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O autoritarismo agora quer a polícia nas universidades

Combate Rock

28/05/2019 07h58

Marcelo Moreira

Cena do filme "The Wall", do Pink Floyd (FOTO: REPRODUÇÃO)

E então a indignação tomou conta das hostes progressistas e antibolsonaristas, com toda a razão, por conta da faixa em defesa da educação arrancada e destruída em frente à UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Curitiba, no último domingo, nas manifestações a favor do governo.

A faixa dizia "Em Defesa da Educação", fazendo alusão aos cortes de 30% no orçamento das universidades e institutos federais de educação. Com esse corte, a reitoria estima que a entidade feche as portas já em setembro.

No entanto, muito mais grave do que esse atentado obscurantista contra a educação – me refiro à destruição da faixa – foi o pedido feito pela Advocacia Geral da União ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que qualquer tipo de força policial possa atuar em campi federais.

Os ministros consideraram que as medidas feriram a liberdade de expressão de alunos e professores e rechaçaram quaisquer tentativas de impedir a propagação de ideologias ou pensamento dentro dos estabelecimentos de ensino.

Muita gente comemora esse pedido e afirma que é um absurdo que policiais não possam atuar, ou tenham ordens para não atuar, dentro das universidades. "Por que os campi devem ser ilhas onde se possa praticar qualquer tipo de delito com as bênçãos dos reitores e professores?"

Esse tipo de pergunta, que está se espalhando nas redes sociais, é de uma ignorância (deliberada) completa e já indica o viés ideológico contra a liberdade de expressão e pensamento, corroborando as decisões judiciais do ano passado que impediam discussões políticas em épocas de eleição – coisa que, ainda bem, o STF reverteu.

 AGU afirmou que a universidade deve ser livre para discutir, mas sem que isso prejudique ou afete o processo eleitoral.

Se o pedido for acatado, abrirá um precedente perigoso que vai impactar diretamente na liberdade de expressão dentro das universidades. Servirá para embasar a ação repressiva policial dentro das instituições de ensino sempre que houver "caráter político no evento", mesmo fora de período eleitoral, principalmente se tal evento contiver críticas aos governos de plantão.

E o mais triste é ver, ans redes sociais ou comentários em sites noticiosos, de músicos e artistas apoiando tal decisão – certamente essa gente vibrou com a depredação da faixa em Curitiba.

É assustador que artistas e pessoas que lidam com cultura, educaçção e entretenimento apoiem iniciativas que se voltam contra o próprio trabalho delas.

É lamentável que roqueiros aplaudam iniciativas que no futuro vão se reverter contra a liberdade artística e de expressão que, por enquanto, desfrutam.

É um debate importante porque anos atrás a USP (Universidade de São Paulo) foi alvo de operações da Polícia Militar que supostamente estariam tentando coibir o comércio e o consumo de drogas no campus da zona oeste de São Paulo.

Coincidentemente, essas ações ocorreram sempre quando os estudades das áreas de humanas (geografia, história e ciências sociais) faziam manifestações contra decisões da reitoria e ocupavam a área administrativa do prédio onde estudavam.

Mais do que caçar meia dúzia de maconheiros ou "garantir a integridade do patrimônioo público", a presença de policiais no campus era uma maneira de intimidar os manifestantes, geralmente alunos, professores e funcionários da universidade.

Como toda manifestação é política, independentemente de seus objetivos iniciais, causa mal-estar no governante de plantão, as ações na USP desagradavam ao governador do Estado, do PSDB, que desviava o foco das reivindicações bradando que a manifestação era "político-ideológica".

Com ataques quase diário à educação e à liberdade de expressão, a nossa vida fica um pouco mais difícil e complicada. E, lamentavelmente, não são muitas as ozes que estão se levantando contra isso.

Muita gente ainda me critica quando eu costumo dizer que a liberdade de expressão e de opinião é muito mais importante do que a vida, porque não existe vida (ou não vale a pena ser vivida) sem liberdade de expressão e opinião. Essa máxima é muito mais atual do que nunca.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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