E mundo quase acabou há 35 anos com o maior festival punk de SP
Marcelo Moreira
No tempo em que ser punk era um estilo de vida na Inglaterra e nos Estados Unidos, no Brasil era uma um ato de fé, uma verdadeira missão.
Protestar não era o suficiente: era preciso enfrentar e confrontar, mesmo que na vigência de um regime militar truculento e assassino, ainda que em fase final e esfarelando, enquanto no mundo a guerra fria entre norte-americanos e soviéticos assombrava diante de um eventual conflito nuclear.
Esse foi o espírito que predominou nos dois dias de violência sonora em novembro de 1982, no Sesc Pompéia abarrotado de músicos e fãs com "sangue nos olhos".
Antes relegados a guetos e nichos escondidos, os punks fizeram a sociedade brasileira finalmente que eles existiam no Brasil – e em bom número, grande parte deles moradores da periferia.
O festival "Começo do Fim do Mundo", realizado nos dias 27 e 28 de novembro de 1982 sob inspiração do escritor e dramaturgo Antonio Bivar, deu uma visibilidade inimaginável para o movimento paulistano.
"Foi um dos mais importantes eventos punks do mundo", lembra Clemente Nascimento, líder e vocalista dos Inocentes e um dos músicos que tocaram no evento há 35 anos.
Clemente, que também é integrante da Plebe Rude, foi o curador e um dos organizadores do evento "O Fim do Mundo, Enfim…", que comemorou os 30 anos do festival marcante em 2012.
Enquanto o festival "40 Anos de Punk", que terminou ontem no Sesc Pompéia, privilegiou bandas do estilo que estão mirando o futuro e outras veteranas que ainda quebram tudo, o evento de 2012 foi preenchido por grupos que estiveram naquela edição, em sua maioria.
Além de Inocentes estiveram presente as bandas Garotos Podres, Ratos de Porão, Devotos, Questions, Invasores de Cérebros, Flicts, Os Excluídos e os argentinos do Attaque 77.
Clemente diz que o festival de 1982, além de mostrar ao país que existia um movimento punk considerável, foi importante porque celebrou a união entre as várias "tribos" espalhadas pela capital e pela periferia.
Era notória a rivalidade, por exemplo, entre os punks do ABC, que se consideravam ideológicos e politizados, e os de São Paulo, que eram tidos como anarquistas ou até mesmo alienados. "A música e as mensagens era o mais importante, e houve respeito a todos os artistas e o clima foi ótimo e intenso."
"Meninos em Fúria", o ótimo livro que mescla história e autobiografia do músico – coescrito com o romancista Marcelo Rubens Paiva -, traz importantes relatos do começo do movimento em São Paulo e narra a tensão que predominou durante os dois dias do "Começo do Fim do Mundo", 35 anos atrás.
A preocupação maior foi com o estouro de briga generalizada. "Havia tensão no ar, estavam lado a lado na plateia caras que viviam se estranhando nas 'quebradas' meses antes. No primeiro dia tudo correu aparentemente bem, mas no segundo o pessoal do ABC e o da zona norte começou a olhar torto e fazer cara feia. Aí, do nada, apareceu a polícia para conter a 'zoeira' de uma galera que estava arrepiando. Era o que precisávamos, um inimigo para selar a união", lembra o empresário Carlos Martins, o "Rato", que tinha 22 anos na época. Então office boy, andava com uma turma do Tucuruvi (zona norte).
A repercussão foi grande em jornais, revistas e emissoras de TV. Para a ira dos participantes do evento, os punks foram retratados como meros arruaceiros e seres perigosos a serem combatidos.
Mesmo assim, o festival rendeu uma coletânea em LP ao vivo com as principais bandas e um vídeo lançado de forma tosca em fita de VHS.
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