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Son of Apollo, Opeth, Tool e o renascimento do prog metal

Combate Rock

14/01/2020 07h00

Marcelo Moreira

Quando as bandas norte-americanas Queensryche e Fates Warning surgiram nos anos 80 demoraram um pouco para serem levadas a sério. Aquilo que se convencionou chamar de metal progressivo, anos depois, era ousado demais para um mercado dominado por bandas de hard rock "farofa" e um som repleto de excessos de produção.

Curiosamente, foi necessária a explosão do thrash metal californiano para que as qualidades das duas bandas ganhassem alguns holofotes e influenciassem toda uma geração de grupos que mesclavam o melhor dos dois mundos nos anos 90, começando por Dream Theater e Symphony X.

Com altos e baixos desde então, o metal progressivo vivia de espasmos do próprio Dream Theater, o principal nome do subestilo, mas fervilhava no underground metálico, com nomes tão distintos quanto Between Buried and Me, Animal As Leaders, TesseracT, Coheed and Cambria e muitos outros.

O ano de 2019 foi um daqueles em que o subgênero teve muito destaque por conta da qualidade dos grandes lançamentos, a começar por "Distance Over Time", do Dream Theater, que chegou às lojas em fevereiro. Tem a qualidade de sempre, bem alta, mas não arrancou suspiros dos fãs, que esperavam algo mais "genial", digamos assim.

Foi o segundo semestre que registrou uma profusão de lançamentos de prog metal de alta qualidade, e o melhor de todos, na verdade, é um CD que será lançado apenas na segunda quinzena de janeiro de 2020, mas que chegou aos ouvidos de alguns jornalistas do mundo inteiro e "vazou" em alguns sites selecionados de downloads ilegais.

"MMXX", do Sons of Apollo, certamente se tornará um clássico do subgênero pela qualidade das oito músicas e pela excelência da performance do quinteto.

Se no primeiro álbum do supergrupo – Jeff Scott Soto (vocais, ex-Yngwie Malmsteen, Talisman), Mike Portnoy (bateria, ex-Dream Theater), Billy Sheehan (baixo, ex-Mr. Big), Derek Sherinian (teclados, Black Country Comminon, ex-Dream Theater) e Ron "Bumblefoot" Thal (guitarra, ex-Guns N'Roses) – os teclados e arranjos bombásticos predominavam (Sherinian é um dos fundadores), agora as guitarras ganham proeminência e trazem um trabalho extraordinário.

O primeiro single, "Goodbye Divinity", é uma das melhores canções de heavy metal lançadas nos últimos anos. É pesada, densa e possui várias mudanças de ritmo que atordoam o ouvinte. Portnoy mostrou que está em ponto de bala e que certamente quis dar mais uma demonstração de força e criatividade para os eternos fãs do Dream Theater e para os seus críticos.

"Quando eu me juntei a Sherinian para criar a banda tínhamos em mente fazer algo que conseguimos com sucesso em nosso tempo juntos Dream Theater: um metal clássico com muitas doses de progressivo e peso que mexesse com as estruturas. Formada, a banda enveredou por um caminho um pouco diferente. É metal progressivo, só que mais pesado que o Dream Theater, o que nos distancia bastante do que vem sendo feito atualmente", afirmou empolgado o baterista em recente passagem pelo Brasil, quando excursionou com o Noturnall.

"Fall to Ascend", o segundo single, também é poderosa, com riffs de guitarra bem construídos e um baixo trovejante, em um dos trabalhos mais impactantes de Sheehan nos últimos anos.

Outro destaque é a épica "New World Today", copm seus majestosos 15 minutos de duração e encadeada de forma a conter várias "suítes". Aqui a influência do Dream Theater é nítida, não só na estruturação da longa canção mas também na temática esóterico-ambiental. Portnoy sentem-se à vontade em seu habitat, carregando a faixa de influências de Yes, Genesis e King Crimson.

"Wither of Black" e "Desolate July" são mais simples, mas trazem boas ideias de riffs e arranjos, e são as canções onde Soto domina e demonstra suas inegáveis credenciais. Muito à vontade, passeia por diversos tons e timbres, em um trabalho vocal que poucos artistas conseguem atingir em termos de qualidade.

Os suecos do Opeth, com seus mais de 25 anos de carreira, optaram por manter o pique registrado nos últimso álbuns, onde o rock progressivo lentamente vai substituindo o metal, com bons resultados.

"In Cauda Venenum" é álbum delicado, mas difícil. Com a aura do King Crimson pairando em cada nota, a obra precisa ser apreciada aos poucos, apresentando várias "tonalidades" e camadas sonoras instigantes.

Lançado em duas versões – inglês e sueco -, "In Cauda Venenum" é robusto e ambicioso, esbarrando na pretensão. Ok, o líder, o vocalista, guitarrista e principal compositor Mikael Akerfeldt tem estofo para isso e bebe em diversas fontes para agregar desde o rock progressivo até escalas frequentes em composições do mundo erudito.

É o caso de "Heart in Hand", um primor de criatividade e inteligência, onde a guitarra sutil e visionária comanda as ações, enquanto Akerfeldt abusa do silêncio em vários trechos, lembrando o compositor alemão Karlheinz Stockhausen e o norte-americano John Cage.

A bela peça "All Things Must Pass", que fecha o trabalho, é progressiva em toda a sua essência, relembrando os grandes momentos do Genesis. Novamente a guitarra é o destaque, alternando a delicadeza com um som áspero típico do Opeth pré-metal progressivo.

O grupo ainda surpreende em canções como "The Garroter", com sua inspiração no jazz e arranjos esplendorosos, e "Charlatan", que merglha fundo nos anos 70, assim como "Universal Truth", totalmente influenciada por teclados à la Yes e pitadas de Ken Hensley e seu Uriah Heep.

A rede de inspiração também foi fundamental para que o Tool retornasse depois de mais de uma década a um álbum de inéditas com "Fear Inoculum".

Rock progressivo, prog metal, underground, alternativo e mais um monte de rótulos soam imprecisos para tentar entender o som dessa banda interessante, mas não muito acessível.

O King Crimson parece também ser a fonte primordial deste álbum, com sua cadência lenta, passagens de origem jazzística e a valorização dos silêncios e "climas" em temas longos e cheio de mudanças de andamento.

Para muitos o Tool continua se autossabotando ao apostar em canções anticomerciais e pretensiosas, como "Pneuma" e a pesada e tensa "Descending", embora faça algumas concessões na delicada e sutil "Culling Voices", de rara beleza entre as músicas do grupo. É um som que precisa de tempo para ser degustado.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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