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Folk Brasil: O Bardo e o Banjo e The Leprechaun apostam nos extremos

Combate Rock

18/04/2018 06h30

Marcelo Moreira

O Bardo e o Banjo (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A brincadeira continua válida: músico brasileiro achando que é viking? Ou sonhando que vive nas pradarias e florestas encantadas da Irlanda vendo duendes? Se existe bana finlandesa que sonhou em viver no Rio de Janeiro para cantar punk rock, por que não?

O rock é tão plural, internacional e multinacional que permite que coisas assim funcionem, de certa forma, ou então não teríamos bandas mineiras como Tuatha de Dannan, Lothloryen e Cartoon mergulhando no universo folk dos britânicos e dos celtas. Ou dos caipiras norte-americanos.

As bandas paulistas O Bardo e o Banjo e The Leprechaun nunca tiveram medo de enfrentar tais questionamentos. Para eles, Dublin, Boston, Louisiana ou Missouri nunca estiveram tão perto.

O quarteto O Bardo e o Banjo está lançando seu novo trabalho, "O Tempo e a Memória". É folk encharcado de música country até a medula óssea, com direito a exageros e gritos à la cowboy.

A ideia é fazer uma versão tropicalizada daquele tipo de folk que se aproxima bastante do chamado bluegrass, usando banjo, rabeca, violino e aquele baixo de pau típico para ajudar na percussão.

O resultado pode até ficar caricato em algumas músicas, mas também fica muito interessante, especialmente no que se refere ao mergulho na história do sul dos Estados Unidos.

"O Tempo e a Memória" é o segundo álbum de músicas autorais do Bardo e o Banjo e pode ser considerado o primeiro álbum autoral de bluegrass cantado em português. É o que garantem os integrantes da banda.

Composto, pré-produzido e gravado em quatro anos, o disco tem o grande mérito de misturar influências da música brasileira, música clássica, novos timbres com pianos, guitar steel e sanfona.

Poderia ficar esquisito, mas as letras em português casaram bem com o instrumental alegre e para cima da banda. "Festa no Celeiro" é uma verdadeira celebração da música caipira norte-americana em terras brasileiras, enquanto que "Moda de Banjo" e "Alvorecer" explicitam a mistura com ritmos locais.

"De Dentro Para Fora" e "Vida" apostam em temas um pouco mais melancólicos, enquanto que o inglês ressurge nas músicas "The Owl" e "Summer Rain" para lembrar a todos que o quarteto está com os dois pés atolados no mais profundo e lamacento pântano do folk norte-americano – o que é muito bom, diga-se de passagem.

The Leperechaun abraçou o mundo celta – o nome já denuncia -, mas teve personalidade suficiente para admitir que foi um ponto de partida. O negócio agora é ampliar os horizontes e agregar novos elementos.

"Isosceles" é o terceiro álbum da banda, que é mais eclético e dinâmico que o anterior, "Long Road", ainda com forte acento do celtic folk. a música servia como um carimbo para o estilo da banda, mas já é assim.

Com uma articulação interessante entre mundos distintos, The Leprechaun mantém os dois pés no mundo irlandês, mas arriscou bastante ao procurar mais elementos do country norte-americano. É como se Boston se mesclasse com Nashville e com Barretos e Jaú, no interior de São Paulo. O resultado é muito interessante.

"Good Times" abre as portas do novo álbum com um clima de pub, com emulações de instrumentos típicos como whistle e bodhran. O clima é de Bostom, mas bem que poderia ser de Dublin, capital da Irlanda, ou Cork.

Alguns desavisados poderiam achar que a colônia irlandesa ou escocesa no Brasil é bastante representativa, a julgar pelo fascínio que a cultura gaélica/celta desperta em alguns músicos brasileiros.

The Leprechaun (FOTO: DIVULGAÇÃO)

The Leprechaun (FOTO: DIVULGAÇÃO)

É inegável a influência importante de grupos irlandeses como The Pogues e dos trabalhos solo de seu líder, Shane MacGowan, além dos norte-americanos do Dropkick MUrphys.

Os arranjos são muito interessantes, com a recriação de um ambiente celta em estúdio com muita competência, mesmo em composições originais. O folk irlandês predomina, mas há elementos de country, bluegrass, blues e algum tempero brasileiro.

"Isosceles" é um trabalho bastante agradável e o grupo acertou em cheio ao escalar uma cantora, a surpreendente Fabiana Santos, que manda muito bem nas canções mais rápidas e, principalmente, nas que tem maior acento folclórico.

O trabalho de guitarras,violões e cordas em geral é primoroso, em um belo esforço de garimpagem de sons e timbres característicos. Os apreciadores do rock mais pesado são contemplados aqui e ali com guitarras mais fortes e vigorosas

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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