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Joe Bonamassa homenageia Page, Beck e Clapton em novo trabalho ao vivo

Combate Rock

29/05/2018 06h28

Marcelo Moreira

O guitarrista norte-americano Joe Bonamassa tem pavor de tédio. Ele precisa estar em atividade constante sob o risco de ter um colapso se ficar cinco minutos parado.

Entre os artistas que ainda fazem sucesso no conceito antigo – muita exposição na mídia, com presença constante, e execução de músicas no rádio -, certamente é o mais prolífico. Não passa ano sem algum lançamento dele, seja ao vivo ou estúdio, DVD ou CD, em carreira solo ou em inúmeros projetos.

No ano passado Bonamassa retornou com o Black Country Communion no álbum "IV", mas fez uma rápida turnê com a banda, que tem o mítico Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath) como baixista e vocalista, e logo engatou as gravações de um novo trabalho com a cantora Beth Hart, lançado neste ano. "Black Coffee" é o quarto trabalho da dupla.

E então eis que o moço que não fica parado lança um dos mais aguardados trabalhos do blues em 2018, o DVD/CD duplo "British Blue Explosion Live."

Bonamassa é muito fã de álbuns ao vivo e lança um atrás do outro, sempre com repertórios diferentes, pouco importando se o público quer hits ou não. Para cada lançamento, um tema diferente e lista de músicas diferente.

Nada complicado para quem lançou, cinco anos atrás, quatro DVDs ao mesmo tempo gravados em Londres, em duas semanas, com bandas diferentes, em casas de shows diferentes e com repertórios distintos – um mais rock'n'roll, um mais blues, um mais jazz e por aí vai.

Antes do atual lançamento, ele inventou de recriar clássicos de Muddy Waters e Howlin' Wolf, lendas do blues norte-americano, no combo CD/DVD "Muddy at the Wolf", gravado ao vivo no famosos anfiteatro de Red Rocks, nos Estados Unidos.

"British Blues Explosion Live" talvez seja o ápice de seus projetos "ao vivo". É um tributo ao que ele chama de mestres do blues rock inglês dos anos 60 e que o fizeram ficar ainda mais apaixonado pela música: os guitarristas Jimmy Page (ex-Led Zeppelin), Eric Clapton e Jeff Beck.

Assim como "Muddy at the Wolf", o projeto tinha tempo limitadíssimo. Foram apenas cinco apresentações na Inglaterra em meados de 2016, com casa lotada sempre. O show registrado e lançado é o da cidade de Greenwich, nos arredores de Londres, no dia 5 de julho daquele ano.

Bonamassa está mais reverente às versões originais de clássicos do que o fez no DVD de Red Rocks, mas ainda assim é um blues rock moderno, com a sua pegada característica e solos diferentes e inspirados.

A abertura, com "Beck's Bolero" é uma obra-prima, com o guitarrista norte-americano injetando ainda mais peso na composição de Page em homenagem a Beck, que está no maravilhoso "Truth", de Jeff Beck Group, em 1968 – na versão original, Keith Moon, do Who, está bateria, e o baixo e arranjos estiveram a cargo de John Paul Jones, que integraria logo em seguida o Led Zeppelin. Bonamassa dá uma esticada ao acrescentar outro tema gravado por Beck, "Rice Pudding".

Jeff Beck ainda é agraciado com duas outras grandes homenagens, a energética "Plynth" e o classicaço "Let Me Love You Baby", composição original de Jeffrey Rod, mas que é um dos destaques de "Truth".

Page ganha mesuras dramáticas com a recriação de "Boogie with Stu", um música escondida, digamos assim, no então LP duplo "Physical Graffitti", de 1975. Típico lado B, surgiu de uma jam que teve a participação de Ian Stewart, pianista e executivo de turnês dos Rolling Stones – tocaria também na versão final de estúdio.

A predileção de Bonamassa por pérolas dos repertórios de classic rock atinge o auge com "Tea for One", do Led Zeppelin, um bluesaço lento e pesado, do naipe de "Since I've Been Loving You", só que mais dramático e denso. A coisa fica ainda melhor porque "I Can't Quit You Baby", de Willie Dixon e gravada por meio mundo veio na emenda, sem respiro, melhorando aquilo que já era fantástico.

E o que dizer então do encerramento do show com "How Many More Times", que faz parte da enorme lista de "empréstimos" do blues feitos por Page?

Aqui Bonamassa é menos reverente e parte para transformar a canção em um rock pesado com gosto de boteco de estrada. Pisa no acelerador e comete um solo enlouquecedor.

Quanto a Clapton, Joe Bonamassa também resolve surpreender. Nada de clássicos ou de obviedades. Decidiu pegar o hit pop "Pretending" e deixá-lo um pouco mais soul, embora tenha sido mais reverente à versão original do que de costume.

Está desculpado, já que pegou "Swlabr", do Cream, para aplicar certa desconstrução e deixá-la bem mais roqueira e ensaboada, com toques malandros de guitarra pesada.

Com muita sensibilidade e inteligência, Bonamassa injeta adrenalina e malícia em "Double Crossing Time", clássico de John Mayall's Blluesbreakers com a guitarra de Clapton. É uma das melhores canções do show, ao lado da não menos emblemática e sensível "Motherless Children", do álbum "461 Ocean Boulevard", de 1974.

Joe Bonamassa é um artista diferente. É o maior nome do blues da atualidade, aquele artista que consegue colocar um gênero que se manteve marginal no topo das paradas. Aos 41 anos, já não precisa provar mais nada e faz o que quer.

Ele pensa e decide fazer um show/turnê só tocando músicas específicas, abandonando os seus hits, e é recompensado por um apoio invejável de fãs. Por outro lado, entrega muito mais do que os fãs esperam.

"British Blues Explosion" é o seu trabalho ao vivo mais ousado e arriscado, e o resultado é excelente – um prato cheio para que gosta de classic rock e blues.

Para os cinco shows ele contou uma banda ligeiramente diferente: Michael Rhodes (baixo), Reese Wynans (teclado, ex-músico da banda de Stevie Ray Vaughan), Anton Fig (bateria, que tocou em discos do Kiss, por exemplo, e que o acompanha nos últimos anos) e Russ Irwin (guitarra base e vocais de apoio).

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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