Grinding Reaction exalta a resistência e expande a música de protesto
Marcelo Moreira
Resistência em doses cavalares e engajamento como marca pessoal e de comportamento. A banda paulista Grinding Reaction não alivia em tempos sombrios e faz da crise um combustível para incendiar o palco.
Veterana da cena punk/hardcore do Estado de São Paulo, a banda de Diadema (Grande São Paulo) está divulgando o álbum "O Caos Será a Tua Herança", uma porrada nas instituições e na passividade de um povo que achou que um "mito" poderia resolver tudo.
"É um álbum forte, com uma mensagem de protesto, e foi composto antes de entrarmos nesse período conturbado e com um presidente controverso. Parece que alguns temas se encaixam perfeitamente ao momento em que vivemos", diz o baixista Renato Spadini Júnior.
Como bom rock pesado e de protesto, o Grinding Reaction trata de aproveitar o momento em que muitos punks gostam, entre aspas: é em tempos de crise e de convulsão que os artistas do gênero, combativos e raivosos, costumam ganhar proeminência. Afinal, o punk inglês explodiu em 1976 e 1977, quando a Inglaterra vivia uma turbulenta crise econômica e social, com altos índices cde desemprego.
"O Caos Será a Tua Herança" faz parte dessa tradição, com letras afiadas e um som bem agressivo. "A desigualdade e os problemas sociais serão sempre combustível para bandas engajadas em lutar por algo melhor e mais equilibrado. Se depender do que vemos desde sempre por aqui, os punks sempre terão material farto", acredita Spadini.
A música da banda guarda similaridades com o punk melódico do Bad Religion, beirando o hardcore em muitos momentos. O som é pesado e com alguma virtuose, algo incomum nas bandas brasileiras do gênero, mais aficionadas do som cru e direto.
"O Caos Será a Tua Herança (Introdução)" tem uma letra forte e dá o tom para a tempestade que vem pela frente: o vocalista Ricardo Marchi berra contra tudo e traz mais caos social para emendar em uma sequência extraordinária.
"Flagelo" é veloz e insana, com uma guitarra ao estilo serra elétrica. "Recuse a Cegueira", solo de gvuitarra marcante. "Piada" tem letra irônica e que abusa um pouco do sarcasmo, demandando um pouco mais de atenção.
"Negra Sina" e "Inimigo no Espelho" são cotundentes e atacam com força a discriminação, o racismo e as diversas formas d depredação de reputações e direitos. "Dor, Sofrimento e Morte" e "Verdades e Utopias" seguem pelo mesmo trilho, embora tenham um pouco menos de violência e apontem para algm caminho mais otimista.
O posicionamento político explícito e o engajamento tornam o Grinding Reaction, evidentemente, em alvo nos tempos convulsionados e polarizados.
Assim como festivais punks e músicos do gênero foram abordados por policiais militares e políticos incomodados com as mensagens das músicas, o grupo de Diadema já recebeu ameaças por conta de cartazes de shows e de declarações em entrevistas.
"Nunca sofremos nada sério, mas houve um incidente uma vez. Nosso baterista, o Weslley Ferreira, é estrudante de design gráfico. Era um evento em Diadema onde tocamos com o Surra e o Paura e ficamos de fazer o cartaz do evento, que foi bem simples. Era um rosto com o cabelo do [Donald] Trump [presidente dos Estados Unidos], os olhos do Bolsonaro e o queixo do Hitler. Repercutiu bastante. Recebemos críticas e elogios na internet. Um cara do Rio de Janeiro ficou furioso e me ameaçou de morte. Falou que a banda ia morrer se fosse tocar por lá", contou o baixista.
Spadini disse ainda que o dono do bar foi muito pressionado para trocar o cartaz ou ate mesmo a cancelar o evento, mas nada disso ocorreu. "'Ninguém pode se colocar contra o que a gente acredita'. Tive de ler esse tipo de lixo nas redes sociais. Nada disso vai mudar a nossa trajetória e a nossa mensagem. Até respeitamos opiniões contrárias, mas defenderemos o direito de dar a nossa opinião e de lutar contra quem atentar contra os direitos humanos."
Muito se diz que as bandas ditas engajadas são rasas e superficiais, beirando a ingenuidade, mas isso é algo que não incomoda a Grinding Reaction.
"Nunca sentimos a necessidade de fazer confronto ou disputar narrativas com quem quer que seja. Somos extremamente críticos em relação ao capitalismo e temos opiniões contundentes sobre a questão social que nos afeta. Críticas no sentido de desqualificar recebemos aos montes, todos os dias. Faz parte do debate e da oposição ao que pensamos, mas a resistência sempre será firme e intensa", acresdita Spadini.
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