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Morte silencia a águia gritante do soul

Maurício Gaia

25/09/2017 07h00

Charles Bradley

A águia gritante do soul calou-se. Charles Bradley, o homem que encontrou o sucesso como cantor somente em seus anos finais da vida, morreu no sábado, aos 68 anos, vítima de câncer.

Olhando de longe, Charles Bradley parecia ser um cara gente finíssima. Invariavelmente, em seus shows, ele descia do palco para abraçar e comprimentar a platéia, muitas vezes, chegando às lágrimas. Gabriel Roth, um dos sócios do selo Daptone, por onde Bradley lançou seus três albuns, declarou que parecia que ele, Bradley, queria abraçar todas as pessoas do mundo. "Todos que o viram alguma vez sabem que ele realmente tentou isso".

(vídeo feito pela jornalista Flávia Durante, na Virada Cultural de 2012)

Aqui no Brasil, tivemos uma prova disso em sua primeira vinda, quando se apresentou na Virada Cultural de 2012. Naquele show, ele terminou nos braços da platéia, dançando com moradores de rua e abraçando e beijando todos que estavam ao seu alcance.

Vida dura

Se o sucesso de Bradley chegou tardiamente, o contrário não se pode dizer sobre as agruras da vida. Nascido em 1948, na Flórida, mudou-se para Nova York aos oito anos. Com catorze, fugiu de casa e chegou a viver nas ruas, até se inscrever em um órgão mantido pelo governo americano, onde aprendeu o ofício de cozinheiro.

Depois de trabalhar por anos como cozinheiro, entre outros bicos, começou a atuar como imitador de James Brown (sua grande inspiração) em pequenos clubes e bares de Nova York, sob o nome de "Black Velvet". Foi assim que acabou sendo descoberto por Gabriel Roth, fundador da Daptone Records e baixista da cantora Sharon Jones.

Seu primeiro álbum, "No Time for Dreaming" foi lançado em 2011, quando ele tinha 62 anos. Mais dois álbuns sucederam este e, ano passado, foi diagnosticado um câncer. Retornou à estrada em 2017, mas cancelou subitamente sua turnê (se apresentaria no Rock in Rio e em SP), pois o câncer havia se espalhado para outros órgãos.

O talento, o carisma e a personalidade de Charles Bradley farão falta neste mundo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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