro casos gravíssimos envolvendo policiais militares em ações abusivas e de agressões pesadas contra inocentes, sendo que em uma das ações resultou em morte de um garoto de 15 anos, cujo principal suspeito é um PM.
Por que São Paulo não está queimando agora?
Três ônibus queimados na zona sul e meia dúzia de pneus não incomodam e nem chama a atenção de quem quer seja. E a maioria dos cidadãos nojentos dessa metrópole vai chamar os manifestantes que bradam contra a "depredação" de vândalos e arruaceiros. E o protesto contra a morte do adolescente Guilherme, de 15 anos, vai entrar para as estatísticas de manifestações e mortes de inocentes vítimas de PMs bandidos.
Por que São Paulo não está queimando?
Atlanta e Minneapolis queimaram por conta dos assassinatos de negros encharcados de racismo nas últimas semanas. Bairros inteiros foram atacados nos protestos em Minneapolis, com edifícios queimados e confrontos sérios contra a polícia repressiva e racista.
Em Atlanta, um restaurante foi queimado e destruído depois da morte absurda de um negro que apenas cochilou em seu carro na fila de um drive thru. Os gerentes do local chamara a polícia porque um negro dormiu e não andou na fila, incomodando os brancos.
Atlanta e Minneapolis queimaram em vários locais. Por que São Paulo não está queimando?
Ser Minneapolis? Quantos mais precisarão ser assassinados cá que ninguém aprendeu nada com a morte de George Floyd, em Minneapolis? Quantos mais precisarão ser assassinados covardemente por policiais covardes sedentos por dar pancadas em jovens negros, desarmados e inocentes nas periferias?
Só nas últimas 96 horas foram quatro casos gravíssimos, sendo que em um houve a morte de um garoto de 15 anos, cujo principal suspeito é um PM.
E o que dizer dos vários e vários e vários outros casos nas periferias de São Paulo, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Diadema…
O garoto João Pedro, de 14 anos, fuzilado por policiais burros e incompetentes na região metropolitana do Rio de Janeiro?
E o do jovem Diogo, de 20 e poucos anos, abordado e sequestrado por uma viatura da PM em uma noite qualquer na zona oeste de São Paulo e entregue morto como se fosse um saco de areia em um hospital?
Por que São paulo está quieta, reclamando dos três ônibus queimados e xingando os manifestantes da zona sul que ousaram gritar por Guilherme?
Por que maioria do cidadão médio brasileiro, que mora em São Paulo, covarde até a medula óssea e que adora espezinhar pobre, defende policial assassino nas redes sociais, dizendo que os mortos mereceram?
Por que ainda existe lixo humano que continua vivo para bradar que bandido (preto) bom é bandido (preto) morto?
Por que a gente ainda acha que é normal policiais baterem e matarem impunemente, sobretudo nas periferias?
Será que essa gente imbecil, que apoia mais armas nas mãos estúpidas da população estúpida, acha que jamais vai acontecer com ela?
Por que São Paulo ainda está inteira e em silêncio, enquanto mais alguns de seus valorosos "agentes da lei" batem a torto e mais torto ainda em pobres indefesos que nem sequer ousam olhar para as viaturas?
Foi o que aconteceu com dois pedestres no começo da noite desta segunda-feira, 15 de junho, na Vila Clara, zona sul de são paulo, de acordo com vídeos de celular compartilhados pelo celular. Homens que foram covardemente agredidos por PMs por olharem para os "agentes da lei".
O silêncio está incomodando demais em um momento em que frio da noite de segunda-feira deveria estar aquecendo muitos lugares da metrópole, que deveria estar iluminada pelas chamas da revolta de um povo que está bastante cansado de apanhar e morrer nas mãos de um Estado assassino e de uma polícia sádica.
Não para não lembrar das canções do Clash dos anos 80, em que Londres era um teatro do absurdo em um tempo de crise econômica, desemprego altíssimo e juventude reprimida a pancadas pela polícia.
"London's Burning" clamava à juventude para sacudir a letargia, já que a cidade estava queimando de tédio e precisava acordar. "London Calling", posterior, já era um chamado para uma luta, seja fosse qual fosse, fosse contra quem tivesse de ser.
"Londres chama para as cidades distantes/Agora a guerra está declarada e a batalha começa/Londres chama para o submundo/Saiam do armário todos os garotos e garotas/Londres chama, agora não olhem pra nós/Toda aquela falsa Beatlemania comeu poeira/Londres chama, veja nós não temos balanço/Exceto pelo toque daquele cassetete", na tradução livre dos primeiros versos da icônica "London Calling".
Estímulo à violência e a depredação? Prefiro encarar o "por que São Paulo não está queimando" como um brado contra a pasmaceira de um povo que está acostumado a ver a policia apresentando as suas armas, enquanto os negros e os pobres tentam apresentar as suas ou se proteger, já que estão bem cansados de apanhar, parafraseando a atualíssima letra de "Selvagem", dos Paralamas do Sucesso.
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