Discurso embolorado e arcaico turva o futuro da cultura
Marcelo Moreira

Regina Duarte como a personagem Viúva Porcina, da novela 'Roque Santeiro' (foto: divulgação/Globoplay)
Há imensas dúvidas na maioria das pessoas que se interessam por cultura sobre o que esperar da atriz Regina Duarte no comando da área no governo federal. Será que espantará os espíritos nazistas de seu antecessor? Que tipo de fomento será implantado? O ultraconservadorismo bolsonarista vai predominar?
Agora que finalmente a atriz aceitou o cargo de secretária de Cultura do Ministério do Turismo, essas e outras milhares de perguntas surgem a cada minuto.
Se parte da classe artística condena a sua adesão ao bolsonarismo de forma integral – especialmente suas posições controversas e retrógradas -, há uma parcela de seus colegas que vibram com a sua nomeação, como os atores Luiz Fernando Guimarães, Maitê Proença e Carlos Vereza.
Entre a "oposição", a cantora Zélia Duncan foi a mais contundente. Uma ácida crítica do governo Jair Bolsonaro, ela lembrou, em vídeo recente, que Regina encarnou a personagem "Malu Mulher" na série de mesmo nome nos anos 80, que era um libelo a favor da mulher moderna e empoderada, que defendia um feminismo coerente e necessário diante de um mundo em mudanças e profundamente machista.
Em nenhum momento Zélia Duncan ou qualquer crítico atacou o direito constitucional e democrático de Regina Duarte ser o que quiser e apoiar quem quiser.
As críticas são pela opção de participar de um governo incompetente e de inspiração autoritária, cujo aparelhamento ideológico coloca em risco políticas culturais importantes, para ficar apenas na cultura. Não bastasse isso, é um governo que celebra a censura e vive ameaçando usá-la.
Regina Duarte está sendo atacada, entre outros motivos, por ser uma para-quedista em um governo sem rumo, numa tentativa de dar respeitabilidade em um segmento vilipendiado, desmobilizado e depredado pelo próprio governo.
Ela concordou em ser um boneco ao emprestar sua imagem para que Jair Bolsonaro tente esterilizar uma área contaminada pela inação, ideologização e paralisia, tudo ao som de uma ópera de Richard Wagner e de ideias nazistas que empesteiam o ambiente.
A atriz (ou ex-atriz) está sendo cobrada pela absoluta falta de ideias para assumir um cargo importante na administração federal. Sua inexperiência na gestão pública é total. Não tem planejamento algum e sequer sabe o que o presidente Bolsonaro quer para a área da cultura.
As expectativas são as piores possíveis. Ela já demonstrou, ao longo dos anos, que apoia variantes diversas de censura e de desenvolvimento de um certo apoio a uma "arte que promova bons valores", seja lá o que isso signifique. Será mesmo que algumas das novelas que protagonizou na TV Globo disseminavam os tais "bons valores" que ela preconiza?
Pouco disposta a debater e sem condições para argumentar, a nova secretária de Cultura parece desconhecer os rudimentos básicos da administração pública e crê que suas ideias, se é que têm algumas, serão fácil e plenamente implementadas.
O que podemos imaginar é que o básico da cartilha bolsonarista continuará a ser implantada, com preconceito a certos tipos de obras, discriminação de trabalhos que não estejam em "conformidade com os ideais e conservadores" e censura por motivos ideológicos e morais.
Portanto, as chances de que nada vai mudar na política oficial de cultura são enormes.
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