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Tuatha de Danann: festa irlandesa pesada em pleno carnaval paulistano

Combate Rock

09/03/2019 06h54

Marcelo Moreira

Tuatha de Danann no Manifesto (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Já faz um tempo que virou polêmica no rock brasileiro o fato de bandas nacionais estarem se dedicando a temas que estão completamente fora de nossa realidade. Bandas de black metal louvando a escuridão do inverno escandinavo? Grupos de folk metal escarafunchando lendas celtas da Irlanda e da Escócia?

Explique isso para um bando de malucos vindos de Varginha, no sul de Minas Gerais. O sexteto Tuatha de Danann jamais pretendeu afrontar a cultura carnavalesca, mas fez a festa no Manifesto, casa noturna do Itaim, na zona sul de São Paulo.

Foi uma aposta arriscada do grupo mineiro de folk metal, o melhor do Brasil neste subgênero que conta com ótimos nomes como Lothloryen, Hugin  Munin, Terra Celta, The Leprechaun e muitos mais. Em plena miniturnê brasileira, o Tuatha aceitou o risco de tocar metal em plena segunda-feira de Carnaval, em uma casa que fica no meio de um dos bairros mais concorridos do circuito de blocos.

Para surpresa de muitos, mais de 400 pessoas encheram o Manifesto para cultuar essa banda mineira peculiar que se aproxima de seus 25 anos de carreira, apesar de sua curta discografia – são cinco álbuns e um DVD.

O mais recente trabalho, "The Tribes of Witching Souls", é um EP  "estendido", se é que isso é possível ou existe. Brincadeira dos gozadores mineiros?

Talvez seja, pois são cinco músicas inéditas e duas releituras para clássicos do grupo, totalizando pouco mais de 30 minutos de duração. Para os integrantes, é um álbum completo, talvez para justificar os salgados R$ 30 cobrados na banquinha do merchandising. Nas lojas virtuais, o preço varia de R$ 9 a R$ 12.

O novo trabalho é a base do repertório dos atuais shows. São músicas mais pesadas, mais aceleradas, mas que ainda mantêm o pique dançante, tanto que o manifesto não parou um minuto de agitar.

Foi um grande um show, mesmo que a plateia contivesse uma grande maioria de adeptos e torcedores, como não poderia deixar de ser. Quem não tinha intimidade com a música da banda se surpreendeu com a energia, o peso e a fidelidade aos arranjos do rock celta.

Em casas menores, o show do Tuatha funciona muito bem, principalmente para quem aprecia o som do violino, do banjo e  dos demais instrumentos celtas que são tocados. Por questões específicas, foi um show diferente, mais longo do que o habitual, e foi bastante agradável.

A primeira parte foi mais pesada, já na madrugada do dia 5 de fevereiro, com as músicas novas sendo o destaque – a forte e dramática "The Tribe of Witching Souls" e a pesada e bruta "Your Wall Shall Fall", que no álbum tem a participação de Martin Walkyer (ex-vocalista do Skyclad). No Manifesto, coube à excelente cantora May Puertas (Torture Squad) a honra de fazer as vozes de Walkyer, no medley com a canção "Some Tunes to Fly".

O guitarrista e vocalista Bruno Maia foi o principal mestre de cerimônias e demonstrou muita capacidade e talento para conduzir um repertório difícil e complexo, alternando canções de inspiração mais folk, como "Turn" e "The Dance of the Little Ones", e outras mais metal, como The Brave and ther Herd" e "Bella Natura", essa com a participação especial do impressionante cantor Victor Emenka (Soulspell e Hibria).

Depois de 40 minutos de intervalo e uma pista um pouco mais vazia – já era alta madrugada -, o Tuatha iniciou um set mais "leve", privilegiando músicas com arranjos mais adaptados ao formato acústico.

É curioso, porque aí apareceu outra convidada, Fernanda Lira, baixista e vocalista da banda thrash Nervosa. E a moça deu um show de simpatia e qualidade nas três músicas que cantou, com  voz limpa e no formato semiacústico.

"Warrior Queen", que ela gravou com a banda no novo trabalho, foi o destaque, com sua voz clara e potente, em uma canção de andamento mais rápido e letra mais "true". Ela brilhou ainda em dois clássicos dos anos 2000, "Trova di Danú", mais sossegada, e "Abracadabra", mais festeira.

Na balada "Outcry", o Tuatha de Danann mostrou competência e versatilidade para executar uma composição complexa, para em seguida encerrar a maratona de quase três horas com as pesadas "Tingaralatinga Dum" e "Land of Youth".

A festa irlandesa foi uma grata surpresa neste carnaval paulistano, com o Tuatha de Danann esbanjando categoria e descontração em meio a uma cansativa sequência de shows pelo Brasil.

 

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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