Topo

'Nervosa está muito forte, mas não vai virar death metal', diz guitarrista

Combate Rock

12/05/2020 06h33

Nelson Souza Lima – especial para o Combate Rock

Colaborou Marcelo Moreira

Prika Amaral, guitarrista e fundadora da Nervosa (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK)

A essa altura do campeonato todo mundo já sabe o que aconteceu com a banda de thrash metal Nervosa. Recapitulando: no meio de abril, e em plena quarentena, o trio feminino paulistano se desfez, com a saída de duas integrantes. Numa tacada só deixaram a banda a baixista/vocalista Fernanda Lira e a baterista Luana Dametto.

A notícia deixou a comunidade metálica de queixo caído, já que a banda estava em ascensão em com muito prestígio no exterior. Muitos perguntaram como seria o futuro do grupo, enquanto outros celerados/idiotas/machistas comemoraram.
Porém, surpreendentemente rápido, a guitarrista Prika Amaral, fundadora e única integrante original, anunciou nova formação da Nervosa, agora um quarteto: Prika terá como companheiras a espanhola Diva Satanica (vocal, que é da banda Bloodhunter), a italiana Mia Wallace (baixo) e a grega Eleni Nota (bateria).
Com a mudança, vários questionamentos sobre a sonoridade futura do grupo surgiram. Prika Amaral tranquiliza os fãs dizendo que não se tornarão uma banda de death metal. "A essência vai continuar a mesma, sendo uma banda Thrash, com influências de death metal. A Nervosa nasceu thrash metal e vai morrer thrash metal."
Sobre os comentários machistas e misóginos que inundaram as redes sociais, Amaral diz ignorar este tipo de pensamento. "Para mim são pessoas insignificantes. Acho válido fazer debates e conversar sobre o assunto não de modo a polemizar as coisas pra mídia conseguir audiência ou qualquer coisa assim."
A entrevista completa com Prika Amaral a seguir.
Combate Rock – Todo mundo comemorou a estabilidade da banda quando a Luana entrou, já que a bateria parecia ser um problema crônico. No entanto, você diz que os últimos dois anos foram difíceis. Como foi possível conduzir as coisas neste período?
Prika Amaral – Conduzir as coisas nesse período de dois anos, quando as coisas mudaram um pouco e estavam diferentes, foi tranquilo porque, afinal de contas, somos profissionais e tínhamos um objetivo em comum, que era cumprir todas as atividades de forma profissional. Nosso relacionamento era normal, não era que não nos falávamos ou coisa assim. Só não tínhamos tanta proximidade, mas foi tranquilo.
CR – Nas entrevistas e no palco, parecia haver um bom entrosamento entre você e Fernanda. Em que momento a coisa desandou?
PA – Não houve um momento em que a coisa desandou. Dentro de um relacionamento longo, uma amizade longa, são coisas que vão se acumulando durante os anos, vão somando. Então não existe um momento em que tudo mudou. São coisas naturais que vão rolando ao longo do tempo e também porque desde o começo sempre houve uma diferença de ideias, gostos e coisas que  se acentuaram com o tempo.
CR – Querendo ou não, a notoriedade que vocês obtiveram as tornaram um símbolo dentro do rock nacional pelas bandeiras que levantavam, principalmente a questão do empoderamento feminino e a valorização da mulher dentro da sociedade. Esse engajamento afetou as relações dentro da banda?
PA – Esse engajamento jamais afetou a relação dentro da banda porque isso era um consenso, uma ideia em comum que as três tinham. Somos mulheres e batalhamos por nossos direitos. Isso sempre foi falado dentro da banda e, naturalmente, toda mulher tem interesse em falar sobre isso. Então foi uma coisa natural, nunca foi um problema, muito pelo contrário, sempre foi uma solução dentro do grupo.
CR – Rock in Rio e Wacken sempre foram objetivos importantes de qualquer banda de metal. Até que ponto você acha que objetivos foram alcançados com a formação anterior e o que deixou de ser feito?
PA – A gente tinha muitos objetivos, muitos deles alcançados. Os que ainda não foram alcançados estamos vivas pra conseguir, seja com a Nervosa ou outros projetos todo mundo é capaz de conseguir suas coisas. De correr atrás e fazer um trabalho bom.
CR – A separação provocou uma enxurrada de comentários machistas, misóginos e preconceituosos contra a Nervosa. Nada de novo para vocês, embora a proporção tenha assustado e mostrado que o metal brasileiro ainda tem muita gente desrespeitosa e tosca. Como isso a afetou com o desfecho da antiga formação?
PA – Isso foi mais uma questão da mídia, que polemizou alguns poucos comentários do que realmente foi. O post tá lá na nossa página pra quem quiser ver todos os comentários. Se fizermos uma comparação, não estamos falando nem de 10% das pessoas que falaram todas essas idiotices. Eu acho que estão dando muita atenção pra uma minoria insignificante. Para mim, são pessoas insignificantes. Ignoro totalmente este tipo de pensamento e pessoa. Acho válido fazer debates e conversar sobre o assunto não de modo a polemizar as coisas pra mídia conseguir audiência ou qualquer coisa assim. Acho bem negativo como estão abordando o assunto. Por isso mesmo estou desenvolvendo com minha amiga Fernanda Ferrer, da Metal Domination, uma série de vídeos em que no futuro abordaremos esse assuntos mais profundamente, de maneira mais consciente e menos sensacionalista.
CR- Com novas integrantes, muita gente teme mudanças radicais, como uma guinada ao death metal, ou uma suavizada no som. O baixo da Fernanda casava bem com sua guitarra, era a característica no som da Nervosa. É possível que tenhamos um vocal menos extremo ou então uma segunda guitarra?
PA – A essência da Nervosa vai continuar, sendo uma banda thrash, com influências de deathl. Não vamos nos tornar death metal. A Nervosa nasceu thrash metal e vai morrer thrash metal, claro com influências do death, pois sempre teve isso desde o início do grupo. No lance do contrabaixo vamos dar uma mudança sim, já que a Mia Wallace tem outro estilo, que na verdade era o que eu procurava e que vai dar uma preenchida a mais no som, na parte de solos e tudo mais. Vai dar uma preenchida. A ideia é que o baixo soe um baixo/guitarra, uma segunda guitarra. E como já anunciei a nova formação, não terá uma segunda guitarra neste momento.
CR – Neste momento terrível que o planeta atravessa com a pandemia da Covid -19 como foram os contatos com as pretendentes a ingressar na Nervosa?
PA – Já que estamos em quarentena, os contatos foram e estão sendo todos pela internet. E assim foi, fui falando com as meninas, fazendo ligações de vídeo, fizemos testes, mandaram áudios, vídeos cantando e tocando as músicas. E assim foi feita a seleção: a base de muita conversa e muitos testes.
CR – Não dá pra saber quando as coisas voltam ao normal. Provavelmente só pra 2021 que teremos shows e eventos. Você teria algum lugar o qual gostaria de fazer o show com a nova formação. Digo algum lugar que seria significativo para banda.
PA – Bom, ainda não é certeza, 100% de certeza que nenhum show vai acontecer em 2020. É bem provável, pela gravidade da situação, mas ainda não é certeza. Ainda temos shows marcados mais para o final do ano e estamos no aguardo pra ver se acontece ou não. Depende de muita coisa e nós queremos tocar em todos os lugares. Agora com esta nova formação eu quero tocar em todos os lugares que já toquei. Nova fase, então a gente quer mostrar trabalho novo. Então queremos tocar em todos os lugares e também onde ainda não tocamos.
CR – Que recado você pode deixar para os fãs?  
PA – Quero muito agradecer os fãs por todo apoio que estão nos dando. Se pegar o anúncio da nova formação tivemos uma aprovação de 95%. A galera super empolgada e feliz com a nova formação. Então só tenho a agradecer por acreditarem na gente e continuarem apoiando. A Nervosa tem os melhores fãs e tá sendo maravilhosa essa experiência de trocar, renovar e ter oportunidade de conhecer um monte de meninas novas que tocam muito. Tá sendo muito positivo e só tenho a agradecer. E também agradeço vocês pelo espaço e a  oportunidade de falar sobre tudo. Muito obrigada.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock