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Freddie Mercury vira argumento para o obscurantismo no Brasil

Combate Rock

08/11/2018 18h16

Marcelo Moreira

Freddie Mercury em uma de suas últimas apresentações com Queen, em 1986 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Um bando de cretinos pelo país resolve vaiar a cena de um beijo gay no filme "Bohemian Rhapsody", sobre o vocalista do Queen, Freddie Mercury.

Na mesma semana, um cantor sertanejo imbecil xinga e faz ameaças à atriz, modelo e apresentadora Fernanda Lima, do programa "Amos e Sexo", da TV Globo, porque ela proferiu uma frase exaltando o combate ao machismo e à homofobia.

Os dois fatos estão intimamente ligados e resumem o pântano em que mergulhamos desde que a campanha eleitoral, ano passado, catapultou Jair Bolsonaro (PSL) como um candidato a presidente com chances reais de vitória – antes, não passava de um Tiririca, um palhaço candidato que não deveria ser levado a sério.

Alguns especialistas, em especial sociólogos e antropólogos, diziam que não demoraria até que algum demônio catalisasse a verdadeira essência política de um povo subdesenvolvido como o nosso: o autoritarismo, o prazer pela violência contra os mais fracos, todo o tipo de preconceito social e racial e um profundo desprezo pelo conhecimento, pela educação e pelas liberdades individuais.

Esqueça aquela balela de que o ódio político e a profunda divisão política atual é fruto das gestões equivocadas e ruins do PT ou do mesmo ódio supostamente propagando pela esquerda brasileira.

A intolerância do brasileiro e seu servilismo às elites corruptas e improdutivas sempre foram características do nosso povo e, em geral, de todos os latino-americanos – é só ver como se comporta o povo que costuma votar em populistas de todos os matizes na Argentina e na Venezuela, por exemplo.

Ficamos mal acostumados com 33 anos de regime democrático onde, na maioria esmagadora das vezes, a democracia e as liberdades de expressão, opinião e de imprensa foram respeitadas. Enganamo-nos achando que os portões do inferno estavam trancados.

Mal sabíamos que as chaves dos portões do inferno estavam guardadas nas abjetas igrejas da maioria das seitas evangélicas, que nunca passaram de poços de ignorância, corrupção, burrice, estelionato, autoritarismo e preconceitos de todos os tipos.

Com a disseminação de todos os tipos desses lixos citados, as seitas estimularam toda sorte de violência e ódio contra quem pensava diferente e contra qualquer tipo de modernização social e de costumes.

Seus pastores sempre se vangloriaram de ter as quatro patas na Idade Média e aproveitaram como nunca o histórico desprezo das elites brasileiras pela educação e pelo conhecimento – algo que sempre cultivado, ainda que sem o saber, pela própria população brasileira.

Pior ainda, o desprezo da população à cultura, à educação e ao conhecimento se transformou em raiva, a ponto de colocar os professores como alvo de escrutínio, patrulhamento e vigilância por conta da nojenta tese conhecida como "Escola Sem Partido".

Vaiar um beijo gay no cinema é apenas a ponta de um iceberg gigantesco que promete afundar a vida inteligente na sociedade brasileira. E quem diria que, involuntariamente, o falecido Freddie Mercury se tornaria uma das alavancas de tal processo.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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