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Seis décadas depois, o democrático rock ainda mobiliza e se torna cada vez mais inclusivo

Combate Rock

13/07/2017 06h21

Marcelo Moreira

Rebeldia, resistência e democracia. Essas sempre foram as palavras-chave do rock em seus 63 anos de existência, período em que conseguiu, de muitas maneiras, mudar a história da cultura e da sociedade ocidentais algumas vezes.

Em tempos de cólera cada vez mais impiedosa, com reveses contínuos na vida cotidiana brasileira e de muitos outros países, outra palavra precisa ser incluída nesse rol, principalmente em se tratando de Brasil: a inclusão.

O rock é inclusivo porque é aglutinador. Atrai, absorve e agrega, coisas que precisam ser cada vez mais louvadas e saudadas neste país, principalmente neste 13 de julho, Dia Internacional do Rock.

Se a faceta mais rebelde e revoltada hoje ganha mais ressonância entre os artistas de rap – dá até para dizer que os Racionais MCs, pela sua história de vida e de resistência, são hoje muito mais roqueiros do que os ditos autênticos -, é fato que o rock ainda mantém vivo o espírito libertário, contestador, humanitário e igualitário, independente de questões ideológicas dos artistas. Daí para a agregar a inclusão a suas características foi um passo natural.

Jimi Hendrix incendeia sua guitarra no festival de Monterey, em 1967. O evento foi o início de uma das grandes revoluções culturais do Ocidente (FOTO: REPRODUÇÃO DE TV/DVD)

É inclusivo também porque, salvo exemplos isolados, desde sempre pregou a união e juntou tribos distintas. Reconheceu a importância das influências diversas o tempo todo – por isso sempre foi o mais democrático dos gêneros musicais.

E é justamente em um momento complicado para a arte em geral que o rock, voltando ao gueto, como nos primórdios, precisa preservar e conservar os seus pilares.

A relação do ouvinte/fã com a música mudou – ela ficou mais fácil de se obter, é grátis. Banalizada e com a forte concorrência de outros meios de entretenimento, a música deixou de ser um bem cultural e é vilipendiada a cada dia nos downloads ilegais e streamings sem qualidade da vida. A música, assim como rock, ainda sofre com uma desvalorização desenfreada.

Os dias de glória, quando ajudou a pautar o destino da cultura pop mundial, se foram. No entanto, a capacidade única de sobrevivência e de adaptação do rock a mercados mutantes e, ao mesmo tempo, dizimados, credenciam o gênero a, no mínimo, mais 60 anos de incômodo e rebeldia.

Se o jazz e o blues, assim como a música erudita, se tornaram "música de nicho", o rock ainda mantém um apelo popular nada desprezível, ou então não continuaria a movimentar milhões e milhões de dólares com seus principais artistas, novos e veteranos, que seguem lotando estádios pelo mundo afora.

Seja na base da reciclagem ou mesmo na ressuscitação de dinossauros há muito enterrados, o rock ainda tem estofo para surpreender, quase sempre associado a outros gêneros, como o blues e o hip hop, por exemplo.

O fato é que uma parcela expressiva de roqueiros, famosos e anônimos, conseguem manter a chama acesa e atrair muitos jovens, ainda que em quantidades bem menores do que no passado.

Essa galera faz parte de um time recheado de idealistas e abnegados que acreditam que a arte faz diferença na vida das pessoas e que ajuda a melhorar o dia a dia de cada um de nós, sendo que o rock é a ponta de lança dessa atividade.

Capa do single "God Save the Queen", dos Sex Pistols, que detonou o movimento punk inglês

Fazer rock hoje é um ato de rebeldia, assim como fazer arte. Na verdade, sempre foi. De volta ao gueto e com uma aura cada vez mais reforçada de atividade marginal, o rock está na meia-idade em busca de novos horizontes e de outras perspectivas.

E a história mostra que as rupturas e revoluções culturais sempre impulsionaram a música e as artes em geral para um período de alta criatividade e evolução estética transformadora – curiosamente, sempre em anos com final 7.

Em 1967 surgiu o psicodelismo como tábua de salvação; dez anos depois, em 1977, veio o punk para quebrar tudo, chacoalhar e dar início a uma nova dinâmica; em 1987 foi a vez do thrash metal e da música extrema levarem o rock a romper limites e outras barreiras, disseminando o lado obscuro e sombrio da música; vieram mais dez anos e o chamado new metal criou em 1997 uma estética para atrair novos ouvintes e resgatar o espírito rebelde e jovem do gênero; já em 2007 o rock parecia esgotado, exaurido, clamando por um novo movimento que pudesse revitalizar e rejuvenescer o combalido sessentão.

O ciclo vem se repetindo com frequência, e o rock continua aí – menos vigoroso, mas com fôlego, mesmo que muitos continuem a decretar a morte do gênero. Sendo assim, cabe a pergunta de sempre: quem é que vai "salvar" o rock dessa vez, em pleno 2017?

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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