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Trintões do pop: a importância de 1987 na evolução da música - parte 3

Combate Rock

30/06/2017 17h00

Caio de Mello Martins* – publicado originalmente no site Roque Reverso

Celtic Frost – "Into the Pandemonium"

Em 1987, os suíços do Celtic Frost precediam a onda hegemônica em fins dos anos 1990 de bandas que combinavam os blasts do death metal com intervalos sinfônicos e vocais femininos. Isso não parece nada provável vindo de uma das maiores forças por trás da difusão europeia do metal mais extremo, satânico e cru que se podia ouvir em meados dos anos 1980.

Porém, com "Into The Pandemonium", os arranjos orquestrais que já podiam ser ouvidos no LP antecessor eram apenas uma das inovações que grupo preparou para o álbum — a própria banda definia o novo estilo como "avant-garde metal".

O vocalista/guitarrista/compositor Tom Warrior adotou um canto semelhante aos góticos do Christian Death, conferindo à morbidez do som uma nova dimensão.

Liricamente, o álbum representou uma ruptura com o maniqueísmo das exaltações a Satã: o niilismo inerente ao Celtic Frost passou a ser melhor expresso por relatos de luxúria, ganância e fatalismo que marcaram a decadência de civilizações antigas — como se a música fosse o eco agourento do desmoronamento de antigas sociedades, agonizadas pelos mesmos lapsos que um dia arruinarão nossas próprias fundações.

Experimentos com fita, quartetos de corda e vozes operáticas de apoio foram alguns dos elementos que ajudaram a banda a traduzir de maneira fiel o tom grave e solene que se segue a eventos apocalípticos — algo que qualquer metaleiro vivendo em tempos de tensão nuclear da Guerra Fria gostaria de representar!

A criatividade vertiginosa deste álbum ainda premiou a comunidade metaleira com dois sacrilégios que até hoje não foram esquecidos: uma track de break chamada "One In Their Pride", em que figuram samples do astronauta Neil Armstrong na missão Apolo 11; a outra, "Tristesses de La Lune", é uma declamação felina e sexy de um poema de Baudelaire com violinos inebriantes ao fundo. Sublime e inacreditável, "Into The Pandemonium" não poderia deixar de dividir plateias e cultivar seu diminuto punhado de fiéis seguidores — e não é o que grandes obras de arte fazem?

Dinosaur Jr. – "You're Living All Over Me"

J Mascis se sobressaiu como um guitar hero em um meio conhecido por combater virtuosismos e solos. O líder do Dinosaur Jr revelou-se um verdadeiro discípulo do Television, curiosamente a banda responsável por transformar um muquifo decadente chamado CBGB no centro nevrálgico do punk em Nova York.

Assim como os diálogos entre as guitarras de Tom Verlaine e Richard Lloyd, do Television, a base das músicas do Dinosaur Jr é construída por camadas de acordes, inversões, dedilhados e fraseados que desviam dos clichês e mantêm uma vívida dinâmica durante todo o tempo.

"You're Living All Over Me", o segundo álbum do grupo, antecipa em alguns anos o que ouviríamos das mãos de Kurt Cobain e Billy Corgan: tensão entre distorção suja e um cuidado com composição e melodia.

E também anuncia o resgate da relação de prazer com a guitarra, solos longos, a apreciação pela beleza incerta do improviso, pelo calor na alma que um ruído de amplificador ainda provoca décadas após o rock ter nascido. Outro ar de inovação dentro do underground americano responsável por renovar o interesse de jovens roqueiros pela faceta dionisíaca do rock.

* Caio de Mello Martins é jornalista.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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