A vida de Elton John fica menos exuberante em 'Rocketman'
Marcelo Moreira
Uma boa ideia executada com pretensões artísticas elevadas, mas que não levou em conta o grande público. E assim muita gente ficará com imensas dúvidas a respeito de uma figura tão fascinante como Elton John.
"Rocketman" é uma superprodução que pretende pegar carona no enorme sucesso de "Bohemian Rhapsody", que rendeu o Oscar a Rami Malek como Freddie Mercury, o vocalista do Queen. Tem condições para isso, mas será uma longa e pedregosa caminhada.
O filme tinha tudo para crescer e ter desempenho estonteante nas bilheterias e entre os críticos, mas uma certa indecisão a respeito de roteiro e direção pode colocar poer terra essa pretensão de superar os conterrâneos do Queen: é um musical ou uma cinebiografia? O que é real e o que é ficção?
Ao embaralhar as coisa e tentar uma abordagem mais artística da vida louca e movimentada de Elton John, o diretor Dexter Fletcher tentou cravar seu nome como um profissional que tem estofo para fazer um filme autoral, ainda que parte do público possa ficar a ver navios.
Um dos méritos de "Bohemian Rhapsody" é lidar com um roteiro menos frenético e mais dramático, envolvendo uma história perfeita para o público norte-americano, que é a ascensão e a redenção de artistas/heróis, ainda que os produtores tenham tomado licenças poéticas para mexer em um enredo com muitas brechas.
Fletcher optou por uma abordagem cinematográfica diferente, com uma narrativa nem sempre cronológica e usando as músicas de Elton John e Bernie Taupin, o letrista e grande amigo, para ilustrar algumas passagens da vida do cantor e pianista, mesmo que em forma de dança.
Diante desta opção, o espectador que desconhece a história de Elton John e que não tenha lido o livro "Captain Fantastic", de Tom Doyle (editado no Brasil no ano passado) sofrerá um pouco para entender como o menino gorducho e desprovido de charme encarou o desprezo do pai e o assédio moral da mãe para subir ao palco e penar por cinco anos em bandas de rock e blues até se tornar o grande astro mundial.
O livro serve de basepara a maior parte do roteiro, mas o diretor Fletcher subaproveitou informações relevantes sobre o caráter e o comportamento de Elton John que certamente aumentariam a carga dramática do filme.
Com a estética de musical do tipo Broadway ficaria realmente difícil aprofundar as questões psicológicas marcantes que determinaram a transformação de Reginald Dwight em Elton John.
Os números de dança e coreografia tentam mostrar de forma esplendorosa a transformação, mas apenas lançam névoa sobre as cascatas emocionais que envolveram a vida do artista.
Afinal, quem é Elton John? É o espalhafatoso artista mergulhado nos excessos da vida nos palcos? É a superação do menino tímido que tocava piano ao lado de Long John Baldry e Rod Stewart? Ou é o venerado superstar exposto nas letras do amigo Taupin, numa tentativa de associar algumas passagens importantes da trajetória do cantor às canções?
"Rocketman" entrega menos do que poderia em relação a um personagem fascinante. Não atinge um clímax e não oferece um bom retrato do artista enquanto força gigantesca do rock e do show business.
Será que as intervenções do verdadeiro Elton John, interpretado de forma competente por Taron Egerton, foram suficientes que o resultado tivesse esse "desvio", tornando a fita menos fulgurante.
A sensação de que o filme poderia ser bem mais do que é não transforma o programa em um mico. É possível se divertir com a produção competente e as atuações caprichadas dos atores, mas as comparações com "Bohemian Rhapsody" sao inevitáveis. É uma grande homenagem a Elton John, mas sua história merecia um tratamento menos bombástico e mais fiel à realidade.
Sobre os Autores
Sobre o Blog
Contato: contato@combaterock.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.