King Crimson no Rock in Rio: bom, mas nem tanto
Marcelo Moreira
Possivelmente, é a principal banda de rock progressivo da história, compreendendo o progressivo em sua essência pura. Dos grandes nomes do rock, é uma das pouquíssimas que jamais tocaram no Brasil, ao lado de The Kinks, por exemplo. E eis que, surpreendentemente, deverá ser anunciada em breve como uma das atrações do Rock in Rio.
A notícia é boa e é ruim. É boa porque finalmente, no ano em que a banda comemora 50 anos de fundação, tocará no Brasil. É ruim porque um festival tipo Rock in Rio é inadequado para a música feita por uma banda que se orgulha de "fazer música para a cabeça, e não para os pés", como declarou arrogantemente certa vez o líder e único membro fundador ainda na banda, o guitarrista genial Robert Fripp.
O sempre bem informado jornalista José Norberto Flesch, do jornal Destak, garante que o atual octeto está contratado, embora ainda sem definição sobre o dia em que tocará e em qual palco.
A música complexa, complicada e maravilhosa do King Crimson não cabe em um festival cada vez mais dedicado ao entretenimento, com atrações mais populares.
Sem hits, sem canções bombásticas, o rock progressivo intrincado e repleto de referências jazzísticas, experimentais e eruditas certamente encontrará dificuldades nos palcos imensos – ou mesmo em um palco mais intimista (já está definido que tocrão no palco Sunset).
Certamente as características da música do King Crimson ficarão prejudicadas em um formato de festival que não seja direcionado, com limite de tempo para tocar, para não falar no estranhamento que seria para um público pouco afeito a esse tipo de experimentalismo. Três bateristas? Um cara tocando stick? Músicas de mais de dez minutos com passagens pitorescas?
Desde que anunciou a volta do grupo, em 2012, o britânico Fripp, de 72 anos, deixou claro que a ideia era resgatar a veia experimental dos anos 70 sem renegar o viés mais "acessível", digamos assim, que o King Crimson ganhou na primeira metade dos anos 80. Acessível sim, mas tão genial quanto os grandes momentos da década anterior.
Para o retorno aos palcos, tendo sempre o fiel companheiro Tony Levin, baixista e o cara do stick, Fripp decidiu concentrar as apresentações na América do Norte e na Inglaterra.
Após a primeira perna da turnê, em 2015, o grupo não perdeu tempo e lançou o maravilhoso "Radical Action to Unseat the Hold of Monkey Mind", álbum triplo ao vivo que mostra novas releituras de clássicos da banda, com um destaque imenso para o trio de bateristas. Desde então chegaram ao mercado mais três álbuns triplos ao vivo, tratados como "official bootlegs", sendo o mais recente deles "Meltdown" (Live in Mexico City)".
É justamente este CD que deveria servir de base para o repertório do show no Brasil, caso não fosse em um megafestival.
Ainda que o local para assistir a show do King Crimson no Brasil seja inadequado, comemoremos a vinda da banda, um dos últimos a gigantes do rock a não ter tocado por aqui – Robert Fripp tocou sozinho (literalmente) nos anos 2000 em São Paulo em uma edição do G3 de Steve Vai, mas o não agradou muito com seu experimentalismo.
O King Crimson hoje é formado por Fripp, Levin, o guitarrista Jakko Jakszyk (guitarrista e compositor, participou da banda 21st Century Schizoid Man com ex-integrantes do próprio King Crimson), o saxofonista Mel Collins (que fez parte da bandas entre em 1972 e 1974) e os bateristas Pat Mastelotto (que tocou com o grupo nos anos 90 e esporadicamente entre 2002 e 2008), Bill Rieflin (que foi músico contratado do R.E.M.) e Gavin Harrison, assíduo colaborador do Porcupine Tree e da banda solo de Steven Wilson (líder do Porcupine Tree), além de Jeremy Stacey, que é tecladista e baterista.
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