Seis décadas depois, o democrático rock ainda mobiliza e se torna cada vez mais inclusivo
Marcelo Moreira
Rebeldia, resistência e democracia. Essas sempre foram as palavras-chave do rock em seus 63 anos de existência, período em que conseguiu, de muitas maneiras, mudar a história da cultura e da sociedade ocidentais algumas vezes.
Em tempos de cólera cada vez mais impiedosa, com reveses contínuos na vida cotidiana brasileira e de muitos outros países, outra palavra precisa ser incluída nesse rol, principalmente em se tratando de Brasil: a inclusão.
O rock é inclusivo porque é aglutinador. Atrai, absorve e agrega, coisas que precisam ser cada vez mais louvadas e saudadas neste país, principalmente neste 13 de julho, Dia Internacional do Rock.
Se a faceta mais rebelde e revoltada hoje ganha mais ressonância entre os artistas de rap – dá até para dizer que os Racionais MCs, pela sua história de vida e de resistência, são hoje muito mais roqueiros do que os ditos autênticos -, é fato que o rock ainda mantém vivo o espírito libertário, contestador, humanitário e igualitário, independente de questões ideológicas dos artistas. Daí para a agregar a inclusão a suas características foi um passo natural.
É inclusivo também porque, salvo exemplos isolados, desde sempre pregou a união e juntou tribos distintas. Reconheceu a importância das influências diversas o tempo todo – por isso sempre foi o mais democrático dos gêneros musicais.
E é justamente em um momento complicado para a arte em geral que o rock, voltando ao gueto, como nos primórdios, precisa preservar e conservar os seus pilares.
A relação do ouvinte/fã com a música mudou – ela ficou mais fácil de se obter, é grátis. Banalizada e com a forte concorrência de outros meios de entretenimento, a música deixou de ser um bem cultural e é vilipendiada a cada dia nos downloads ilegais e streamings sem qualidade da vida. A música, assim como rock, ainda sofre com uma desvalorização desenfreada.
Os dias de glória, quando ajudou a pautar o destino da cultura pop mundial, se foram. No entanto, a capacidade única de sobrevivência e de adaptação do rock a mercados mutantes e, ao mesmo tempo, dizimados, credenciam o gênero a, no mínimo, mais 60 anos de incômodo e rebeldia.
Se o jazz e o blues, assim como a música erudita, se tornaram "música de nicho", o rock ainda mantém um apelo popular nada desprezível, ou então não continuaria a movimentar milhões e milhões de dólares com seus principais artistas, novos e veteranos, que seguem lotando estádios pelo mundo afora.
Seja na base da reciclagem ou mesmo na ressuscitação de dinossauros há muito enterrados, o rock ainda tem estofo para surpreender, quase sempre associado a outros gêneros, como o blues e o hip hop, por exemplo.
O fato é que uma parcela expressiva de roqueiros, famosos e anônimos, conseguem manter a chama acesa e atrair muitos jovens, ainda que em quantidades bem menores do que no passado.
Essa galera faz parte de um time recheado de idealistas e abnegados que acreditam que a arte faz diferença na vida das pessoas e que ajuda a melhorar o dia a dia de cada um de nós, sendo que o rock é a ponta de lança dessa atividade.
Fazer rock hoje é um ato de rebeldia, assim como fazer arte. Na verdade, sempre foi. De volta ao gueto e com uma aura cada vez mais reforçada de atividade marginal, o rock está na meia-idade em busca de novos horizontes e de outras perspectivas.
E a história mostra que as rupturas e revoluções culturais sempre impulsionaram a música e as artes em geral para um período de alta criatividade e evolução estética transformadora – curiosamente, sempre em anos com final 7.
Em 1967 surgiu o psicodelismo como tábua de salvação; dez anos depois, em 1977, veio o punk para quebrar tudo, chacoalhar e dar início a uma nova dinâmica; em 1987 foi a vez do thrash metal e da música extrema levarem o rock a romper limites e outras barreiras, disseminando o lado obscuro e sombrio da música; vieram mais dez anos e o chamado new metal criou em 1997 uma estética para atrair novos ouvintes e resgatar o espírito rebelde e jovem do gênero; já em 2007 o rock parecia esgotado, exaurido, clamando por um novo movimento que pudesse revitalizar e rejuvenescer o combalido sessentão.
O ciclo vem se repetindo com frequência, e o rock continua aí – menos vigoroso, mas com fôlego, mesmo que muitos continuem a decretar a morte do gênero. Sendo assim, cabe a pergunta de sempre: quem é que vai "salvar" o rock dessa vez, em pleno 2017?
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