Um rápido panorama do primeiro dia do Rio das Ostras Jazz and Blues
Eugênio Martins Junior – do blog Mannish Blog
Após 13 anos ainda estou aqui em Rio das Ostras cobrindo o festival de jazz e blues realizado pelo Stênio e sua equipe da Azul Produções.
O festival que passou por altos e baixos no últimos anos – e quem não passou? – mas aos poucos vem voltando ao seu tamanho normal, com todos os palcos.
O Rio das Ostras Jazz e Blues (ROJB), chegou a ser interrompido em 2017, auge do acirramento ideológico entre os esquerdas e direitas do Brasil, como se a cultura pudesse se abrigar em algum desses cantos.
O fato é que quando a Lei Rouanet e os artistas passaram a ser apontados pelos próprios corruptos como a origem de todos os males do país, o cultural foi um dos setores mais afetados.
Em 2018 o ROJB voltou fraco, mas marcou o território com algumas atrações distribuídas em poucos palcos e com a maioria das atrações caseiras. Não que isso seja ruim, muito ao contrário, é que o festival se notabilizou justamente pela mistura entre o som brasileiro do jazz e blues e o som dos gringos.
O festival, que sempre aconteceu no feriadão de Corpus Cristi, começava na quarta-feira para terminar no domingo, só que esse ano a quarta foi tirada para que o palco mais charmoso do evento voltasse, o da Praia de Tartaruga.
A edição 2019 foi inaugurada às 10h15 do dia 20 de junho com a Mo'zar Jazz Band, na Concha Acústica da Praça São Pedro.
A banda que coloca 15 músicos em cima de um palco, a maioria de jovens com menos de 18 anos, vem das Ilhas Maurício e é mantida exclusivamente com doações. Segundo o Stênio, a própria banda entrou em contato com ele pedindo para vir ao Brasil e participar do festival.
O som da molecada é uma mistura do sega, som tradicional das Ilhas com o jazz tradicional, eles classificam como sega jess.
Alternando temas próprios com clássicos do jazz, como Cantaloup Island, por exemplo, a molecada não fez feio. Óbvio que estão todos em formação e isso fica claro em cima do palco, mas também é isso que encanta. Eles fazem um som honesto e com muito solos jazzísticos. Quem dera as nossas escolas estimulassem isso por aqui.
O segundo show foi com os caras que estão acostumados a tocar por aqui, Flávio Guimarães, ele mesmo, o maior gaitista de blues do Brasil, fundador da banda Blues Etílicos, com o trio Blues Groovers do Otávio Rocha (guitarra), Beto Werther (bateria) e Cesar Lago (baixo) e a participação do Fernando Magalhães.
O set de clássicos do blues, entre eles Crazy Mixed Up World, e temas de Charlie Musselwhite, Gone Too Long, levantou as massas no palco da Lagoa do Iriry.
É preciso ter em mente que quem estava no palco era a nata do blues brasileiro, não mencionei, mas Rocha e Werther também integram a Blues Etílicos, maior banda de blues aqui no brasa e o Fernando revezava com o Frejat os solos de guitarra da maior banda de rock do Brasil por um bom tempo, o Barão Vermelho.
O trombonista e arranjador Serginho Trombone é uma instituição no instrumento. Emprestou seu talento ao Tim Maia, Luiz Melodia e Ed Motta. Em carreira solo, trilhou o caminho do jazz instrumental que apresentou ontem no palco da Praia da Tartaruga que voltou à cena.
É preciso dizer que a decisão da prefeitura, ou dos bombeiros, de interditar a área em frente ao palco, na parte das pedras, deixou a platéia longe dos artistas e muito P da vida.
Houve vaias em várias ocasiões. Por que foram colocadas faixas, grades e agentes da defesa civil se não havia a disposição de liberar a entrada da galera.
O clima estava bom e a maré um pouco revolta, mas nada perto do que já vi em outros anos, com as ondas subindo nas pedras e atravessando por baixo do palco. Sei lá, meio broxante. Assim como o atraso ao subir ao palco, o show atrasou em quase quarenta minutos.
Serginho é demais, sua banda manda um jazz de alto nível. Entenda-se jazz brasileiro, com groove e samba embutidos, que fazem bem aos quadris e ouvidos. Saí um pouco antes do final pra descansar para a primeira noite e… dormi demais.
Vox Sambou nasceu no Haiti, mas por problemas políticos partiu com sua família para o Canadá onde está baseado até hoje. Foi para estudar, mas a música bateu mais alto no coração.
E no exato momento em que a população do Haiti protesta nas ruas contra a corrupção e a mídia mundial faz questão de ignorar, Vox Sambou sobe ao palco principal do ROJB e manda seu recado de resistência.
Suas plataformas são o afrobeat, reggae e o rap com a poesia escrita em francês, inglês, espanhol e português. Junte a isso a mistura de nacionalidades dos músicos, dois brasileiros três canadenses e a cantora Malika Tirolien, vinda de Guadalupe, e tem-se um som que aponta para o futuro.
O afrofuturismo, como gosta de dizer o meu amigo DJ Lufer. A base é o Petro, a forma de expressão haitiana ouvidas em My Rythmn e Tout Moun, som explosivo que encerrou a gig.
A banda, André Sampaio (guitarra) Pit de Souza (baixo), Vinicius Chagas (sax), Malika (voz), Jean Daniel (bateria), David Ryspan (teclado) e Modibo Keita (sax), esse remanescente de um projeto social tocado pelo próprio Sambou.
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