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Angus Young, 65 anos: energia em forma de solos de guitarra

Combate Rock

02/04/2020 06h49

Marcelo Moreira

FOTO: DIVULGAÇÃO

O pequeno monstrinho era diferente dos outros tantos irmãos. Era marrento e briguento quanto todos eles – uma trupe durona que saiu da Escócia para morar na Austrália nos anos 50 -, mas o mais jovem de todos era o mais chato, desencanado e individualista, a ponto de viver tretando quase sempre com os dois imediatamente mais velhos – ironicamente, os dois com os quais faria uma parceria das mais importantes da história do rock.

Angus Young comemora 65 anos de idade em uma posição incômoda. Agora é o chefe do AC/DC, depois do afastamento do irmão Malcolm, dois anos mais velho, em 2012 or questões de saúde – e que morreria quatro anos depois.

Ele nunca precisou comandar. Apenas mandava, junto com Malcolm, que era quem tomava conta de tudo e todo o resto. Angus opinava, mandava de vez em quando e partia para o palco e para estúdio tocar e solar – e encantar.

Depois de um monte de turbulências desde a saída de Malcolm, o AC/DC parece estar retomando a trilha de sempre. As notícias veindas dos Estados Unidos dão conta de que um álbum novo está para ser lançado após quatro anos de silêncio – "Rock or Bust" é de 2015.

Álbum de boa qualidade, acabou por ser o primeiro em que pratcamente Angus fez tudo, sem o apoio do irmão, que já estava afastado e bem mal.

Quase nada deu certo: o álbum vendeu menos do que o esperado, o vocalista Brian Johnson foi diagnosticado com um problema auditivo grave e não pôde sair em turnê e o baterista Phil Rudd, acusado de participação em uma tentativa de homicídio, foi preso na Nova Zelândia.

Ambos foram demitidos de forma pouco elegante e foram substituídos respectivamente por Axl Rose (Guns N'Roses) e Chris Slade (ex-AC/DC entre 1987 e 1994). Desgostoso e desanimado, o baixista Cliff Williams, na banda desde 1977, avisou que se aposentadoria ao final da turnê.

Ao que parece, tudo está como antes, com as voltas dos demitidos e do aposentado. No lugar de Malcolm permanece o sobrinho Steve, que tem quase a mesma idade de Angus. É uma boa dupla de guitarras e o sobrinho se esforça muito para repetir a base precisa e pesada de Malcolm, mas sabe como é, né…

Enquanto luta para tirar o AC/DC do longo inferno astral, Angus Young continua saboreando as constantes eleições como um dos guitarristas mais brilhantes de sua geração e de todo o rock.

E pensar que quase ficou e fora da banda por causa das tretas com Malcolm. Dependendo do livro que se lê sobre o AC/DC, sabemos que foi George Young, o irmão famoso (cantor e multi-instrumentista dos Easybeats), quem deu um empurrão para que os mais novos se juntassem.

Seis anos mais velho do que Malcolm e oito, em relação a Malcolm, George tinha se tornado um experiente produtor musical na Austrália e farejou qualidade naquilo que viria se tornar o AC/DC no final de 1973.

George não gostava muito de lidar com o pirralho caçula, mas entendeu que as duas usinas de riffs e solos dos irmãos mais novos eram a chave de algo que poderia ser diferente na Austrália atrasada, ainda presa ao pop comercial e ao som dos anos 60.

Malcolm era o chefe e George, o mentor, mas Angus parecia ser o dínamo que faltava ao inconstante grupo que viri a se chamar AC/DC. O som ficou mais pesado, mais rápido e mais violento. Não havia nada parecido na Austrália.

E foi com a chegada de um cantor de rock fracassado e ex-motorista de van que o grupo finalmente explodiria a partir de 1975.

Bon Scott era bem mais velho do que o resto do grupo – tinha a idade de George Young -, mas se ajeitou como pôde e começou a contribuir com letras sacanas e divertidas, complementando o que já era diferente e abusado.

Vestido como um garoto de escola primária – saindo da escola, não teve tempo, anos antes, de trocar de roupa antes de um show -, mostrou o poder da guitarra em um mundo que parecia cansado dos grandes nomes de sempre e do rock progressivo. Ou era a disco music ou o punk rock.

Angus e o AC/DC optaram por um outro caminho e resgataram o rock básico movido a adrenalina, energia e guitarras furiosas. E se tornou um dos heróis de todos os tempos.

Era básico nos anos 70 e começo dos anos 80: todo garoto que sonhava com o rock queria ser um integrante do Kiss ou ter uma guitarra Gibson SG preta como a de Angus Young, tocar como Angus Young e detonar como Angus Young.

"Ele foi para uma geração o ue Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy page e Jimi Hendrix foram para uma galera de duas gerações anteriores. Era o espelho, o exemplo e tudo o que se esperava do rock em cima do palco. Nunca era menos de 100%. Angus e Eddie Van Halen foram os últimso heróis do classic rock", diz Valter Mendes Júnior, ex-guitarris

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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