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Warren Haynes chega aos 60 e se consolida como grande nome do blues rock

Combate Rock

23/05/2020 06h50

Marcelo Moreira

Era um trio de caipiras circulando meio acanhados em um hotel chique de São Paulo, estranhando uma deferência que ainda não tinham visto em sua terra natal, ainda mais para uma banda underground de blues com apenas dois anos de existência, mesmo que seus integrantes fossem bem experientes.

No saguão do hotel e no backstage do Nescafé Blues Festival de 1996, os três ansiavam por conversar e bater longos papos, mas não entendiam muito bem aquele assédio de fãs. Não eram muitos, mas eram fanáticos. Era estranho, mas era bom demais.

"Será que nosso som é tão bom assim para penetrar em um país tão distante do meu?", perguntou um incrédulo Warren Haynes, guitarrista e vocalista do trio Gov't Mule, em uma entrevista à TV Cultura.

Mais de 25 anos depois, Haynes, com passagem pelos Allman Brothers, transformou a sua banda, que virou quarteto, em um dos nomes mais influentes do blues rock e um músico bastante requisitado, a ponto de acompanhar Mick Jagger e Jeff Beck em apresentações para o presidente norte-americano Barack Obama.

Warren Haynes (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O guitarrista está completando 60 anos de idade e saboreia o momento mais importante de sua consolidada carreira. Adquiriu o estofo e a consistência necessária paria guiar a banda para novos territórios e escolher como e de que forma quer trabalhar.

O último trabalho do Gov't Mule, "Revolution Comes, Revolution Go", de 2018, é uma poderosa coleção de canções que misturam, todas as suas influências, que vão do blues e do bluegrass ao rock progressivo, passando pelo jazz e pelo country.

O som está menos pesado, mas muito mais técnico e ousado com arranjos intrincados e boas soluções melódicas, tudo capitaneado por sua guitarra bluesy chorosa e delicada.

Muita gente anda pergunta se hard blues existe. Sim, e quem inventou foi, provavelmente, Warren Haynes e Gov't Mule, um trio que reunia em 1994 um guitarrista fantástico e experiente, um baixista grande e de mão pesada e um baterista insano, mas preciso como um relógio.

E o trio surpreendeu com uma excitante mistura de blues e rock, algo tão importante quanto o surgimento de Stevie Ray Vaughan nos anos 80.

O Gov't Mule revitalizou o blues e o recolocou nas paradas de sucesso (quando isso ainda existia). Ainda persistia o trauma pela morte de Stevie Ray Vaughan em 1990.

O som do Gov't Mule era pesado, denso, soturno e, de certa forma, ameaçador. Warren Haynes, guitarrista e vocalista, queria o blues novamente dando as cartas. E acertou em cheio.

Um bom exemplo disso é "The Tel-Star Sessions", um álbum que recupera algumas das primeiras sessões de gravação e ensaios do grupo, em 1994. Lançado em 2016 e reeditado em 2019, é um tesouro porque mostra um então trio totalmente entrosado e executando temas que apareceriam nos dois primeiros CDs de forma tão boa e visceral.

São versões diferentes das que saíram nos CDs "Gov't Mule" e "Dose", como não poderia deixar de ser – e não apenas na questão da mixagem, e sim com as canções executadas de forma diferente, com alterações, como é o caso das duas versões da fantástica "World of Difference", que estão com menos peso, mas mais melódicas e com solos mais extensos.

Formação atual da banda: da esq. para a dir., Danny Louis (teclados), Matt Abts (bateria), Warren Haynes (guitarra e vocais) e Jorgen Carlsson (baixo) (FOTO; DIVULGAÇÃO)

"Mother Earth", o blues pesado por excelência, aqui ganha um andamento um pouco mais acelerado, e surge com riffs diferentes de guitarra e uma bateria mais quebrada. Tudo isso com a marca registrada da guitarra única de Haynes.

Para a revista "Ultimate Classic Rock", Warren Haynes declarou que o Gov't Mule era apenas um projeto, uma válvula de escape, para o trabalho dele e do baixista Allen Woody (morto em 2000) no Allman Brothers.

Quando entraram no Bradenton Studios, na Flórida, com o engenheiro Bud Snyder, a intenção era ter um pouco de diversão.

"No início, Gov't Mule era apenas um projeto", explica Haynes. "Nós não tivemos planos para ser uma verdadeira banda que permanece unida e que faria um segundo disco e um quinto registro e um décimo e turnês. por anos. Nós estávamos apenas fazendo algo para nosso divertimento. Nossa intenção era fazer um trabalho experimental de baixo orçamento. Fomos para o estúdio com o nosso próprio dinheiro e fizemos nove canções, que eram praticamente as únicas canções que tínhamos."

Só que algo mudou. "Ahttps://bitly.com/a/overviewo longo dos meses seguintes, a demanda por shows e por material novo aumentou. As pessoas gostaram, e o sentimento dentro da banda era realmente forte", lembra ele. "Nós estávamos criando o tempo todo e eu estava escrevendo mais e mais material novo. Estávamos crescendo tão rapidamente que nós decidimos não limitar o repertório para apenas aquele punhado de canções. Fizemos outras músicas e acrescentamos clássicos do blues e do rock e o Gov't Mule se consolidou. Virou nossa principal banda."

Querido e aclamado, Warren Haynes é o caipira gente boa que adora conversar e que transborda cultura e musicalidade. Entra para o seleto grupo que transformou sua música em item necessário pra quem gosta de ouvir bom rock e bom blues.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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