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Emerson, Lake and Palmer, 50 anos: sofisticação, elegância e genialidade

Combate Rock

28/05/2020 06h33

Marcelo Moreira

Emerson, Lake & Palmer, na sequência da esq. para a dir.; na foto, o trio em 1970 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O mestre da bateria terminou rapidamente a entrevista coletiva em um hotel de São Paulo, cerca de dois anos atrás, e tentou sair, meio que surpreso com o assédio dos jornalistas-fãs e de fãs que conseguiram burlar as regras.

Carl Palmer manteve o sorriso, apesar de demonstrar certa impaciência. Foi aos poucos relaxando, até que alguém perguntou do nada: "Foi você que não deixou Jimi Hendrix entrar no Emerson, Lake and Palmer?"

Ele tomou um susto, olhou direto para quem perguntou e, depois de um silêncio estranho, deu um sorriso cínico e soltou: "Você também acredita em duendes e elefantes que voam?"

O bom humor voltou em seguida: "Essa pergunta teria de ser feita a Greg [Lake, baixista morto em 2016)]. Ele que mencionou isso tempos atrás."

Nunca foi um assunto muito fácil para ele e outras pessoas ligadas ao Emerson, Lake and Palmer digerir. Só décadas depois é que as informação começou a circular e foi reforçada por Lake, embora Keith Emerson (tecladista, morto em 2016) e Palmer mantivessem silêncio sobre o assunto.

Cinquenta anos atrás, o mundo quase viu o segundo maior supergrupo de rock ser criado em Londres. Carl Palmer saíra do Atomic Rooster irritado com a inconstância do líder, o tecladista Vincent Crane; Lake gravara dois álbuns ótimos com o King Crimson, mas se ressentia da falta de liberdade e de diálogo na banda liderada pelo guitarrista intelectual Robert Fripp; e Emerson implodira The Nice por falta de perspectivas criativas. Nascia então, em 1970, Emerson Lake and Palmer, um trio de altíssimo calibre e precursor do rock progressivo.

A formação do trio chamou a atenção logo, mas a crítica caiu matando: rock sem guitarra? Seria um novo The Nice (banda de Emerson que virou trio na reta final, sem guitarra)?

"Houve essa possibilidade, alguém me contou que Hendrix teria interesse de tocar conosco, mas isso nunca prosperou. Nenhum de nós foi atrás e logo depois ele morreu. Teria sido maravilhoso fazer ao menos um ensaio e, quem sabe, transformar o ELP em HELP", disse Lake em uma entrevista ao site da revista Classic Rock por volta de 2010, antes da última apresentação do trio. Pena que Hendrix jamais teve a oportunidade de confirmar a história. Muitos jornalistas ingleses garantem que isso nunca passou de boato.

Keith Emerson (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Mesmo sem Hendrix, o trio mostrava um potencial grande de sucesso de crítica e público, seja pela formação inusitada, seja pela enorme ambição artística.

Entretanto, tinha tudo para dar errado: uma banda de rock sem guitarra, muita pretensão e aposta em temas eruditos, para não falar em três músicos completamente diferentes. Palmer era excelente, mas inexperiente, seis anos mais novo que Emerson e dois que Lake; o baixista de voz notável e conhecimento profundo do instrumento, era eficiente e discreto, mas de personalidade forte. Já o tecladista Emerson era espalhafatoso e se comportava com um verdadeiro astro do rock.

No começo foi difícil, mas a conjugação de habilidades musicais dos três e composições inovadoras e diferentes catapultou a banda pra o topo das paradas mesmo com sua música "difícil e intrincada". E lá foram os três para lotar estádios pelo mundo e vender horrores com álbuns como "Trilogy" (1972), "Pictures at an Exhibition" (1971) e "Brain Salad Surgery" (1975).

Foram dez anos de convivência mais ou menos harmônica e prestígio gigantesco, do mesmo nível da maioria dos discos lançados no período. O desgaste, entretanto, era mais do que esperado dada as enormes diferenças entre eles, e o fim veio em 1980 sem muito alarde, e de forma amigável.

Palmer logo embarcou em uma aventura pop progressiva chamada Asia, supergrupo que tinha John Wetton (baixo e voz, ex-Uriah Heep e King Crimson), Steve Howe (guitarra, ex-Yes) e Geoff Downes (teclados, ex-Yes e Buggles). Foram mais de 30 anos ganhando muito dinheiro enchendo estádios.

Emerson fez carreira solo e compôs para cinema, enquanto que Lake também gravou solo e com amigos, como Gary Moore. Em 1986 a saudade bateu e quase que Emerson, Lake and Palmer se reuniram, mas compromissos com o Asia não deixaram Palmer entrar na jogada. Restou convidar outro baterista P inglês, Cozy Powell, para continuar o projeto, que durou só um disco e acabou em 1988.

No ano seguinte, nova tentativa, mas era Lake que estava indisponível. Emerson e Palmer recrutaram o guitarrista, cantor e produtor Robert Berry para o Three, banda que durou só um disco e poucos shows.

Carl Palmer (FOTO: DIUVLGAÇÃO)

Emerson, Lake and Palmer só voltariam se reencontrar no estúdio e nos palcos a partir de 1992. foram seis anos, dois discos e duas longas turnês mundiais que passaram pelo Brasil e renderam uma caixa quádrupla de CDs com trechos dos shows do Rio de Janeiro e Buenos Aires, com Carl Palmer não se saindo mal nas conversas em espanhol com o público.

Novo esgotamento ocorreu em 1999, fazendo com que houvesse um hiato de 11 anos até que os três se reunissem para um último show em Londres, no High Voltage Festival, que foi uma comemoração de 40 anos da criação do trio. Curiosamente, havia planos para que a banda continuasse, mas nunca mais os três se encontraram no estúdio.

Entre 2014 e 2016 Emerson passou por vários problemas de saúde, entre eles problemas nos tendões dos pulsos, o que limitava sua capacidade de tocar. Extremamente deprimido, ele se suicidou em março de 2016, aos 71 anos.

Lake, por sua vez, morreu em dezembro do mesmo ano vítima de câncer. Palmer congelou o Asia e a sua Carl Palmer Band para criar o Carl Palmer's ELP Legacy como legado à música do maravilhoso trio de rock progressivo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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