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John Entwistle: morto há 15 anos, baixista do Who mudou o instrumento

Combate Rock

22/09/2017 07h07

Marcelo Moreira

John entwistle (FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE)

John Entwistle foi o primeiro baixista a fazer um solo em uma canção rock. Ele nunca teve essa intenção, mas foi convencido pelo guitarrista Pete Townshend e pelo produtor Shel Talmy de que seria uma boa ideia brincar com isso naquele que se tornou o maior sucesso da carreira do Who, "My Generation".

Um dia depois da estrondosa estreia do Who em palcos brasileiros, ontem, no Allianz Arena, em São Paulo, é muito pertinente que lembremos do genial baixista, o melhor do rock, quando faz 15 anos de sua morte, em Las Vegas, no longínquo ano de 2002, aos 57 anos de idade.

Em uma entrevista à rádio BBC, de Londres, duas décadas depois do lançamento do single – na Inglaterra, no fim de 1965 –, Talmy disse que o Who era uma banda instintiva, orgânica e furiosa, e que só percebeu o tamanho do som do baixo de Entwistle no estúdio.

"Eles tinham gravado 'I Can't Explain' antes, além de 'Zoot Suit' como High Numbers, mas foi em 'My Generation' que o som alto e pesado de John preencheu a sala. Ele era um verdadeiro guitarra-base, com sua técnica apurada, precisão e velocidade. Era óbvio que seria natural aparecer um solo de baixo com o volume lá em cima. Townshend teve a mesma impressão na hora em que percebi isso", disse o produtor.

Formação original do Who: da esq. para a dir., Roger Daltrey, Keith Moon, John Entwistle e Pete Townshend (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Neste mês de outubro, Entwistle, talvez o melhor de todos os baixistas de rock, completaria 73 anos de idade. O instrumentista do Who sempre desdenhou do título "melhor da história".

Com seu jeito quieto e discreto, sempre foi modesto ao analisar sua carreira. Fã de jazz e de rockabilly, costumava dizer que não conseguia encontrar algo de novo em seu trabalho. Nem sequer conseguia identificar um estilo, quanto mais afirmar ter criado um.

Quem desmitifica a questão é Glenn Tipton, guitarrista fundador do Judas Priest, amigo de Entwistle desde os anos 70 e que o teve como companheiro de banda em dois de seus trabalhos solo, "Baptizm of Fire", de 1997, e "Edge of the World", de 2003 – este último creditado a Tipton, Entwistle and Powell (Cozy Powell, baterista fantástico morto em acidente de carro em 1998).

"Se é consenso que o heavy metal pode ter nascido a partir dos riffs de guitarra pesados de 'You Really Got Me', dos Kinks, o baixo pesado surgiu com Entwistle na mesma época", disse o guitarrista do Judas Priest.

O som vibrante, gordo e intenso de seu baixo representava uma mudança de postura e de modo de encarar o instrumento. Em uma banda sem guitarra-base, o peso e a melodia que Entwistle imprimia ao som do Who era muito mais do que ritmo, era uma verdadeira base", afirmou Tipton à revista Guitar World nos anos 2000.

A versatilidade e a genialidade de Entwistle às vezes incomodava Roger Daltrey, o cantor do Who, no palco. Não foram poucas as vezes que o vocalista brincava, mas dando o recado, quando o baixista fazia algum riff em músicas que requeriam tal procedimento: "Para que tantas notas ao mesmo tempo, John?", perguntava Daltrey, geralmente no começo ou no final de músicas como "Boris The Spider", "My Wife" ou "The Quiet One", todas de autoria do baixista.

Os adjetivos são insuficientes para classificar a qualidade do trabalho de Entwistle, assim como era para o mago Jaco Pastorius, que morreu há 30 anos e era o craque do jazz.

O músico do Who era criativo, inovador e um dos grandes compositores do rock, mesmo sendo ofuscado pelo talento do companheiro de banda Pete Townshend – por isso é que foi o primeiro integrante do Who a engatar uma carreira solo com o excelente álbum "Smash Your Head Against the Wall", de 1971.

Desde sua morte, apenas dois músicos contratados ocuparam o seu lugar – o estupendo galês Pino Palladino, que tocou também com Oasis e John Mayer, e o atual, o inglês Jon Button.

Talentosos e competentes, foram opções que satisfizeram as necessidades, mas nem de longe preencheram a lacuna de Entwistle, que era uma verdadeira avalanche sonora no baixo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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