A ressurreição do necessário Hangar 110 e novidades no ABC
Marcelo Moreira
Depois de um período complicado em que algumas casas noturnas roqueiras da Grande São Paulo deixaram de existir ou mudaram de perfil, dois locais icônicos voltarão à ativa neste ano.
Em anúncio publicado nas redes sociais, os proprietários do Hangar 110, conhecida por abrigar shows punks e de metal extremo, anunciaram a reabertura da casa em 1º de março.
No ABC, na Grande São Paulo, um anúncio misterioso, também nas redes sociais, informa que a "casa mais roqueira da região voltará em um endereço nobre, na avenida Pereira Barreto, 530, em Santo André".
Quando ao Hangar 110, os proprietários escreveram que, "além de ser o lugar que sempre amamos, o Hangar é também uma 'ideia'. Por isso, lutamos muito para que essa ideia não se transformasse em um galpão vazio, um estacionamento ou uma igreja". Com o fechamento do espaço de shows, o Hangar 110 atuou apenas como produtora de eventos.
A casa abrigou memoráveis espetáculos, como superlotados shows de Ratos de Porão, Garotos Podres e quase todas as principais bandas punks e hardcore do Brasil, além de atrações internacionais – Jello Biafra (ex-Dead Kennedys), Stiff Little Fingers, Cannibal Corpse, Behemoth e Mayhem.
Bem localizado nos limites dos bairros Bom Retiro e Ponte Pequena (rua Rodolfo Miranda, 110, próximo a uma estação de metrô), nas imediações do centro de São Paulo, o Hangar 110 funcionou por 19 anos e criou uma aura de local alternativo, criando uma cultura própria e com prestígio extrapolando as fronteiras do Brasil. Virou referência nacional em termos de cultura e entretenimento.
"O Hangar 110 é a casa do underground paulistano, é lenda e necessário para quem curte bom rock'n'roll e quer se divertir de uma forma diferente", disse certa vez José "Mao" Rodrigues Júnior, vocalista dos Garotos Podres.
Longe dos padrões das chamadas "danceterias" que pipocam e somem na noite paulistana, sempre foi charmoso por sua tosquice e instalações "docemente precários", tentando (e conseguindo) emular alguns muquifos punks de Londres, Birmingham e Berlim. Confortável? A galera só queria saber de se divertir.
Por mais que a casa sempre lotasse com os inúmeros shows, houve um momento em que a conta não fechava, segundo pessoas próximas aos proprietários. A quantidade de frequentadores diminuiu com a crise econômica assim como ocorreu com várias casas de muitos locais do Brasil.
A situação não melhorou, mas é fantástico que o casal Cilmara e Marco Baldin tenha tomado coragem para embarcar de novo no sonho de manter viva a mais underground casa do rock da cidade.
No ABC, houve um tempo em que o Central Rock Pub, em sua encarnação na avenida José Amazonas, perto do Paço Municipal de Santo André, era um dos pontos mais quentes da região, recebendo bandas importantes nacionais e internacionais em seu palco. Foi lá, por exemplo, que o Viper fez o seu primeiro show após o anúncio do retorno definitivo, em 2012.
O mistério sobre o "retorno da casa mais rock do ABC" continua, mas existe uma boa chance de que o Central Pub volte à ativa em um local mais comercial, longe das reclamações dos vizinhos por conta do barulho e da concentração de roqueiros.
Hoje o rock está espalhado por alguns locais menores, como o Santo Rock (no bairro Jardim) e 74 Pub, que recebem shows de pequeno e médio portes, enquanto que A Gruta, no centro, se tornou o ponto de encontro dos artistas brasileiros e estrangeiros de passagem pela região, com shows acústicos de vez em quando. Já o Volume 4, no Parque das Nações, é mais underground e faz o estilo botecão.
Na vizinha São Bernardo o rock desapareceu dos palcos dos bares. Só é possível ver algum show underground na Casamarela, em seu novo endereço, em uma travessa da badalada avenida Kennedy, ao lado do Liverpool Pub.
Nas imediações, tem o Retrô, com seu palco minúsculo para bandas cover, e o Brand New Pub, também para bandas cover e shows intimistas de jazz e blues.
Se for apenas para ouvir rock no som da casa, além dos locais citados, há os interessantes Liverpool Pub, Barthô (centro), Galeteria Metrópole, André Bar e Bar do Freguês (todos no bairro Nova Petrópolis) e a minúscula, mas aconchegante, Taverna Vieira (Baeta Neves).
Em São Caetano, a tradição roqueira ainda sobrevive com o Duboie, em outro endereço no centro da cidade (rua dos Goitacazes, 33). O local é praticamente o único porto seguro para o rock na cidade, que mergulhou, faz tempo, no sertanejo e no pagode. Há três ou quatro pubs recentes na cidade, onde não é muito comum ouvir rock e blues.
A grande notícia do ABC, no entanto, é o surgimento do Container Pub Stop, que faz parte de um conglomerado underground que dá excelente apoio a bandas de rock de todos os tipos. Hoje é, provavelmente, o melhor local do ABC para ouvir bandas autorais dentro de sua programação diversificada.
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