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Noturnall recebe James LaBrie e Alírio Netto e faz uma festa esfuziante

Combate Rock

27/04/2018 06h42

Marcelo Moreira

James LaBrie (esq.) e Thiago Bianchi: entrosamento surpreendente (FOTOS AO LONGO DESTE TEXTO: FABIO AUGUSTO/DIVULGAÇÃO)

Nada ali era novidade, por mais que os "mestres de cerimônia" se esforçassem para convencer de que reamente era uma coisa do outro mundo.

Esforço louvável, mas nem era preciso: o evento multiartístico promovido pela banda Noturnall no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, foi uma grande ideia. Esteve longe de ser original, mas foi muito diferente do que estamos acostumados em shows de rock pesado no Brasil.

Na jornada dupla de shows e gravações de DVDs – antes do Noturnall subir ao palco o cantor Alírio Netto esbanjou categoria e carisma -, havia o temor de exagero quando o cantor Thaigo Bianchi, um dos mestres de cerimônia, alardeou que o espetáculo teria números ilusionsimo, ao melhor estilo de Alice Cooper.

Bianchi é vocalista do Noturnall e um dos entusiastas do espetáculo da noite daquela terça-feira, dia 24 de abril, e descrevia, antes do evento, algo como se fosse o "Rock and Roll Circus", dos Rolling Stones, o especial de TV gravado em dezembro de 1968, mas só lançado oficialmente 30 anos depois.

De fato, não dá para negar que a iniciativa dos Stones de 50 anos atrás serviu de inspiração para o Noturnall. Era uma ideia arriscada misturar circo, contorcionismo e heavy metal, mas o resultado final foi muito bom, consolidando da fama da banda de ousada e inovadora.

O "freak show" ainda teve como atração mais do que especial o cantor canadense James LaBrie, a voz da banda Dream Theater. Um golaço, já que o convidado é um dos músicos de metal mais admirados no Brasil.

De cara ficou claro que o evento era pequeno demais para o ótimo teatro Porto Seguro, com sua capacidade para apenas 500 lugares. As condições técnicas, no entanto, foram ótimas e o "freak show" deixou todos satisfeitos.

Alírio Netto teve a honra de abrir a noite. Comemorando seus 25 anos de carreira como cantor de rock e ator de musicais, gravava ali o seu primeiro DVD da carreira e contou com uma lista grande de convidados.

Na verdade, o espetáculo serviu também como o encerramento de uma fase da vida profissional do ex-vocalista do Age of Artemis.

Alírio e Livia Dabarian em um emocionante dueto na música do Queen

Depois de estrelar vários musicais de sucesso, como "We Will Rock You" e "Jesus Christ Superstar", Alírio parte para fazer os vocais principais da banda Queen Extravaganza, o projeto-tributo á banda inglesa criado e apadrinhado pelos integrantes do grupo, o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor. Alírio foi uma escolha direta de May para estrelar a próxima temporada do Extravaganza.

Passando por todas as fases de sua carreira, o rápido show de Alírio Netto foi intenso, dramático e emocionante.

Tocou músicas do Age of Artemis e do Khallice, bandas de que fez parte, homenageou o Queen em uma versão linda de "Who Wants to Live Forever" (ao lado da esposa, a atriz e cantora Livia Dabarian, em dueto memorável) e também o Angra, ao cantar "Make Believe" com a participação dos integrantes da banda brasileira (exceto o vocalista Fabio Lione, que estava no exterior).

Em uma performance memorável, Alírio Netto mostrou que está no top 5 dos cantores de rock do Brasil na atualidade, ao lado de Edu Falaschi, Bruno Sutter, Thiago Bianchi e Mario Pastore – André Matos estaria na lista se não estivesse tão sumido dos palcos nacionais.

Alírio (esq.) e Bianchi conduziram o show

Noturnall e seu show circense subiram ao palco quase meia hora depois e mostraram muita espontaneidade e bom humor em mais de uma hora de rock pesado e números de ilusionismo – os cinco integrantes protagonizaram números bem legais com a equipe de ilusionistas contratada.

Enquanto dançarinas e contorcionistas se esmeravam em números impressionantes antes e durante as músicas, o Noturnall mostrou um resumo de sua carreira ao tocar suas músicas maisa conhecidas, como a agressiva "Wake Up", a dramática e pesada "Moving On", a grooveada e funkeada "Fuck the System" e a rápida e melódica "Mysterious".

Não poderia faltar a semiacústica "Hearts as One", a balada emocionante sobre superação e que teve toda a renda revertida para entidades que tratam e apoiam crianças com câncer.

Seria o ponto do alto da apresentação se James Labrie não pisasse no palco. O convidado especial parecia estar em casa, de tão relaxado e descontraído. Brincou com todos, mostrou um entrosamento incomum com a banda e fez questão de interagir bastante quando fez duetos com Bianchi e Alírio Netto.

Com uma potência assombrosa na voz, o canadense canta como se não fizesse esforço e toma conta de qualquer espaço onde pisa. Thiago Bianchi, em meio a reverências, até tentou compartilhar a liderança, mas logo percebeu o gigantismo de LaBrie.

E então o canadense foi gentil ao agradecer o convite dos "cinco novos irmãos" do Noturnall e engatar uma versão pesadíssima de "Jekyl and Hyde", música de sua carreira solo, com Bianchi arrasando nas partes guturais, originalmente gravadas pelo cantor sueco Bjorn "Speed" Strid, da banda Soilwork.

LaBrie tomou conta do palco e mostrou que é um artista de primeiro escalão

Para surpresa da plateia, veio um momento "fofo" com uma balada acústica do memorável álbum "Scenes From a Memory", do Dream Theater. Digo fofo porque a maioria das péssoas não conhecia a música "Looking Through Her Eyes" e seu contexto, com sua imensa carga dramática.

Acompanhado pelo baixista Fernando Quesada no violão e pelo tecladista Juninho Carelli, LaBrie deu um show de interpretação, seja na sutileza natural da canção, seja na empatia que transmitiu sem soar piegas. Ficou excelente.

Como já se sabia que não haveria tempo para o bis, o Noturnall voltou compelo para o palco para encerrar com o hino "Pull Me Under", mais uma do Dream Theater – a música mais conhecida da banda.

Com a bem-vinda ajuda de Alírio Netto, a canção foi executada a três vozes, com LaBrie servindo de maestro e mestre de cerimônias.

Para quem desconfiava do êxito de um espetáculo ousado e diferente, com muita coisa acontecendo no palco – e um convidado para lá de estrelado e importante -, o resultado não foi outro senão um enorme sorriso de satisfação.

Mais do que bem feito e bem organizado, o espetáculo foi bastante agradável. E o Noturnall deixou claro que não há artista no rock nacional melhor do que a banda para misturar elementos tão díspares e fazer um grande espetáculo com essa mistureba. Não é original, mas é bem diferente e bastante eficiente.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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