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Phil Collins entrega tudo e muito mais nos concertos de São Paulo

Combate Rock

27/02/2018 07h09

Marcelo Moreira

Phil Collins canta em São Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Artistas veteranos sempre estão na mira dos hereges, aqueles que esperam a única oportunidade para espezinhar e "causar". Foi assim quando B. B. King fez o seu antepenúltimo show, nos Estados Unidos, quando, aos 88 anos, passou mal no palco e teve de encerrar a apresentação após cinco músicas – o dinheiro seria devolvido integralmente e a lenda do blues morreria 18 meses depois.

O jornal The Boston Globe registrou diversas reclamações de espectadores que estavam na casa de show e que protestaram contra o "desrespeito" de um artista que "abandonou" o palco após cinco músicas…

Phil Collins desembarcou em São Paulo para dois espetáculos em um estádio grande, que lotou nos dois dias. É sabido que desde 2016, quando ele retomou as turnês, suas condições físicas não eram as ideais, mas estava cantando muito bem, como relatou o jornalista Maurício Noriega, comentarista esportivo do SporTV, em texto publicado pelo Combate Rock – ele viu a apresentação do cantor em Colônia, na Alemanha, em 2017, às vésperas da Eurocopa daquele ano.

Houve gente furiosa nas arquibancadas e na pista do Allianz Parque, em São Paulo, vomitando os mesmos lixos que vomitaram sobre B. B. King: "Paguei caríssimo para ver um velho caquético caindo as pedaços e pagar cantar sentado". Será que tal pessoa esperava uma performance de uma Anitta, por exemplo?

Aos 67 anos, o ex-cantor do Genesis compensou as limitações físicas com um shows nostálgico, dançante, pop e de altíssima voltagem e qualidade.

É daqueles artistas que entregam o que prometem: hit atrás de hit, sucesso atrás de sucesso. E um instrumental de cair o queixo, digno de uma artista pop do primeiro escalão da música.

Queira ou não, as limitações de Collins acabaram compondo um panorama do espetáculo. Foi comovente o esforço que ele fez para cantar e mostrar que ainda é relevante, por mais que a coluna não permita maiores arroubos.

Esqueça o atletismo de palco de Mick Jagger à beira dos 75 anos de idade, ou da vitalidade e fôlego invejáveis de imortais como Keith Richards, de 74, ou de Paul McCartney, que caminha para os 76.

Phil Collins mostrou carisma, inteligência e sabedoria mesmo avariado. A voz continua a mesma, ainda que o fôlego às vezes cismasse em aplicar pegadinhas. Ele se deu uma missão, e a cumpriu de forma notável em São Paulo.

"Against All Odds" deu o tom do show, na abertura: quente, poderosa e fervilhante. O desfile de hits não parou, com "In the Air Tonight", cantada pelo estádio inteiro, a chacoalhante "Sussudio", o hit de FM "Easy Lover" (por onde anda Philip Bailey, do Earth, Wind & Fire, o parceiro que fez dueto com Phil no estúdio lá em 1983?", "Separate Lives", "Dance into the Light", "I Missed Again"…

E teve Genesis, claro. "Follow You Follow Me" toca bastante nas rádios classic rock brasileiras, mas causou certo estranhamento em parte expressiva do público – ou muito jovem, ou muito desinformado, já que grandes concertos de rock de astros veteranos estão se tornando verdadeiras baladas, com muita gente sequer sabendo que é o cara que está no palco.

Chrissie Hynde, dos Pretenders, em são Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Invisible Touch", um pouco mais conhecida, apesar dos 32 anos de seu lançamento, levantou um pouco mais o público, com seu indefectível refrão pop e de bom gosto. Só que o mesmo público voltou a fazer cara de interrogação quando veio a bela "Throwing It All Away", uma das mais pelas power ballads do Genesis.

Foram dois shows memoráveis ( o de sábado, 24, foi mais festejado por ser a estreia em São Paulo). Sem se portar como um "cover" de si mesmo, Collins fez do seu esforço para se apresentar um de seus trunfos para arrebatar um público sedento de hits e de nostalgia. O cantor entregou isso e muito mais.

Quanto à banda de abertura, os ingleses The Pretenders (ok, a cantora Chrssie Hynde é norte-americana, mas viveu a vida inteira na Inglaterra e parte no Brasil) agradaram bastante nos dois dias. Um atração perfeita para esquentar a noite nostálgica dos anos 80.

Embora ainda esteja na ativa, o grupo ainda sobrevive dos hits oitentistas, por mais que alguns de seus trabalhos mais recentes sejam de boa qualidade.

E tome belas pérolas pop com "Back on the Chain Gang", "I'll Stand By You", "Stop Your Sobbing" (uma paulada dos Kinks, cujo ex-líder, Ray Davies, foi marido de Hynde), o megahit "Middle of the Road", a tocante "Message of Love" e a melhor de todas, a climática e dançante "Don't Get Me Wrong".

A banda precisa voltar para um show só seu em uma casa de porte médio, pois merece uma acolhida melhor do que abrir para um medalhão, ainda que seja Phil Collins.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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