Documentário tenta identificar a proliferação do fascismo no metal nacional
Marcelo Moreira
A polarização política que separa o povo brasileiro desde pelo menos 2013 contaminou definitivamente o cenário musical brasileiro. É um terreno minado que o empresário e documentarista Clinger Carlos Teixeira resolveu explorar – e se expor de tal forma que sua coragem merece ser louvada.
"Fascismo no Heavy Metal – O Mal que Nos Faz" é um documentário de quase uma hora onde o diretor pretende identificar até onde o autoritarismo e o pensamento de inspiração fascista conseguiram apoio dentro do metal nacional.
É uma tarefa ingrata diante do ódio que prolifera na sociedade brasileira e da totral confusão ideológica e política que domina a nossa vida principalmente após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na eleição presidencial de 2018.
Teixeira, que é o líder do site Heavy Metal Online, enfileirou uma série de entrevistas com músicos, empresários e fãs de metal no Brasil.
A falta de um roteiro definido e um direcionamento claro é um problema imediato da obra, que começa com uma série de depoimentos sobre o que cada supõe ser fascismo e como esse pensamento político influencia o comportamento no palco e no dia a dia dos músicos.
O grande mérito, no entanto, é trazer a discussão para as redes sociais e para o público sobre se é possível uma convivência harmônica entre pensamentos divergentes, ainda que confusos e, em algumas vezes equivocados.
Os destaques são os depoimentos de Carlos Lopes (cantor e guitarrista do Dorsal Atlântica) e Leko Soares (guitarrista do Lothloryen e historiador), de viés humanista e esquerdista, que foram ponderados, mas contundentes, ao demonstrar que existe mesmo fascismo no metal nacional, o que é contraditório com as origens do próprio rock e do heavy metal.
A maioria dos depoimentos rejeita o fascismo e mostra que o metal e o rock precisa ser livre e libertário e combater qualquer tipo de pensamento autoritário e contrário a qualquer restrição àliberdade de expressão.
Um voz "liberal", digamos assim, que destoa do pensamento mais esquerdista, surgiu com as falas de Jean Nastrini, músco do projeto Vitória e que se assume uma pessoa com pensamentos identificados com a direita.
Articulado, rejeita totalmente uma predominância do fascismo entre os metaleiros de direita, defende a liberdade em todos os sentidos e o modo de vida liberal. Ele derrapa feio, entretanto, quando ataca a esqauerda com argumentos fracos e rasos, abusando de "exemplos" inadequados, como Cuba e Venezuela. Em alguns momentos, confunde conceitos políticos básicos e revela falta de informação.
A iniciativa de Teixeira foi válida, pois traz à tona um tema que os músicos brasileiros, em sua maioria, evitam comdentar em entrevistas, embora se manifestem pesadamente nas redes sociais.
Segundo Clinger, foram 16 meses de pesquisas e viagens para a captação de conteúdo, além de depoimentos de pessoas que influenciam na produção musical do país, tanto no underground, como no mainstream.
A contextualização dos fatos foi primordial para entender a onda de intolerância e a falta de diálogo que se criaram em torno da imprensa, entre produtores, bandas e público.
"Entendo quando muitos não querem tocar no assunto ou quando se negaram a falar para o documentário, porque conviver com um conflito numa rede social, muitas vezes, tira o ser humano do sério, fazendo-o sentir raiva, perda de concentração no trabalho e, em alguns casos, deixa a pessoa sem sono. Mas, desde que decidi fazer esse trabalho e abordar temas assim, me sinto preparado para enfrentar tudo isso!", disse o diretor do documentário em delcaração ao site Hedflow.
Assista abaixo ao documentário na íntegra:
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