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Metal Total: Nervosa surpreende, e MX e Necromancia detonam no ABC

Combate Rock

28/11/2017 06h49

Marcelo Moreira

Nervosa estremece o Little Darling, em São Bernardo (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Era para ser uma celebração anual dos fãs do metal do ABC paulista, mas acabou sendo uma reunião de velhos amigos – e foram poucos que decidiram sair de casa para ver as bandas do minifestival Metal Total, em São Bernardo do Campo, na tarde ensolarada de domingo (26 de novembro).

Tudo conspirava a favor, desde o tempo bom até a aconchegante casa noturna Little Darling, que está se tornando um novo ponto para bandas mostrarem o seu trabalho.

Mas, ao que parece, para reforçar um caráter cada vez mais underground, o rock na Grande São Paulo tem atraído c ada vez menos aficionados, e o pouco público do Metal Total corroborou essa impressão.

Muitos músicos e amigos dos integrantes dos grupos engrossaram a plateia para ver um evento essencialmente dedicado ao thrash metal, e a qualidade das apresentações foi muito acima da média.

A banda Seventh Seal, antes que são de São Bernardo e Santo André, que faz um heavy tradicional, destoou da música extrema que dominou todo o evento, mas foi uma abertura mais do que bem-vinda, já que o grupo costuma sempre entregar o que promete.

Afiado e com nítidas influências de Iron Maiden, o quinteto fez um set básico e sem riscos, esquentando bastante as turbinas para a porrada sonora que viria a seguir.

O trabalho de guitarras no palco é primoroso, algo que, dependendo do artista, acaba não se sobressaindo muito no estúdio.

Necromancia ao vivo (FOTO: MARCELO MOREIRA)

O trio Necromancia, de Santo André, com seus 30 anos de estrada, mostrou muita competência ao destilar todas as influências de Motorhead. Se o baixo não estava tão alto quanto o de Lemmy Kilmister costumava estar, a guitarra preencheu bem todos os espaços.

O som da banda é pesado e agressivo, assim como o vocal do guitarrista Marcelo "Índio" D'Castro, que ganha status de lenda a cada apresentação no ABC.

"A cada shows que fazemos a coisa fica mais prazerosa, seja porque estamos muito mais experientes, seja porque cada vez que subimos ao palco é uma oportunidade única, e temos de aproveitá-la", disse Índio após a apresentação.

O show foi curto, com a predominância dos hits que sobrevivem a três décadas de underground, como a pesadíssima "Under the Gun" e a veloz "No Way Out".

Quando o furacão MX entrou em cena, o silêncio foi quase imediato. Após anos de hiato, o quarteto de São Bernardo retomou as atividades e conseguiu imprimir um tom bem moderno ao thrash metal oitentista que sempre caracterizou a banda.

Muito pesado e extremo, o quarteto variou bem a sonoridade, indo do thrash puro ao hardcore, passando pelo punk e pelo heavy tradicional.

Com um vigor extraordinário, Alexandre da Costa, o baterista e vocalista principal empurrou a locomotiva por quase uma hora de porrada e peso insano. Com 32 anos de carreira, mesmo contando as paralisações, o MX mostra como se faz som extremo de qualidade e sem qualquer frescura.

MX (FOTO: MARCELO MOREIRA)

"Fighting for the Bastards" é o grande hino da banda, que fez tremer as paredes e chacoalhou até quem estava constantemente mexendo nos celulares. "Mental Slavery", que abriu o show, é uma música forte e traz uma sonoridade moderna e muito agressiva, da mesma forma que as ótimas "Behind His Glasses" e "Dead World", com letras fortes e ótimo trabalho de guitarras.

Para encerrar a noite de domingo, a banda sensação do heavy/thrash brasileiro, o trio feminino Nervosa, que vem se destacando na Europa e em turnês por todo o país.

Única banda de fora do ABC, e com status de grupo em ascensão, as meninas sofreram um pouco por terem sido escaladas como as atrações principais em um festival onde as outras bandas, todas locais, tinham mais de 20 anos de carreira.

Portanto, a Nervosa, como banda "nova", teve de enfrentar a desconfiança de um público médio com idade superior a 40 anos de idade e que, aparentemente, tinha pouca ou nenhuma disposição de ver a banda das meninas – ou ao menos conhecer o som.

E aí, infelizmente,os preconceitos de sempre surgiram. Os mais velhos, que foram ver Necromancia e MX, quase todos músicos amigos das bandas, debocharam claramente das três bonitinha e novinhas metidas a fazer thrash metal.

Muitos admitiram abertamente nunca terem ouvido falar do trio e não pensaram duas vezes antes de ir para área externa beber cerveja e, em sem seguida, correr para casa para ver o final do "Fantástico".

Erraram, e muito, ao subestimarem as garotas da Nervosa. Um pouco cansadas por conta do show intenso da noite anterior em Piracicaba, no interior de São Paulo, não se intimidaram com a debandada de parte do público, que já era parco, e decidiram se divertir no palco.

Nem mesmo os problemas técnicos com microfones e outros equipamentos tiraram a sede de barulho e destruição. O thrash metal inicial logo descambou para um death metal feroz com um peso que surpreendeu quem ficou e não conhecia a banda.

Seria muito difícil superar as apresentações anteriores, que foram de muito bom nível, mas a Nervosa ultrapassou os limites e fez o som mais extremo da noite, destilando ódio e violência que estão espalhados pelos dois álbuns já lançados pela banda.

"São meninas, são bonitas e são violentas. Que medo!", exclamou um empresário cinquentão à beira do palco quando ouviu "Surronded by Serpents", furiosa canção executada à velocidade da luz e com um show de técnica da baterista Luana Dametto.

"Into Mosh Pit" colocou todo mundo para dançar na acanhada pista do Little Darling e soltou os sorrisos dos mais veteranos quando escutaram um verdadeiro thrash old school.

As garotas ganharam mesmo a plateia desconfiada quando soltaram a porrada "Intolerance Means War", quase death metal que "esgana" a voz da baixista Fernanda Lira, e a tocaram "Guerra Santa", em português, mostrando uma sonoridade intensa e quase surpreendente para um público que, aparentemente, está distante das novidades do mercado.

Nervosa cumpriu um papel clássico de vitória em ambiente parcialmente hostil em São Bernardo. Superou as desconfianças e ganhou intensos elogios após o show.

Os pontos a serem observados no Metal Total são o público abaixo do esperado e, muito preocupante, praticamente nenhum jovem na plateia, mas isso será tema para outro texto no Combate Rock.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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