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A nova onda britânica que definiu o metal moderno completa 40 anos

Combate Rock

15/05/2020 06h52

Marcelo Moreira

Mais relevante e menos ambicioso do que o punk; mais duradouro e mais bem tocado do que o punk. mais rebelde e mais perigoso do que o punk.

São vários os argumentos que os headbangers elencam para mostrar o porquê de o heavy metal ser mais importante e merecer mais atenção do que o punk rock – e ainda assim os metaleiros se ressentem sobre o punk ter um lugar m,ais destacado na história.

A discussão e longa e provavelmente não vai chegar a lugar a nenhum. Entretanto, uma coisa é indiscutível: a longevidade e a "durabilidade" do metal, e isso ocorreu basicamente por conta de um movimento que ajudou a enterrar o rápido e efervescente punk: a nova onda do heavy metal britânico (new wave os britush heavy metal, conhecida pela sigla NWOBHM), que surgiu há 40 anos e tomou conta do planeta.

Nos anos 70 era simplesmente rock pauleira, quando Led Zeppelin, Judas Priest, Uriah Heep, Black Sabbath e Deep Purple, entre muitos outros, abusavam do som pesado e distorcido.

Foi então que o termo heavy metal ganhou corpo no fim da década e batizou o movimento das bandas de rock que se apresentavam como alternativa rebelde e revolucionária ao punk, mas com mais qualidade, mais peso, mais agressividade e mais conteúdo.

Abarcando alguns subgêneros do rock, a NWOBHM mostrou coerência e compromisso com uma "revolução" em um mundo em constante e rápida transformação.

O punk fez o estardalhaço e mostrou que a volta à simplicidade e a busca por novos horizontes era necessária em uma sociedade que havia absorvido e deglutido o rock e que desdenhava da desigualdade social e do avanço da pobreza mesmo nas sociedades mais abastadas.

Levando ao extremo a máxima de Neil Young – é melhor queimar logo e rápido do que ir se consumindo aos poucos -, os punks quebraram tudo e logo implodiram, deixando cacos para todos os lados e um espaço enorme para que os metaleiros resolvessem mostrar que eles eram os verdadeiros guerreiros perigosos que poderiam incomodar o sistema. E o fizeram por um bom tempo.

O rock pesado já dava as caras no underground inglês enquanto os punks dominavam tudo na segunda metade dos anos 70, mas eram underground demais, toscos demais e sujos demais. E é claro que não gostaram nenhum pouco quando os punks de butique dos Sex Pistols se tornaram os caras mais perigosos da música.

Parecia premonição, mas os punks estavam no fim do prazo de validade em 1979 e murchavam, mesmo quando The Clash lançava seus melhores trabalhos. E aí surgem os headbangers levando à frente um som pesado, sujo e contundente, mas sem a urgência e a tosqueira punk. A música era o mais importante e primordial para a revolução.

As origens até podem ser as mesmas, mas a estética e os objetivos, bem diferentes. Eram quase todos moleques pobres e desempregados na Grã-Bretanha em crise no início do governo ultraliberal de Margaret Thatcher, como os punks.

A maioria morava em cidades industriais devastadas pela economia em baixa, como Sheffield, Birmingham, Coventry, Wolverhampton, Leeds e o cinturão metropolitano de Londres.

Por uma série de motivos, não se identificavam com a delinquência punk e com a sede de destruição. Os meninos que deram o pontapé inicial à NWOBHM queriam, antes de tudo, construir. E isso ficou claro na determinação de um baixista londrino ex-jogador de futebol.

Steve Harris era teimoso em demasia e não sossegou enquanto não transformou o seu Iron Maiden em um dos pilares do movimento.

Enquanto o punk desmoronava, o Iron Maiden e uma série de microbandas de existência efêmera transformavam os clubes da periferia de Londres em um campo fervilhante de música quente, pesada e perigosa.

Ao mesmo tempo, o Saxon vinha de Barnsley e de um sucesso relativo em Sheffield para dar sustentação ao movimento nascente com seu LP e estreia e o Def Leppard abria as portas das emissoras de rádio e começava a aparecer em fanzines e revistas de música.

"Nunca se tratou de ser melhor o pior do que o punk. Esteticamente era tudo diferente, nós queríamos coisas diferentes, apesar de haver algumas coisas convergentes. Usávamos a agressividade para construir uma cena, um novo tipo de som, com certa reverência ao passado. O punk era devastação e iconoclastia e pareceu sempre ter data da validade", disse certa vez Jess Cox, ex-vocalista do Tygers of Pan Tang e dono da Neat Records em um documentário da BBC sobre a NWOVHM.

E a nova cena veio para ficar, transformando aquela agressividade e o som pesado e rápido, às vezes esbarrando no punk, no que se convencionou chamar de heavy metal moderno, ou a essência do metal, por assim dizer, já que heavy metal mesmo não existia antes, como subgênero, antes da chegada da molecada inglesa dos anos 80.

Curiosa e coincidentemente, uma das pontas de lança do movimento era um moleque punk, delinquente e pouco chegado ao próprio heavy metal. Paul Di'Anno se tornou o vocalista do Iron Maiden e, de certa forma, a cara desse novo heavy metal com sua insana presença de palco e seus berros insanos em cima de canções rápidas, icônicas e pesadas.

Honrado a máxima, o punk que não gostava muito de metal Di'Anno preferiu se autoincinerar a se consumir aos poucos e não durou muito como cantor do Iron.

Misturando um comportamento punk autodestrutivo com uma série de desrespeitos variados, foi demitido e substituído por um fã de Ian Gillan (cantor do Deep Purple) que cantava em uma banda de hard rock – seu nome é Bruce Dickinson, que era do Samson.

A fita cassete "Soundhouse Tapes", com quatro músicas, transformou o Iron Maiden na próxima grande coisa em 1979 a estourar, conduzindo o quinteto ao estúdio tempos depois para gravar e lançar "Iron Maiden" em 1980, o disco que é considerado o marco zero do metal moderno, por assim dizer.

O álbum de estreia do Saxon, "Saxon", de 1979, não explodiu, mas deu prestígio suficiente para que o quinteto ganhasse destaque em registas e jornais para ganhar um contrato interessante com uma gravadora renomada e produzisse um petardo como "Wheels of Steel".

A outra perna do tripé, o Def Leppard, de Sheffield, talvez a banda mais talhada e preparada pera o sucesso dentro da cena, aproveitava cada segundo de oportunidade e mostrava um som mais acessível, ainda que forte e denso, baseado no hard rock em "On Through the Night", que abriu as portas do estrelato antes mesmo do estouro do Iron Maiden.

Com a porta aberta, as emissoras de rádio, jornais, revistas e clubes de Londres abraçaram a novidade e transformaram a região metropolitana na capital do rock pesado.

Veteranos como Judas Priest se beneficiaram, enquanto recepcionavam grupos promissores como Tyger of Pan Tang, Demon, Angel Witch, Tank, Witchfynde General, Satan e muitos outros, que começaram a lotar as coletâneas em LP que invadiram as lojas de discos.

Se o heavy metal foi criado pelo Black Sabbath e ganhou formas também com o som pesado do Led Zeppelin e do Deep Purple, entre outros, o metal como o conhecemos hoje, em sua forma moderna, surgiu com a NWOBHM e tendo o Iron Maiden como seu representante máximo. Sem o movimento não teríamos thrash metal, black metal, death metal e todos os sub subgêneros que vieram em seguida.

Melhor e mais relevante do que o punk? Vamos dizer que é uma disputa importância. O legado dos novos metaleiros ingleses dos anos 80 é a melhor resposta para esse tipo de polêmica

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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