Viva o AI-5! Lembremos de uma banda punk fundamental
Marcelo Moreira
Uma banda que levou ao pé da letra um dos lemas punks: urgência, necessidade e autodestruição. Durou o tempo necessário para pssar o recado, chutar canelas, incomodar antes de se autoconsumir e virar cinzas.
O AI-5 era movido a indignação e queria chocar, assim como as bandas contemporâneas paulistas do fim dos anos 70. Surgida em 1978, na mesma época em que outras formações surgiam para chacoalhar a cidade, como Restos de Nada, Condutores de Cadáver e muitas outras.
Clemente Nascimento, que tocou em várias bandas e formou os Inocentes das cinzas do Condutores de Cadáver, costuma brincar que eles eram punks antes mesmo de saberem o que significava ser punk e antes da chegada definitiva e sificada do som de Sex Pistols, Ramones e Clash por aqui.
Foi nesse caldo de efervescência musical e cultural nos estertores da ditadura militar, com uma grave crise econômica de fundo, que o AI-5 se mostrou visceral e contundente.
E nada melhor do que ouvir o som da banda nestes tempos lamentáveis em que um ministro boçal reafirma que não dá para reclamar "quando alguém fala que precisamos de um novo AI-5", em referência às convocações de manifestações contra o lamentável governo federal comandado por Jair Bolsonaro. Paulo Guedes, o ministro da Economia, depois tentou se corrigir afirmando que a volta de tal coisa é "inconcebível", mas não convenceu.
O nome AI-5 remetia ao famigerado Ato Institucional Nº 5, criado pela ditadura militar e que consistia principalmente de uma medida para calar os detratores do sistema vigente.
"O AI-5 permitia o fechamento do Congresso, a cassação de mandatos de parlamentares, a suspensão dos direitos políticos de qualquer cidadão, tudo isso sumariamente", explica o historiador Carlos Fico, em enrevista ao site Elís Brasil, sobre o decreto que institucionalizou a repressão política e o terror promovido pelo Estado durante a ditadura militar.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora fora da cadeia, conclamou, em um congresso do PT, o pvo a ir às ruas contra as medidas absurdas do governo federal em todas áreas, mas principalmente contra a depredação de direitos civis, humanos e ambientais.
Perseguido pela polícia e vigiados pewlos serviços de repressão, o grupo jamais abandonou as letras dfe protesto e de cunho político, com tendências indentificadas com ideias do campo da esquerda.
Tocava preferencialmente na periferia de São Paulo, em eventos essencialmente punks, e divulgavam os shows com certa discrição, já que o nme AI-5 poderia atrair a atenção da polícia, por um lado, e espantar eventuais interessados, por outro, já que não eram tão conhecidos.
A música mais conhecida da banda é "John Travolta", composta por Sid/Ratto/Fausto que criticavam os novos ídolos pop que apareciam na mídia como John Travolta e Rita Lee.
Era o tempo da disco music, com suas discotecas ditando a moda da época e também de uma MPB que se tornava mais pop e descomprometida, ao invés do engajamento político de anos anteriores, e a música fazia uma sátira sobre a massificação feita pela mídia sobre esses estilos musicais.
A banda acabou em 1979, e apesar de terem feito uma única fita demo caseira no carnaval de 1980 de curta duração e de não haver um registro fonográfico de boa qualidade, "John Travolta" se tornou um hino cult do começo do punk no Brasil, sendo gravada em 1995 pela banda Ratos de Porão no seu álbum "Feijoada Acidente"? e fazendo parte da trilha sonora do documentário "Botinada: a Origem do Punk no Brasil de 2006″.
A demo de 1980 acabou recebendo um tratamento cirúrgico de recuperação e foi editada em CD pelo selo Baratos Afins em 2017, por conta da volta do grupo à ativa. O CD está à venda em sua loja física na Galeria do Rock, no centro de São Paulo.
A formação principal teve os músicos Sid (baixo,vocal), Ratto (vocal), Fausto (guitarra, vocal) e Luiz (bateria). No final de 2017, Fausto reativou o grupo como único membro da formação original, como ele contou em uma interessante entrevista ao site Submundo do Som. Clique aqui para ler a entrevista.
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