Radiohead leva fãs ao mundo dos sonhos em São Paulo
Fernando Cesarotti* – especial para o Combate Rock
O Radiohead proporcionou uma experiência de sonho aos milhares de fãs que foram no último domingo ao Allianz Parque, depois de nove anos de ausência em São Paulo. Percussão em alto volume, telões ensandecidos, luzes ofuscantes… e, debaixo disso tudo, canções, momentos para preencher a alma e alegrar (ou partir) corações. Não simples canções, mas belas e bem escritas pérolas que foram a trilha sonora de todo indie que se preza nos últimos 25 anos.
Sim, eu sei que a palavra "experiência" pode soar desgastada aos ouvidos de hoje, depois de tanto mau uso por marqueteiros e picaretas de plantão, mas não há outra definição para o pacote completo do show. Assisti ao show no canto oposto ao palco, a 100 metros de distância de Thom Yorke e seus asseclas, e os vi como se fossem pequenas formigas. E mesmo assim, valeu muito a pena.
Os enormes telões ao lado e no fundo do palco apresentavam imagens oníricas, como se fossem caleidoscópios gigantes, que eventualmente se sobrepunham a closes dos músicos. No som, a banda abusava das baterias eletrônicas e sintetizadores que têm marcado seus últimos trabalhos, criando um efeito hipnótico no público.
Isso porque, por baixo das paredes de som, o Radiohead produz canções. Músicas que podem ser assobiadas, que trazem boas memórias, que emocionam, casos de "Weird Fishes" e "Bodysnatchers", sucesso do já veterano In Rainbows, ou de "Lotus Flower", a famosa "música da dancinha". Yorke ainda presenteou os paulistanos com "2+2=5" e "There There", do excelente Hail to the Thief, duas canções que ficaram de fora do show no Rio.
Mas a emoção bateu mesmo nos momentos em que a banda se desarmou do "sonzão" para reapresentar algumas obras-primas do clássico Ok Computer (lá se vão 21 anos desde seu lançamento). "Let Down", "No Surprises" e "Pananoid Android" fizeram o público cantar alto, pular e até bater cabeça – no caso da última, que alterna dedilhados de violão com parede de guitarras.
Na apoteose, Thom puxa "Fake Plastic Trees". "If I could be who you wanted all the time", ele diz. Encerra o show, deixa o palco. As luzes se acendem. Atônitos, os fãs demoram alguns minutos para deixar o estádio e seguir a vida. Faltaram alguns hits, "Creep", "Karma Police", "Airbag", "The National Anthem". Não dá para ser quem os fãs esperam o tempo todo, afinal de contas – mas deu, sim, para sentir o gostinho e sair satisfeito. Foi um belo sonho de uma noite de outono.
Nota do blog – No player abaixo, a playlist com as músicas tocadas no show em São Paulo, criada pela jornalista Flávia Durante
*Fernando Cesarotti é jornalista e professor.
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