Com pouco conteúdo e crônicas esparsas, livro de Bruce Dickinson decepciona
Marcelo Moreira
Era um dos livros mais esperados pelos apreciadores de rock: que tipo de segredos ele vai contar sobre o Iron Maiden?
A resposta? Nenhum segredo. Bruce Dickinson decepcionou em "Para Que Serve Esse Botão – Bruce Dickinson – A Autobiografia", publicado aqui pela editora Intrínseca.
A ideia do cantor do Maiden era soar despretensioso e engraçado, apostando em um formato que alguns astros da música têm optado, o da crônica autobiográfica, ou seja, reúne uma série de histórias com alguma ordem cronológica, mas sem tanto rigor biográfico.
O texto é ágil e recheado de sarcasmo, mas em nenhum momento arrebata. Há Iron Maiden de menos e aviação demais ao longo de 300 páginas.
Dickinson exagera na descrição de fatos de sua adolescência sem grande importância e menospreza os impactos que quatro anos de colégio interno tiveram em sua formação.
Assim, passa como um trator sobre a sua formação musical e seu início na carreira de cantor, assim como é bastante econômico ao narrar sua entrada no Iron Maiden, em 1981.
Dá alguns detalhes da conversa com o empresário Rod Smallwood debaixo de um poste de iluminação no Reading Festival daquele ano, mas é decepcionantemente econômico ao contar quase nada do cotidiano de seus primeiros meses com a banda.
De forma esquisita, ele praticamente equipara as atividades de jogador de esgrima e piloto de aviação comercial ao de vocalista de uma das melhores bandas de rock de todos os tempos. Ou seja, ele gastou tinta demais com o esporte e a sua atividade que parecia ser hobby do que com a sua atração principal.
Em meio a descrições nada encorajadoras de suas aulas de pilotagem e das dificuldades de conciliar as agendas da pilotagem, das aulas de esgrima e das turnês, Bruce dedicou apenas meia página para contar como decidiu sair do grupo em 1992 – depois de ler uma citação do escritor Henry Miller no jornal "Los Angeles Times". Apenas meia página.
Foi igualmente sucinto e econômico ao descrever, como se fosse um fato sem importância, as tratativas de sua volta à banda – mera página e meia. E, mais pavoroso ainda, não há nada a respeito de sua relação com o baixista Steve Harris, fundador e líder do Iron Maiden. No máximo, oito linhas a respeito do diálogo insosso quando de sua volta, em 1999.
Pelo menos uma coisa a autobiografia de Dickinson segue à risca o padrão dos livros a respeito do Iron Maiden: a falta de surpresas e de informações relevantes sobre os fatos cruciais da história do conjunto.
O cantor dedica um capítulo inteiro a sua viagem à Bósnia em guerra, em 1995, para fazer um concerto, mas é bastante reticente ao destrinchar om processo de composição de alguns dos álbuns do Maiden – prefere contar causos sem graça a respeito das excentricidades do produtor Martin Birch (Deep Purple, Black Sabbath, Uriah Heep), por exemplo.
Família? Esqueça. Ele conta algumas passagens de sua infância, sobre como os tios eram engraçados e da perturbação que era ficar mudando de casa até os 12 anos de idade. Esposa e filhos? Namoradas? Nem sinal.
Por ser considerado um intelectual entre os artistas de rock, formado em história (ele menospreza esse fato no livro e diz que fez o curso de forma "chutada"), esportista quase olímpico e homem de multitarefas, romancista, roteirista de documentários e apresentador de programa de rádio, escreveu um livro pouco esclarecedor e com um conteúdo muito aquém do era esperado.
A obra é uma sucessão de crônicas esparsas sobre suas múltiplas atividades. A música ficou em segundo plano, já que o autor tentou se esforçar para se mostrar menos interessante do que realmente. Uma ótima oportunidade perdida para descrever o funcionamento, o cotidiano e os relacionamentos dentro do Iron Maiden.
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