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Saxon volta ao Brasil e mostra que a aposentadoria está distante

Combate Rock

11/03/2019 06h21

Entrevista: Nicholas Pedroso – especial para o Combate Rock

Pauta, texto e edição: Marcelo Moreira

O inglês alto e educado queria um café muito forte e só achou em uma doceria que ficava perto da praia, na área central de Santos. O clima do litoral paulista era diferente, e encantou o estrangeiro, que se aventurou a andar um pouco mais e enfiar o pé da reia, para desespero dos assessores que o acompanhavam.

Paul não queria ir embora, queria ficar ali, e tentar comer alguma iguaria da praia, um camarão, uma isca de peixe, até uma manjubinha. Não estava quente, mas ele queria comer peixe, tomar uma cerveja ruim de latinha e uma caipirinha bem gelada. Com muito custo, só bebeu a última e voltou calmamente para o hotel.

Assim muitos fãs descrevem a passagem de Paul "Biff" Byford por Santos em 1997, na primeira – tardia – passagem do Saxon pelo Brasil. A banda inglesa faria um show histórico na cidade, do mesmo porte daquele que fez no antigo Palace, na zona sul de São Paulo.

A banda que integrava a santa trindade dos primórdios do metal inglês, ao lado de Judas Priest e Iron Maiden, lavou a alma, literalmente, daquela gente que venerava os mestres do rock pesado britânico.

Biff não se lembra muito bem de Santos, mas têm "impressas" as imagens do primeiro show d banda no país, no Palace, em São Paulo. "Foi a primeira vez que ficamos três horas no palco, rasgamos o setlist e tocamos músicas que nem tínhamos ensaiado. Isso faz valer cada segundo de nossa carreira", afirmou certa vez, em São Paulo, o vocalista da banda, em 2011.

Este jornalista garante que foram duas horas e 48 minutos, cronometrados, mas certamente uma apresentações mais extraordinária já ocorridas em palcos brasileiros.

Biff e o Saxon gostam do Brasil. Sentem-se em casa. Para ele, é uma energia diferente, como comentou em entrevista a um site de metal brasileiro no ano passado, quando estiveram por aqui. "É possível perceber o quanto somos queridos aqui e o quanto os brasileiros gostam de rock. Passar por aqui é obrigatório."

A banda está de volta ao Brasil neste mês de março e toca em São Paulo no dia 16, no Tropical Butantã. Em rápida entrevista ao Combate Rock, Biff mostra reverência ao passado e diz que a aposentadoria está bem longe dos planos do quinteto.

Muitos críticos musicais afirmam que artistas de classic rock perderam a relevância porque não produzem mais hits como antes e não se comunicam com os jovens. Entretanto, Saxon, Judas Priest e Paul McCartney tiveram seus álbuns em muitas listas de melhores de 2018. Faz sentido ainda falar em relevância artística diante de resultados como esses?

Biff Byford: São rótulos que a mídia coloca para tentar contextualizar o som. Sempre foi assim. Enquadrar um tipo de som? Fazemos rock, acho que é assim que tem de ser.

"Thunderbolt", o último álbum do Saxon, chamou a atenção por ser mais pesado e brutal do que "Sacrifice", por exemplo. As canções parecem funcionar melhor ao vivo. Houve algo de diferente na composição e gravação de "Thunderbolt" que ocasionasse tal mudança, se é que você concorda com isso?

BB – Não houve mudanças significativas, acho que as vibrações do momento são únicas. Ficamos satisfeitos com ambos os resultados.

Em 1985, ao entregar seu primeiro trabalho solo à nova gravadora, Pete Townshend, do Who, foi questionado: "Por que você não compõem algo bombástico como 'My Generation"'? "Porque eu tenho 40 anos de idade e não penso mais como aos 20." Você está há mais de 40 anos neste negócio. Como é possível abordar assuntos diferentes sem cair no clichê do rock ou do metal?

BB – São tempos diferentes, épocas diferentes, mas o sentimento é o mesmo, a forma de compor é praticamente a mesma. Estamos mais velhos e acho que melhores, eu presumo.

Músicos de outros gêneros musicais estão abandonando o formato "álbum" para se concentrar em singles ou mesmo músicas avulsas, e sempre em plataformas digitais. Saxon e bandas de sua geração ainda podem ser consideradas bandas de "álbuns". Vocês cogitam mudar esse conceito e privilegiar outras plataformas?

BB – A forma como se ouve música mudou, o mercado mudou, mas creio que o formato álbum ainda é predominante, pelo menos é o que observo entre nossos fãs. Muitos escutam música em plataformas de streaming, e percebo que os álbuns ainda tem bom público. E tem aqueles que preferem o CD. Estamos confortáveis ainda no formato álbum.

Steve Harris esteve recentemente no Brasil e disse informalmente que não sabe por quanto tempo Iron Maiden vai continuar nos palcos. Black Sabbath não existe mais e o Judas Priest decidiu que não fará mais turnês. É muito difícil imaginar o Saxon foram dos palcos e dos grandes festivais. Esse é um assunto que já mereceu a sua atenção e a da banda?

BB – Judas Priest ainda está em turnê. Temos um bom caminho a percorrer. Gostamos do palco e queremos fazer shows. É a melhor forma, para nós, de nos mostrar relevantes. E os shows no Brasil e na América do Sul são a prova disso.

A cada ano de Rock in Rio, que hoje é um dos maiores festivais do mundo, surgem petições para que Saxon e Judas Priest participem – Judas participou só uma vez, em 1991. Alguma vez  vocês foram sondados para participar do Rock in Rio?

BB – É algo que seria maravilhoso, é um dos grandes festivais do mundo. Gostaria muito de poder tocar. Não me recordo se houve algum contato algum dia.

Em "Thunderbolt" há uma homenagem ao Motorhead e a Lemmy na música "They Played Rock'n'Roll". Nos anos 90, antes de cada execução da música "Requiem" ao vivo, você mencionava grandes nomes da música que tinham morrido. É uma característica do Saxon fazer   esse tipo de celebração aos ídolos e aos companheiros de jornada. Por que isso é importante para você?

BB – Lemmy e os caras do Motorhead foram grandes amigos nossos, nos conhecíamos desde 1979, eu creio, e a homenagem foi uma coisa natural. A relação entre as duas bandas sempre foi especial e maravilhosa [Lemmy participa de uma versão extraordinária da música "I've Got to Rock (To Stay Alive), do Saxon]. Estivemos juntos em muitos momentos bons e momentos ruins ao longo de quatro décadas. Não é só uma celebração de amizades, gostamos mesmo de celebrar o rock e de como ele é relevante.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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