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Estreia do Pink Floyd em disco, há 50 anos, inaugurou a 'vanguarda' no rock

Combate Rock

04/08/2017 18h20

Marcelo Moreira

Capa do álbum 'The Piper at the Gates of Dawn'

O Pink Floyd surgiu efetivamente em 1965 com a união de alguns estudantes da Universidade Cambridge, mas todo mundo acredita mesmo que a banda nasceu em 1967, com o lançamento de "The Piper at Gates of Dawn", a estreia em álbum.

Início ou auge da psicodelia britânica, que ainda reverenciava o furacão Jimi Hendrix, que chegara a Londres meses antes?

Um dos pilares do rock britânico dos anos 60, o álbum teve grande impacto na crítica musical, assim como a estreia em vinil de The Doors, mas o público demorou mais do que o esperado para assimilar o petardo psicodélico do então quarteto.

As melodias torta e as letras sarcásticas e lunáticas do guitarrista e vocalista Syd Barrett pareciam não se encaixar dentro de um novo padrão que se estabelecia a partir do mágico "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles.

E, no entanto, "Piper" estabeleceu, de certa forma, um contraponto ao flower power californiano – levando muito à frente a coisa do paz e amor e muito mais.

O estranhamento – e, de certa forma, o começo do encantamento, já ocorria desde final de 1966, quando a banda fazia concorridas sessões de música ao vivo em clubes alternativos e também no fundamental UFO, local que praticamente catapultou o Floyd e o The Move.

As experiências visuais e sonoras do show do quarteto de Cambridge, misturado com as drogas recém-chegadas e multiplicadas, acrescentaram um colorido excitante e exótico ao som, caindo nas graças dos críticos mais modernos.

Catapultados a grande novidade do underground, os integrantes do Pink Floyd radicalizaram embalados pelas ideias caóticas e aparentemente indecifráveis de Barrett, ainda sem noção do impacto que causariam.

"The Piper at the Gates of Dawn" simbolizou o início de uma nova era musical para o underground do pop rock como um todo, e talvez esse seja, fora a qualidade musical, o grande mérito da obra: ter se tornado uma referência maior de cultura underground em uma década fervilhante e alta produtividade.

Se o público demorou para deglutir as texturas sonoras de Syd Barrett, também é fato que a banda então iniciante teve concorrentes de peso naquele mágico ano de 1967.

Os Beatles "acabaram" com o jogo com o extraordinário "Sgt. Pepper's", mas o jogo era pesado: os Beach Boys ainda saboreavam a obra-prima "Pet Sounds"; The Doors estreavam quebrando tudo, enquanto The Who decidia ousar com "The Who Sell Out" e sua virulenta e sarcástica crítica ao consumismo e ao mundo do marketing; Jeff Beck estreava com o maravilhoso "Truth", enquanto que Jimi Hendrix contra-atacava com os não menos maravilhosos "Are You Experienced" e "Axis: Bold As Love" (duas porradas em álbum lançadas em menos de seis meses!!); os Rolling Stones viriam no fim do ano com incompreendido e confuso "Their Satanic Majesties Request" e os Moody Blues decidiam inaugurar as colaborações com a música erudita, dando o pontapé no rock progressivo, com "Days of Future Passed".

Com tanta coisa rolando, o álbum do Pink Floyd ficou encalacrado entre tanta genialidade, mesmo conseguindo boa repercussão.

O que era mera curiosidade com os singles "Arnold Layne" e "See Emily Play" ganhou contornos de arte de vanguarda, segundo alguns teóricos da cultura pop, com pérolas musicais como "Astronomy Dominé", um exemplo extraordinário de psicodelia, e das surrealistas "Bike" e "The Scarecrow"

E o que dizer da futurista e visionária "Instertelllar Overdrive", com sua estrutura complexa e arranjos "tortos", em uma tentativa de de desconstruir uma "narrativa", para usar jargões atuais de teóricos de esquerda?

Apesar de fora dos padrões, há uma concessão ao mundo normal, com o rock rápido e urgente "Lucifer Sam", totalmente mergulhado na psicodelia, mas que traz uma guitarra sensacional e dissonante de Syd Barrett, indicando o que poderia ter sido o Floyd se o líder, no caso ele mesmo, não tivesse sucumbido a um colapso nervoso e a uma série de problemas psiquiátricos, responsáveis por seu afastamento definitivo da banda e janeiro de 1968.

"Piper" é um dos grande marcos do rock, que estabeleceria as bases de um ramo prolífico e duradouro da música pop, além de, não intencionalmente, fundar as bases do sucesso do colosso que viria a se tornar o Pink Floyd.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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