Pearl Jam mostra credibilidade total e competência no Lollapalooza
Marcelo Moreira
O maior desafio do Pearl Jam em sua história era superar o rótulo grunge e se tornar um nome de prestígio, extrapolando as fronteiras de seu antigo nicho. A meta foi cumprida com extrema competência.
As comparações com seus contemporâneos, como Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains, sumiram faz tempo. No descampado imenso do autódromo de Interlagos, no festival Lollapalooza, quase ninguém associava a banda, que está à beira dos 30 anos de carreira, ao movimento grunge. Todo mundo ganhou com isso.
Atingindo um patamar reservado aos gigantes que vendem milhares de ingressos em poucos minutos, o Pearl Jam costuma subir ao palco com o jogo ganho. Não contente com isso, ainda goleia.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos shows recentes, o quinteto começa a esbarrar na imensidão que se tornou, por exemplo, qualquer apresentação do U2 em qualquer lugar do planeta. E isso não é ruim.
Pearl Jam hoje é uma banda que mais aglutina do que separa. Seus shows se tornaram eventos, assim como os do próprio U2, dos Rolling Stones, de Paul McCartney. Reúne várias tribos, gerações e muitos interesses. São artistas que estão conseguindo extrapolar a música. E foi isso o que mostraram no Brasil.
Muitos críticos e fãs duvidavam que a banda tivesse capacidade para superar o declínio do grunge, das grandes gravadoras e do próprio rock ao final dos ano 90.
No novo século, com oscilações típicas de uma carreira marcada por enorme sucesso e expectativas gigantes, a banda conseguiu sobreviver no mercado hostil, enquanto os contemporâneos e concorrentes se esfarelavam ao longo dos anos.
As quedas foram poucas, e a postura sóbria e discreta, mas combativa nas questões que importavam – monopólio de vendas de ingressos, venda de material pirateado pela própria banda, apoio a questões de fundo progressista em todas as áreas – credenciaram o Pearl Jam a se ombrear aos gigantes deste século, seja na quantidade de ingressos vendidos, seja na credibilidade que conquistou em relação aos variados públicos.
E foi esse "excesso" de credibilidade – e profissionalismo – que o quinteto mostrou no Brasil. Era rock de arena, mas também era blues, era folk rock e também um show com altas doses de messianismo (mas sem os exageros de Bono, do U2).
Pearl Jam é uma banda que transita bem no rock atual, e agrada sempre. Se por um lado simboliza a descaracterização do Lollapalooza no que se refere à atração principal, contrariando as origens de priorizar artistas alternativos, por outro mostra que shows de grande porte apenas somam a um evento grandioso que suplantou, e muito, as aspirações iniciais.
Contraponto ao Rock in Rio, com quem disputa o posto de maior festival de música do país? Prefiro dizer que é um dos eventos culturais e de entretenimento mais interessantes do continente, que acertou em cheio ao buscar no Pearl Jam e no Red Hot Chili Peppers os pilares de uma edição que foi um sucesso em todos os sentidos.
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