Carlos Lopes e a Tupi Nambah são as vozes roqueiras contra o atraso
Marcelo Moreira
"Não se trata apenas da sobrevivência da comunicação em papel. É uma questão de sobrevivência de ideias. Da sobrevivência da espécie. Ter nascido no Brasil fez toda a diferença."
Esse manifesto foi escrito em agosto de 2018, mas nunca foi tão atual como agora, final de janeiro de 2019, aniversário de São Paulo, em uma época de trevas e de erosão de ideias e de inteligência
As frases estão no número 1 da revista Tupi Nambah, um manifesto de resistência cometido pelo cantor, compositor, quadrinista e artista gráfico Carlos Lopes, fundador das bandas Dorsal Atlântica (heavy metal), Mustang (rocn'n'roll" e Usina Le Blond (soul music).
Além de tudo isso, Lopes também é educador. O primeiro e, por enquanto, único número da revista que mistura histórias em quadrinhos e cultura em geral, é uma ode à liberdade de expressão, de opinião, de imprensa e de ideias, justamente em um momento em que o governo brasileiro de viés autoritário e inspiração fascista inicia uma já anunciada guerra contra o conhecimento e a cultura, apoiado por governos estaduais inomináveis como os de São Paulo e Rio de Janeiro.
É muito importante que louvemos neste momento uma publicação contestatória e crítica quando, no mesmo dia, um deputado federal reeleito, Jean Wyllys (PSOL-RJ), ex-jornalista que se declarou homossexual e ex-integrante do lixo chamado Big Brother Brasil, anuncia que renuncia ao cargo e decide morar no exterior para escapar das ameaças de morte de milicianos cariocas e de um povo nojento e asqueroso que o abomina simplesmente por ser quem é.
O anúncio de Wyllys foi "comemorado" pela "excrescência" que se diz presidente da República e seus filhos igualmente nojentos. A tal da democracia que todos diziam que existia no Brasil foi seriamente corroída com a série de violências cometidas contra um parlamentar eleito.
Não se pode dizer que foi algo surpreendente, já que há dois anos a excrescência que foi eleita presidente da República vomita ameaças contra minorias – negros, homossexuais, quilombolas, LGBTIs, mulheres, índios e qualquer um que conteste o lixo conservador que prega a religião acima de tudo, a pátria acima de nada, que bandido tem que ser exterminado (seja lá o que entendam ser "bandidos") e que oposicionistas, principalmente "comunistas", têm de ser varridos e eliminados.
No caso específico do grupo perigoso que assumiu o poder na esfera federal e em governos estaduais, trata-se apenas de ignorância. Não há base teórica ou ideológica que sustente as "ideias" desse gente – muito menos em relação ao suposto guru desses coitados, um autodenominado filósofo que mora nos Estados Unidos que ficou conhecido pelo analfabetismo político e pela indigência intelectual e cultural.
A revista Tupi Nambah, com textos, desenhos, imagens, quadrinhos e roteiros de autoria de Carlos Lopes, é um sopro de criatividade e resistência em um momento grave da vida político-econômico-social deste Brasil infeliz dominado pelas trevas, pelo retrocesso e pela irrelevância em todos os sentidos.
A crítica política e social é ácida e contundente, com forte viés de protesto e de esquerda, passando por uma verdadeira aula de história e de sociologia enfocando a vida brasileira a partir da Segunda Guerra Mundial.
A obra cometida por Lopes é de uma importância crucial para entender o momento em que vivemos, sem retoques ou eufemismos.
Depois de lançar "Canudos", em 2017, o mais recente álbum da Dorsal Atlântica, um dos grandes álbuns da história do heavy metal brasileiro, a revista Tupi Nambah certamente é a sua mais contendente mensagem política a respeito das trevas em que o Brasil mergulhou desde a campanha eleitoral de 2018.
Ouso dizer que é a única voz roqueira no país a se posicionar de forma contendente – partindo diretamente para o confronto, sarcasmo e pancadaria – e crítica contra o mundo bolsonaro seus acéfalos asseclas, puxa-sacos e indigentes mentais que o apoiam.
Carlos Lopes é alvo do preconceito, reacionarismo, conservadorismo e ídio há muito tempo – quase 40 anos. O bolsonarismo não será páreo para ele – ainda bem.
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