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Um 'salve' para o ministro Moro, que conseguiu unir o rock nacional

Combate Rock

29/02/2020 12h01

Marcelo Moreira

Quem diria que um dos adversários mais odiados e contestados do governo ultraconservador e de inspiração fascista seria o autor de uma façanha no rock nacional: uma quase inédita união de forças em um gênero marcado por isolamentos e pouca cooperação entre as bandas.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, ao endossar e aprovar investigação sobre cartazes do festival Facada Fest, em Belém (PA), com alusões ao presidente Jair Bolsonaro, com direito à convocação para depor, na Polícia Federal, dos organizadores do evento.

O Facada Fest é um festival de bandas punks e de hardcore surgido em 2017 e que se espalhou pelo país a partir de então – há edições em Marabá (PA), Curitiba (PR), Maringá (PR) e Campinas (SP), entre outras cidades.

No ano passado, a edição de Belém quase foi impedida de ocorrer por intervenção da Polícia Militar sob alegação de que o local dos shows não tinha autorização/alvará para receber o evento.

Cartaz do Facada Fest

Entretanto, dias antes, vários deputados estaduais bolsonaristas e um dos filhos do presidente protestaram e acionaram o Ministério Público paraense contra os organizadores por conta dos cartazes de divulgação, considerados ofensivos a Bolsonaro. Os pedidos não foram acatados, e a ação da PM foi entendida como uma perseguição ao rock e à liberdade de expressão.

A "investigação" contra o Facada Fest de Belém causou indignação – como quase todas as ações deste pútrido, fétido e nojento governo federal bolsonarista – que uniu o meio musical contra a tentativa de perseguição. Várias bandas de rock compartilharam imagens de cartazes das várias edições do festival detonando o presidente da República. Até mesmo artistas de outras vertentes musicais e outras áreas se manifestaram contra Moro e Bolsonaro, por tabela.

Até que demorou pra que tivéssemos uma reação mais vigorosa contra o governo Bolsonaro, que tem inspiração autoritária. Foram vários os episódios de perseguição e atentados à liberdade de expressão contra a cultura e a música desde o ano passado.

Vários artistas têm se manifestado contra esses ataques, mas o rock e o meio musical em geral mantiveram um incômodo silêncio que vem desde a campanha eleitoral de 2018.

Uma das mais ativas desde sempre nos protestos e denúncias contra o governo nefasto é a banda Garotos Podres, prestes a completar 40 anos de atividade dentro do punk rock paulista e brasileiro.

Os integrantes já tinham manifestado apoio ao facada Fest no ano passado, quando da intervenção policial, e o fizeram novamente agora, com a perseguição do Ministério da Justiça ao compartilhar as imagens contestadas e postar nas redes sociais outras que foram criadas para protestar contra Bolsonaro.

Se houve algum fato positivo neste lamentável (mais um) episódio de atentado à liberdade de expressão foi a união em torno dos organizadores do Facada Fest e contra qualquer tipo de restrição aos direitos civis, além de exigir o cumprimento da Constituição.

Provavelmente, foi a única medida "elogiável" do deplorável mandato de Moro como ministro: ele conseguiu unir o disperso e individualista mundo do rock nacional.

 

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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