Preconceito avança em São Paulo, mas a resistência também
Marcelo Moreira
Um veterano músico da cena roqueira de São Paulo costuma brincar até hoje a respeito de como os contratantes de shows, em geral, tratam os artistas. "Se esses caras soubessem exatamente do que falam as músicas que cantamos, certamente não haveria onde tocar rock no Brasil."
A frase se aplica bem a uma série de eventos que estão agendados em várias partes deste país e que, subitamente, acabam atacados e até cancelados quando os contratantes e prmotores "descobrem" realmente do que se trata.
Nestes tempos sombrios e medievais que assolam nossa sociedade – e várias outras pelo mundo todo – ainda choca o desrespeito e o preconceito absurdos que campeiam por aí.
O ato mas nojento recente foi o cancelamento do Rúcula Festival, em Jundiaí,no interior de São Paulo. Marcado com muita antecedência, o evento ocorreria no estádio de futebol Dr. Jayme Cintra, que pertence ao Paulista Futebol Clube, que já foi tradicional no futebol estadual – chegou até a conquistar a Copa do Brasil de 2005, mas hoje está afundando nas divisões mais baixas do Campeonato Paulista.
Como se quisesse "honrar" a sua decadência em todos os sentidos, os diretores do clube surpreenderam os organizadores do Rúcula e exigiram a exclusão do programa qualquer participação de artistas ou menções ao mundo LGBT+ – estava prevista uma apresentação de uma drag queen, por exemplo.
A não exclusão dos eventos criticados acarretaria em cancelamento da autorização para usar o estádio, ameaçaram os diretores. Como os organizadores não cederam à chantagem, o evento foi cancelado. Ou seja, a discriminação e o preconceito estão oficializados em Jundiaí.
O clube emitiu uma nota vergonhosa e nojenta: "Lamentamos o não cumprimento das solicitações, ressaltando que o Paulista Futebol Clube está à disposição para todos que queiram realizar eventos, porém desde que se submetam às condições impostas pelo clube. Temos conhecimento das manifestações contrárias a essa decisão, que respeitamos, assim como manifestamos nosso irrestrito apoio a todas as opções culturais e comportamentais, sem exceção."
A incompetência dos diretores do clube é gigante. Não se deram ao trabalho de perguntar ou observar do que se tratava o evento artístico. É muito provável que algum idiota ler atentamente o programa do evento e fez barulho esbravejando contra o "atentado à moral e aos bons costumes". CDE forma covarde, o clube recuou.
Os organizadores acreditam que o cancelamento ocorreu por conta do quadro "O Baile das Gayrotas" "Reiteramos que esse festival preza de forma absoluta e inquestionável pela pluralidade e multiplicidade, discordando dessa postura. Assim, em respeito aos artistas, público e demais envolvidos, o Rúcula se nega a acatar esta interferência em nossa curadoria, ainda que isso custe-nos a não cessão do uso do estádio", informou nota dos produtores do festival.
A decisão inacreditável e asquerosa do clube está em consonância com as constantes agressões contra os direitos humanos que estão ocorrendo.
Com o incentivo e o estímulo das milícias que apoiam o governo federal lamentável, as manifestações racistas, homofóbicas e preconceituosas dominam o noticiário.
Professor universitário esfaqueado em Bauru (SP), placa quebrada por deputado insano em exposição na Câmara dos Deputados, segurança agredido verbalmente em jogo de futebol em Belo Horizonte, crentes nojentos impedindo uma cerimônia de inspiração africana em igreja no Rio de Janeiro…
A agressão preconceituosa em Jundiaí é so mais uma manifestação de ódio e desrespeito ao ser humano, apoiada por uma parcela inacreditável de gente que curte rock e que considera a a homossexualidade e os cultos religfiosos africanos aberrações e indignos de respeito.
O rock está ficando para trás desde 2016 na questão dos protestos contra a censura e os atentados aosd direitos sociais e humanos que estão ocorrendo no Brasil. Parte expressiva dos roqueiros silencia porque aprova esse comportamento execrável de desrespeito.
A palavra resistência cabe neste momento, mas soa indevida, por outro lado, pois passa a ideia de passividade. É hora de contra-atacar. Boicote total a esse cluvbe de várzea que é o Paulista, de Jundiaí, e totsal apoio ao Rúcula Festival, que tem de acontecer o amis rápido possível onde quer que seja.
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