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Irmãos Cavalera repetem dose com fase clássica do sepultura em show

Combate Rock

29/06/2019 07h08

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

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Pouco mais de seis meses depois de terem passado por São Paulo e feito os fãs viajarem no tempo numa apresentação memorável no Tropical Butantã, os irmãos Max e Igor Cavalera retornaram à capital paulista e trouxeram mais um grande show. Novamente celebrando uma das fases clássicas do lendário grupo brasileiro Sepultura, os membros fundadores da banda que é orgulho nacional fizeram uma verdadeira festa do thrash metal, desta vez numa casa de espetáculos melhor, a Audio, na noite do domingo, 16 de junho.

A passagem por São Paulo fez parte da turnê que passou neste primeiro semestre de 2019 por diversas cidades brasileiras focando os lendários álbuns "Beneath The Remains" (de 1989) e "Arise" (de 1991).

Se, em 2018, a vinda para a capital paulista fazia parte da turnê denominada "Max & Iggor Cavalera "89/91 Era", o cartaz da turnê de 2019 vinha com nome "Max and Iggor Return Beneath Arise".

Na prática, a estrutura do show foi a mesma, com a parte mais importante trazendo 6 músicas de cada um dos discos fundamentais para quem gosta de Sepultura e alguns bônus clássicos de outros trabalhos da banda, atualmente liderada pelo guitarrista Andreas Kisser, após as saídas de Max, em 1996, e de Igor, em 2006.

A diferença, além da casa melhor, foi a inclusão de algumas novidades, basicamente covers não tocados em 2018, alguns deles até inusitados, mas que serviram para incrementar a festa thrash vista na Audio.

Além de Max e Igor, o grupo que retornou para a capital paulista contou na guitarra solo com o fiel escudeiro de Max Cavalera, o norte-americano Marc Rizzo, que acompanha o brasileiro no Cavalera Conspiracy (junto com Igor) e no Soulfly. O baixista Mike Leon, também atualmente no Soulfly, também voltou a SP. Foi, portanto, a mesma formação vista em 2018 no Tropical Butantã.

O show

Depois de uma abertura de gala feita pela veterana banda brasileira Korzus, o Cavalera subiu ao palco poucos minutos após o horário marcado das 21h30. Com direito à introdução clássica e ao peso avassalador marcante de sempre, a música "Beneath The Remains" mostrou que ali na Audio o thrash seria respeitado dignamente.

Trajando uma camisa vermelha de goleiro do Palmeiras, Igor Cavalera (a gente conheceu ele com essa grafia e sempre escreverá assim) parecia uma britadeira alucinada e propiciou os primeiros bate-cabeças logo de cara. Com a ajuda das guitarras pesadas de Max e Marc Rizzo e um agito sincronizado de todos do grupo, foi muito difícil para o público não se empolgar.

Em seguida, foi a vez do clássico "Inner Self" ser executado com maestria, ampliando o número de cabeças em movimento e gerando rodas de mosh espalhadas na Pista Premium e na Pista Comum. Max Cavalera é gigante não somente em relação a tudo que propiciou para o heavy metal com composições e letras, mas também continua espetacular quando o assunto é cativar o público. Ainda é, sem dúvida, um dos maiores frontmen do metal, não deixando o show ficar monótono em momento algum.

Depois de a banda trazer a boa "Stronger Than Hate" com um destaque de solo de baixo de Mike Leon no final da música, foi a vez de outro clássico do Sepultura: "Mass Hypnosis". Com suas mudanças diversas de arranjo, a faixa sempre é um destaque em qualquer show. Antes dela, Max pediu ao público fazer gestos de "mão de fogo", despertando o bom humor entre os presentes.

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Fechando a fase do álbum "Beneath The Remains", o Cavalera ainda tocou "Slaves Of Pain" e "Primitive Future", tal qual foi feito no show em SP em 2018. Mais uma vez, o Roque Reverso lembra que ambas as músicas são pouquíssimas vezes tocadas pelo próprio Sepultura nos shows destas duas últimas décadas. "Primitive Future" até foi tocada em apresentações da lendária banda em apresentações de 2015, mas "Slaves Of Pain" praticamente parou de ser executada pelo grupo desde os Anos 90, antes mesmo da saída de Max.

Após a fase do disco de 1989, foi a vez de o grupo trazer para a Audio a fase do álbum "Arise". Com direito à introdução clássica, a faixa-título gerou mais rodas na casa de show. O bate-cabeça foi ampliado na sempre ótima "Dead Embryonic Cells" e continua sendo gratificante demais assistir à performance de Igor Cavalera, desde as viradas na batera até o domínio dos bumbos.

Como o "Arise" é uma verdadeira pérola do heavy metal, as músicas seguintes executadas do álbum mantiveram a adrenalina em nível alto. "Desperate Cry", considerada por Max a melhor do álbum, serviu para ser usada por ele para, naquela noite, celebrar os mais de 30 anos dos irmãos tocando o que mais gostam: o velho e bom metal.

A faixa foi seguida pela ótima "Altered State", que é a preferida deste jornalista neste álbum, e pela também pouquíssima tocada "Infected Voice".

Vale destacar que, entre o fim da primeira e a segunda música, Max interagiu com a plateia, liderando coros gigantes (pedindo que o público cantasse "como se não houvesse amanhã"), improvisando riffs e até cantando um trecho de "War Pigs" do Black Sabbath.

O clássico "Orgasmatron", cover do lendário Motörhead e que foi faixa-bônus do disco de 1991 nas versões brasileira e europeia fechou a fase "Arise". Max voltou a interagir demais com o público e a música chegou a ganhar uma trecho praticamente à capela, só com o vocalista cantando. Diferente da execução feita em 2018, não rolou o bônus com "Ace of Spades", que havia sido executada também em grande show no Tropical Butantã, quando os irmãos comemoraram os 20 anos do álbum "Roots".

Após uma breve pausa para o descanso, o primeiro bis da noite começou com a banda tirando a introdução do ultraclássico do thrash "Raining Blood", do Slayer. Tal qual o que foi visto em 2018, o trecho serviu para a banda trazer a boa e velha "Troops of Doom", do álbum "Morbid Visions", de 1986.

Na sequência, mais uma cover na noite surpreendeu o público: nada menos que "Dirty Deeds Done Dirt Cheap", do AC/DC. Max lembrou do primeiro Rock in Rio, quando ele e Igor eram adolescentes e tiveram que ver o festival pela TV. Contou a história de um tio que ficava trocando de canal bem na hora dos shows e arrancou risos da plateia.

Foi nesta mesma música que ele chamou uma menina da plateia para o palco. Ela cantou o refrão e bateu cabeça com ele na versão acelerada da música feita pelo grupo.

Após este presente para o público, o Cavalera emendou o clássico "Refuse/Resist", do álbum "Chaos A.D.", de 1993.  Tal qual o show de 2018 no Tropical Butantã, Max ordenou no meio da música que se abrisse o "paredão da morte", o famoso "Wall of Death", que consiste na divisão da pista com uma parte dos fãs de um lado e a parte restante do outro, para, na sequência, rolar uma slamdancing, que nada mais é que um mosh generalizado.

"Do lado direito, os canibais assassinos! Do lado esquerdo, os narcotraficantes assassinos! Vamos quebrar tudo!", gritou, provocando, ao mesmo tempo, risos e elevando a adrenalina do ambiente.

Em seguida, a sempre obrigatória "Roots Bloody Roots" esquentou ainda mais a casa de shows, gerando aquele tradicional momento de catarse do público.

Após mais uma breve pausa para descanso, Igor e Max voltaram ao palco para mais covers, desta vez, tocados numa "versão garagem", conforme destacou o vocalista. Foram tocados numa tacada só as músicas "Hear Nothing See Nothing Say Nothing", do Discharge; a tradicional "Polícia", dos Titãs, com direito a "elogios extras" à corporação incentivados por Max; e uma introdução rápida de "Black Magic", do Slayer, numa homenagem feita por Max ao Korzus.

Fechando com chave de ouro, toda a banda emendou um breve medley com as músicas "Beneath the Remains", "Arise" e "Dead Embryonic Cells".

Chegava ao fim mais uma grande noite de metal proporcionada pelos irmãos Cavalera. Quem esteve na Audio, sem dúvida alguma, não se arrependeu de tudo aquilo, já que o heavy metal foi ali muito bem representado e homenageado.

Para o bem da sanidade dos fãs do Sepultura e o do thrash metal em geral, não seria nada ruim que novas noites como a do dia 16 de junho de 2019 se repetissem pelo menos uma vez por ano. Fica a torcida para que Max e Igor passem a transformar a vinda de ambos ao Brasil para shows como uma rotina. Não custa nada sonhar.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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