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'Black Sabbath', o marco zero do heavy metal, completa 50 anos

Combate Rock

23/02/2020 06h26

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

O dia 13 de fevereiro de 2020 marca os 50 anos daquele que é o primeiro álbum do Black Sabbath. Denominado simplesmente "Black Sabbath", o disco representa não apenas o trabalho inicial de estúdio da lendária banda britânica, mas também simboliza o início de um dos gêneros com mais apreciadores de toda música: o heavy metal.

Representante da tríade sagrada do rock pesado, que conta também com o Deep Purple e o Led Zeppelin, o Black Sabbath foi o grupo que trouxe o álbum de estreia bem depois dos outros dois.

Enquanto o Deep Purple já havia lançado três discos e ainda não tinha Ian Gillan nos vocais e enquanto o Led Zeppelin já havia trazido seus dois primeiros álbuns, entre eles o pesado e essencial "Led Zeppelin II", dando a deixa ainda no fim dos Anos 60 do que poderia vir na década seguinte, o Black Sabbath já iniciou carreira e
os Anos 70 com o pé na porta, com um som um pouco mais pesado.

Trazendo elementos soturnos e densos a um rock pesado para a época, o Black Sabbath inovou porque incorporou histórias de terror às letras num período no qual isso era bem mais perturbador para a sociedade do que nos tempos atuais.

O mundo ainda se recuperava da revolução musical que outras bandas e nomes fundamentais para o rock, como Beatles, Rolling Stones, The Who e Jimi Hendrix, já haviam realizado. Purple, Led e Sabbath viriam para deixar tudo mais pesado e semear o terreno para outros nomes decisivos para o heavy metal, como o Judas Priest e o Motörhead.

No caso do Black Sabbath, toda a atmosfera da cidade britânica de Birmingham contribuiu para que quatro jovens nascidos após a Segunda Guerra Mundial trouxessem os elementos que marcaram a banda e foram os pilares para o heavy metal.

O guitarrista Tony Iommi sempre foi a alma e mente criadora dos riffs que moldaram a banda e o heavy metal. O baixista Geezer Butler trazia, além de uma pegada bastante pesada em seu instrumento, as ideias e letras que vinham de gosto particular por romances de terror.

O baterista Bill Ward trazia, ao mesmo tempo, um peso peculiar ao seu instrumento, ao mesmo tempo em que conseguia estabelecer um som cadenciado, quando necessário. O vocalista Ozzy Osbourne era um caso à parte, já que encontrou na música uma razão para dar um jeito na sua vida turbulenta, bem ao estilo jovem desajustado e sem muitas perspectivas.

Nome

Importante destacar que, antes de adotar o nome Black Sabbath, o grupo chegou inicialmente a usar o estranho nome de Polka Tulk Blues Band e, depois, de Earth.

O nome Black Sabbath veio do filme de mesmo nome, cuja versão em português ficou conhecido como "As Três Máscaras do Terror". Dirigida por Mario Bava e estrelada por Boris Karloff, a película de terror de 1963 foi homenageada pelos quatro jovens de Birmingham.

Capa

A foto que estampa a capa do álbum é de autoria do fotógrafo Marcus Keef. Ele também fez a capa de discos importantes da época, como "The Man Who Sold The World" (1970), de David Bowie, "On The Level" (1975), do Status Quo, e "Paranoid", do próprio Black Sabbath.

Soturna, a capa traz uma mulher com um visual que remete à bruxaria em frente a uma casa, na verdade um moinho, com um visual aterrorizante, situado nas imediações de Reading, cidade britânica que fica a 65 quilômetros de Londres.

Black Sabbath em 1970: em cima, da esq. para a dir., Geezer Butler, Bill Ward e Ozzy Osbourne; Tony Iommi está sentado (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O álbum

A versão original britânica do álbum de estreia do Black Sabbath traz 7 músicas, duas delas covers: "Evil Woman", da banda Crow, e "Warning", do baterista Aynsley Dunbar.

A faixa inicial "Black Sabbath" vale o álbum inteiro. Desde os sons de sino e tempestade até a parte que traz a guitarra inconfundível do mestre Iommi, passando pelas batidas de Bill Ward e chegando ao vocal diferenciado de Ozzy Osbourne, tudo ali gera um sentimento que prende quem está ouvindo a música. Você pode até odiar, mas não passará ileso por esta canção.

Para a maior parte dos fãs da banda e do heavy metal, o álbum é inferior, por exemplo, ao disco seguinte "Paranoid", que seria lançado meses depois e no mesmo ano de 1970. Mas a faixa "Black Sabbath" é tão forte e tão representativa que faz o disco tomar proporções gigantescas.

Quem esteve no histórico show que o Sabbath realizou em São Paulo em 2013 para 70 mil pessoas no Campo de Marte teve a exata noção do poder desta música. O momento em questão, para muitos, foi o maior de todo o show, pois o que se viu foi uma contemplação de algo muito representativo.

Enquanto Tony Iommi tirava os acordes e Ozzy cantava, a impressão era de que o planeta havia momentaneamente parado de rodar para que a origem do heavy metal fosse apreciada por todos.

Se, em 2013, as pessoas contemplaram em silêncio e paralisadas a canção, imagine ouvir isso em 1970, num mundo que ainda se acostumava com as experiências mais exóticas do rock pesado. "Satan's sitting there, he's smiling" ("Satã ali sentando, ele está sorrindo", em tradução livre), diz a letra em pleno fim da década de 60!

Se terminasse ali, o álbum já valeria o dinheiro gasto, mas há outras faixas com qualidade. "The Wizard", a segunda música, e "N.I.B.", a quarta, são canções coadjuvantes em relação à faixa-título, mas são de grande qualidade.

Enquanto "The Wizard" traz toda a qualidade da banda e um entrosamento interessante dos quatro integrantes, "N.I.B.", traz o mesmo cenário e também uma letra pra lá de interessante, com Lúcifer apaixonado e cortejando seu primeiro amor. "Olhe em meus olhos, você verá quem eu sou. Meu nome é Lúcifer, por favor segure minha mão."

A terceira faixa do disco, "Behind the Wall of Sleep", assim como a sexta, "Sleeping Village", não tem o mesmo brilho das demais já citadas, mas estão muito longe de uma classificação de fracas ou ruins, assim como as duas músicas covers.

Na avaliação da maioria dos fãs e críticos de música, o Black Sabbath evoluiria demais nos álbuns seguintes e consolidaria o caminho das pedras do heavy metal para todos os seguidores. O primeiro disco, porém, estava ali para deixar marcado para sempre a pedra fundamental do heavy metal.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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