A instituição cultural Baratos Afins faz 40 anos
Marcelo Moreira
Era para ser um evento bem maior, mas ainda será marcante. A loja e selo fonográfico Baratos Afins completa 40 anos de existência e o aniversário será comemorado com um final de semana bem roqueiro no Sesc Pompéia, na zona oeste de São Paulo.
"Fui procurado no ano passado por eles para fazer um evento completo, com quatro shows, em quatro datas, mas as coisas mudaram e me informaram que será apenas um final de semana", disse Luiz Calanca, o criador de tudo.
Apesar de decepcionado, ele ajudou a selecionar e organizar, meio que de longe, o evento que tomará o palco da emblemática unidade do Sesc nos dias 11 e 12 de maio, sábado e domingo, sempre às 21h30.
Calanca queria colocar 16 artistas que têm ou tiveram relação com a Baratos Afins, mas apenas quatro estarão no palco: a ótima Fábrica de Animais, o ressuscitado Kafka, o igualmente importante e ressuscitado Santuário e clássica Patrulha do Espaço, que está encerrando mais de 40 anos de carreira.
"É claro que me sinto gratificado por toda a história da loja e lisonjeado pelas homenagens que estou recebendo, mas tudo isso não é para mim, e para todos nós. Nem gosto muito dessa coisa de homenagem, não é para mim. Vão falar que é só pelo dinheiro… antes houvesse dinheiro na parada. Já ganhei muito bem com a loja e com selo, que me sustentaram a mim e a minha família, e fico triste quando deixam a questão cultural de lado", afirma o empresário.
A humildade é cativante e reforça a admiração por este farmacêutico que adorava música e era colecionador compulsivo de LPs. Humilde, mas perseverante, já que largou tudo para criar uma loja de música em pleno centro de São Paulo, uma área que era decadente já em 1978. Luiz Calanca e Baratos Afins são sinônimo de Galeria do Rock. "Não fui o primeiro a abrir a loja de música lá, mas sou o sobrevivente."
O lojista é uma figura cultural tão importante para São Paulo que inspirou um personagem de novela da TV Globo, assim como a sua loja foi a base para o estabelecimento da obra de ficção.
Sua influência na música da cidade é tão grande que a loja foi tema de palco na Virada Cultural e se tornou parada obrigatória de artistas para bater papo, tomar café e comprar CDs e vinis. É possível, no mesmo dia, esbarrar em Ed Motta ou Marcelo Nova (Camisa de Vênus) nos estreitos corredores onde os LPs se concentram.
Há aqueles que não têm muito apreço pela Baratos Afins, ora por causa dos preços considerados altos dos produtos – dependendo do caso, são mesmo -, ora porque se trata de artistas que acharam que iam se dar muito bem e ganhar dinheiro estando vinculados ao selo Baratos Afins, coisa que não ocorreu.
"Como eu adoraria que isso ocorresse com todos os artistas que trabalharam comigo, mas uma rápida analisada no mercado musical atual explica tudo. Sei que pode ter alguns por aí que me culpam por não terem estourado. O que vou dizer sobre isso? Deixo que os artistas que estão comigo falem por mim e por eles", afirma resignado o lojista.
Quando a Baratos Afins completou 35 anos, em 2013, tudo indicava que a loja se tornaria uma instituição cultural da cidade e, por que não, do país.
As tempestades econômicas e políticas, aliadas às velozes mudanças na forma como se consome música na atualidade parecem ter atrasado a "concessão" da honraria – como se isso fizesse alguma diferença.
A Baratos é sim uma instituição cultural das mais relevantes da cidade de São Paulo, independentemente da progressiva mudança de perfil comercial da Galeria do Rock, dos consumidores e da forma de como se consome música.
Entrar na loja é tomar um banho de cultura, de inteligência e bom gosto. A Galeria do Rock virou ponto turístico, mas perdeu apelo cultural. Então é hora para que a Baratos Afins finalmente se consagre como o grande centro cultural musical e roqueiro da cidade.
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