Um adeus a J.J. Jackson, o blueman americano mais brasileiro do mundo
Marcelo Moreira
O coração era gigantesco, proporcional ao seu tamanho e ao tamanho de sua voz. Ninguém imaginava os motivos de um cantor extraordinário norte-americano morar em uma pensão na rua Frei Caneca, na região central de São paulo, em frente a um bar de jazz e blues.
Mas isso pouco importava, porque o cara atravessava a rua quase todas as noites e cantava com quem estivesse no palco. Era o famoso Saint Germain, que depois virou Sanja.
Generoso e sedento por cantar e tocar, falando quase nada de português, J.J. Jackson recebia todo mundo no palco, inclusive moleques ávidos por aprender, como foi o caso do paulista Igor Prado.
Um belo dia ele apareceu com sua guitarra, antes de completar 18 anos, ao bar e pediu para tocar. O bluesman, que aceitava todos os pedidos, ficou meio desconfiado e deixou o garoto mostrar as suas habilidades. Ficaram amigos para sempre.
A generosidade de um músico que sempre esteve disposto a ensinar agora está em outro patamar. J. J. Jackson morreu nesta segunda-feira (30), em São Paulo, aos 75 anos, aparentemente em decorrência de complicações de uma pneumonia (informação que ainda precisa ser confirmada).
Adorava ser chamado de professor, mas sempre afirmou que gostava mesmo de aprender. Sempre dava CDs para os músicos amigos, dizendo as sábias palavras: "Para vocês aprenderem sempre um pouco mais".
Entre os músicos brasileiros que trabalharam com ele, além de Igor Prado, estão Flávio Guimarães, Irmandade do Blues, Edu Gomes, David Tanganelli, Big Chico, Big Gilson e mais uma série de grandes blueseiros brasileiros.
Nas redes sociais, Claudio Bedran, baixista dos Blues Etílicos, lembrou que a banda encontrou com o cantor em dois recentes festivais de blues, um em Ilhabela, no litoral norte paulista, e na cidade mineira de São Lourenço.
"Ele parecia bem, embora um pouco resfriado e ligeiramente cansado. É um dos grandes nomes da música no Brasil, fará uma falta imensa", escreveu Bedran.
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