Fantasmas comunistas empurram mais artistas decadentes para o abismo
Marcelo Moreira
Os Raimundos surgiram em meados dos anos 90 reunindo algumas das características mais importantes para uma banda de rock: irônica, sarcástica, debochada, contestadora e, por conta disso, perigosa.
Deu certo por algum tempo, até que as convicções de seus integrantes, que nunca foram firmes, desmoronassem diante de questionamentos básicos e simples da vida.
A derrocada e a decadência começou quando o vocalista renegou tudo e decidiu comer hóstia e bradar o nome de Jesus a torto e a direito.
À pregação inacreditável e pouco convincente do ex-vocalista juntou-se o deserto de boas ideias dos que restaram, o que acelerou a queda e a transformação de uma banda que liderava um movimento a mera aglomeração de animação de boteco e churrasco.
A acelerada decadência foi ficando evidente ao longo dos anos e explodiu na indigência intelectual e cultural de seus integrantes, em entrevistas desprovidas de bom senso e de conteúdo significativo.
O último exemplo veio nas redes sociais co guitarrista e vocalista Digão, talvez a única pessoa deste a país a enxergar, em 2010, comunistas em nossa sociedade.
Em uma insanidade digna de quem bebeu querosene, vomitou bobagens ao afirmar que o Brasil vive uma "ditadura comunista" em vários lugares por conta das medidas de restrição de deslocamento e em favor do isolamento social." Tal qual uma sociedade comunista, tudo agora é proibido, agé o direito de ir e vir".
Ele deve acreditar em papai noel e também costuma ver fantasmas por aí. O último comunista brasileiro, Aldo Rebelo, o palmeirense fanático que foi ministro dos Esportes, há muito pulou do barco e do PCdoB, procurando um outro partido mais adequado à realidade. A quais comunistas Digão se refere?
Mais do que enxergar fantasmas em qualquer esquina, Digão atropela qualquer noção de cidadania e de solidariedade. Ignora os preceitos básicos do que seja uma pandemia e uma crise sanitárias de proporções gigantescas
Até mesmo para ser um conservador, ainda que mequetrefe (todos os conservadores são mequetrefes, mas enfim…), é necessário um pouquinho de informação. É preciso ter estudado, ter ao menos passado dez minutos em uma sala de aula de história.
Digão passou longe de uma escola, pelo jeito. Foi além, pois deve ter passado anos de olhos vendados para não perceber o que rola ao seu redor. Ou será que só conseguiu enxergar comunistas ao seu lado, algo que já não existe má quase 30 anos no mundo – nem mesmo em Cuba, na China e na Coréia do Norte?
Precisa ser muito corajoso mesmo para conseguir enxergar comunismo em medidas necessárias pra conter a expansão do coronavírus, medidas essas que estão sendo deliberadamente sabotadas por uma população burra e por um governo criminoso.
O músico ainda tem muita coragem de usar argumentos "liberais" para endossar as campanhas estapafúrdias de um governo que tem nítidas inspirações e aspirações autoritárias e fascistas.
Mais do que envergonhar o rock nacional, se expor ao ridículo e enxovalhar o nome de uma antiga banda importante, como Raimundos, o guitarrista e vocalista mais uma vez evidenciou o deserto de ideias e de conteúdo que assola o gênero musical.
Enquanto alucinados como Digão, Roger Moreira (Ultraje a Rigor), Lobão e o sertanejo Sergio Reis explicitam o vazio moral e a total indigência/falta de inteligência ao mergulhar de cabeça no extremismo de direita e reacionarismo, do outro lado são tímidas as manifestações de resistência aos ataques autoritários e à liberdade de expressão, bem como aos atentados à lógica e bom senso.
Quando vemos o Ira! divulgar a música "Mulheres à Frente da Tropa" dá gosto de ver ao menos uma sombra de resistência, mas é muito pouco para contrapor a escalada autoritária e extremista de direita que assola o país. Também é muito pouco pra combater a burrice que toma conta do rock nacional.
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