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Pearl Jam mostra credibilidade total e competência no Lollapalooza

Combate Rock

27/03/2018 07h00

Marcelo Moreira

O maior desafio do Pearl Jam em sua história era superar o rótulo grunge e se tornar um nome de prestígio, extrapolando as fronteiras de seu antigo nicho. A meta foi cumprida com extrema competência.

As comparações com seus contemporâneos, como Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains, sumiram faz tempo. No descampado imenso do autódromo de Interlagos, no festival Lollapalooza, quase ninguém associava a banda, que está à beira dos 30 anos de carreira, ao movimento grunge. Todo mundo ganhou com isso.

Atingindo um patamar reservado aos gigantes que vendem milhares de ingressos em poucos minutos, o Pearl Jam costuma subir ao palco com o jogo ganho. Não contente com isso, ainda goleia.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos shows recentes, o quinteto começa a esbarrar na imensidão que se tornou, por exemplo, qualquer apresentação do U2 em qualquer lugar do planeta. E isso não é ruim.

Pearl Jam hoje é uma banda que mais aglutina do que separa. Seus shows se tornaram eventos, assim como os do próprio U2, dos Rolling Stones, de Paul McCartney. Reúne várias tribos, gerações e muitos interesses. São artistas que estão conseguindo extrapolar a música. E foi isso o que mostraram no Brasil.

Muitos críticos e fãs duvidavam que a banda tivesse capacidade para superar o declínio do grunge, das grandes gravadoras e do próprio rock ao final dos ano 90.

No novo século, com oscilações típicas de uma carreira marcada por enorme sucesso e expectativas gigantes, a banda conseguiu sobreviver no mercado hostil, enquanto os contemporâneos e concorrentes se esfarelavam ao longo dos anos.

As quedas foram poucas, e a postura sóbria e discreta, mas combativa nas questões que importavam – monopólio de vendas de ingressos, venda de material pirateado pela própria banda, apoio a questões de fundo progressista em todas as áreas – credenciaram o Pearl Jam a se ombrear aos gigantes deste século, seja na quantidade de ingressos vendidos, seja na credibilidade que conquistou em relação aos variados públicos.

E foi esse "excesso" de credibilidade – e profissionalismo – que o quinteto mostrou no Brasil. Era rock de arena, mas também era blues, era folk rock e também um show com altas doses de messianismo (mas sem os exageros de Bono, do U2).

Pearl Jam é uma banda que transita bem no rock atual, e agrada sempre. Se por um lado simboliza a descaracterização do Lollapalooza no que se refere à atração principal, contrariando as origens de priorizar artistas alternativos, por outro mostra que shows de grande porte apenas somam a um evento grandioso que suplantou, e muito, as aspirações iniciais.

Contraponto ao Rock in Rio, com quem disputa o posto de maior festival de música do país? Prefiro dizer que é um dos eventos culturais e de entretenimento mais interessantes do continente, que acertou em cheio ao buscar no Pearl Jam e no Red Hot Chili Peppers os pilares de uma edição que foi um sucesso em todos os sentidos.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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