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Derek and the Dominos, 50 anos: quando Eric Clapton quis se esconder

Combate Rock

19/04/2020 06h37

Marcelo Moreira

Na esteira das comemorações do aniversário de 75 anos de Eric Clapton e dos 50 anos do início de sua carreira solo, é bom lembrar um de seus projetos mais conhecidos nem tanto pelo nome, mas pela música emblemática que lançou – a linda e desesperada "Layla".

Ao mesmo tempo em que lançava o seu primeiro disco solo há 50 anos, paralelamente Clapton se dedicava ao projeto paralelo Derek and the Dominos, que nada mais era do que uma banda que lhe dava suporte.

Há criação do Derek and the Dominos foi reflexo de sua passagem pela banda dos amigos Delaney e Bonnie Bramlett, que tinham uma banda meio mambembe/circense que percorria os Estados Unidos tocando country e blues.

Com o fim traumático do Blind Faith, em 1969, e as lembranças ruins do Cream, encerrado em 1968, o guitarrista inglês tinha o sonho de apenas ser um integrante a mais de uma banda. Não queria mais ônus da liderança e do peso que seu nome tinha no show business.

Por um tempo ele ficou quase anônimo com a banda dos Bramletts e gostou da ideia. Resolve formar um conjunto onde ele apenas fosse o guitarrista e compositor, um integrante como outro qualquer.

Claro que não seria assim. Mesmo se escondendo atrás de um "pseudônimo", Clapton cantava, tocava guitarra e compunha quase tudo ao lado de amigos recentes – o baixista Carl Radle, o pianista e tecladista Bobby Whitlock e o baterista Jim Gordon.

Já mergulhado em vários problemas emocionais e existenciais, apaixonado pela mulher do melhor amigo – Patti Harrison, esposa do ex-beatle George Harrison -, Clapton estava cada vez mais atolado nas drogas e no álcool, que culminariam em um autoexílio que duraria três anos, de 1971 a 1974.

Derek and the Dominos fez shows e lançou apenas um álbum, o extraordinário "Layla and Other Assorted Love Songs", além de um duplo ao vivo lançado após o fim do projeto.

Olhando em perspectiva, foi um projeto que tinha duração curta em razão da tumultuada vida pessoal e criativa de Clapton, cada vez mais incomodado com a fama, com fim do mundo idílico que os hippies imaginavam criar e com o cada vez mais agressivo domínio do mundo dos negócios sobre a música. Foi a válvula de escape que ele talvez imaginasse amenizar suas angústias criativas na busca de um norte.

A origem do nome "Derek and the Dominos" foi alvo de diversas histórias diferentes com o passar dos anos. De acordo com Jeff Dexter, amigo de Clapton e mestre de cerimônias de Delaney & Bonnie, o grupo permanecia anônimo quando de sua estréia ao vivo em 14 de junho de 1970 no Lyceum Theatre em Londres, sendo chamados simplesmente de "Eric Clapton and Friends".

Ele perguntou então se não teriam um nome melhor, no que Clapton e Harrison concordaram, surgindo com Derek and the Dominos. Whitlock, no entanto, afirma que após deixar o palco no final daquela primeira apresentação, Tony Ashton, do trio Ashton, Gardner and Dyke, havia simplesmente pronunciado o nome provisório de "Eric and the Dynamos" como "Derek and the Dominos".

 Outra versão emergiu na autobiografia de Clapton, onde o guitarrista mantém que foi Ashton quem lhe sugeriu o nome "Del and the Dominos" (sendo "Del" um apelido de Clapton). Del e Eric foram então combinados, dando origem ao nome Derek.

Um nome fundamental para o bom resultado nas gravações de metade do álbum foi Duanne Allman, dos Allman Brothers, outro amigo recente de Clapton. Allman, que morreria tragicamente um ano depois em um acidente de trânsito, chegou a ser convidado para sero segundo guitarrista do grupo, mas preferiu ficar na sua banda original.

A profunda conexão musical e espiritual entre Clapton e Allman ajudou a melhorar o ambiente, mas não as angústias e exasperações. O lançamento do álbum e a turnê norte-americana de 1970 não deram os resultados esperados, o que aprofundou o comportamento depressivo do guitarrista inglês.

"Éramos uma banda de faz-de-conta. Estávamos todos nos escondendo dentro dela. Derek and the Dominos—a coisa toda… era falsa. E como tal não poderia durar. Eu tive que aparecer e admitir que era eu. Quer dizer, me tornar Derek foi um disfarce para o fato de que eu estava tentando roubar a mulher de outra pessoa. Essa era uma das razões daquilo, para que eu pudesse escrever aquelas músicas, e até mesmo usar um outro nome para Patti", disse o guitarrista em m depoimento para o livro "Rocking My Life Away", de Anthony Decurtis.

Derek and the Dominos (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A receptividade morna do álbum decretou o fim da banda, mesmo que os shows fossem concorridos nos Estados Unidos. "Layla", a canção, virou um clássico do rock e um sinônimo de canção de amor inspirada, mas não foi o suficiente para catapultar as vendas da obra.

Outras pérolas contidas no dico são "Tell the Truth", outra canção desesperada de amor, "Bell Bottom Blues", m claássico da melancolia roqueira, potentes versões de blues maravilhosos, como "Nobody Knows You When You're Down and Out" (de Jimmie Cox), "Have You Ever Loved a Woman" (canção de Billy Myles gravada originalmente por Freddie King) e "Key to the Highway" (William 'Big Bill' Broonzy).

Não dá para saber ao certo porque o álbum fracassou diante de sua qualidade. O que é possível perceber, com o próprio Clapton identificou décadas depois, é que que não tinha com dar certo com todos os envolvidos fora de órbita e com a cabeça em outro lugar. Mesmo assim, Derek and the Dominos e seu álbum único são um marco importante dentro do rock.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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