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Paul Weller e Imelda May: o pop britânico sofisticado e de bom gosto

Combate Rock

29/06/2017 07h05

Marcelo Moreira

Melodias fáceis, construções harmônicas bem elaboradas e letras nem acima da média. O pop britânico retoma uma faceta sofisticada na música de dois artistas ousados e corajosos, em contraste com o pop radiofônico e, até certo ponto, comum e pouco audacioso de gente como Adele.

O guitarrista e cantor Paul Weller, veterano das bandas The Jam e Style Council, se especializou em compor músicas de extrema beleza e de qualidade acima da média, assim como suas letras.

Flertando com o jazz e com o soul com a banda extraordinária chamada Style Council, manteve a pegada em sua carreira solo a partir dos anos anos 90, com álbuns ótimos com "Heavy Soul". "22 Dreams", "Wild Wood" e "Stanley Road".

"A Kind Revolution" é seu mais recente trabalho de músicas inéditas. Curiosamente, como se fosse uma comemoração aos 40 anos de carreira e 25 de trabalho solo, Weller decidiu fazer um compilado de suas influências. E o resultado é soberbo.

Tanto em sua versão normal como na deluxe,  o que observamos é um trabalho de extremo bom gosto e inteligência, seja nas letras como nos arranjos de altíssima qualidade.

O Weeler punk ressurge na urgência de como ele coloca alguns temas, sempre permeado de soul music e rhythm & blues, resgatando o seu passado neoMod e já indicando que também o punk estaria presente.

"Long Long Road" é um grande tributo ao passado, com guitarras cruas e seminais. "She Moves in the Fayre" flerta com o folk e com o blues, com uma letra de extrema sensibilidade, enquanto que "One Kid" e "Satellite Kid" resgatam um passando mais punk e mais melódico.

"Woo Sé Mama" tem clara influência da word music, com seus elementos tribais e arranjos inusitados, assim como "The Impossible Idea", que agrega elementos diferentes e inusitados a um pop de alta qualidade.

Paul Weller mostrou que está vivo, e muito mais: está na vanguarda do rock atual.

Já a irlandesa Imelda May resolveu radicalizar e mudar quase por completo. Conhecida pelo trabalho voltado ao rock clássico voltado para o rockabilly, notabilizou-se pelo extremo apuro conceitual em álbuns como "Mayhem" e "Tribal". com o apoio inestimável do marido, o guitarrista Darrel Higham.

Sua fama cresceu muito quando ela e o marido se associaram a Jeff Beck em uma série de trabalhos e a moça de toronou uma das cantoras mais importantes do Reino Unido, ao lado de Adele, Joss Stone e Imogen Heap – não coincidentemente, as duas últimas também divas de Beck.

Ela ama os anos 50 e 60, especialmente a soul music e o rhtyhm & blues, mas não pensou duas vezes: ousou e avançou no ótimo álbum "Live Love Fresh Blood", recém-lançado.

A diva elétrica e candidata a pin up do século XXI deu lugar a uma cantora e madura, romântica e inspirada, mas longe de ser brega ou passional como Adele.

O bom gosto predomina com o investimento no jaz e no blues, com canções fortes e letras diferenciadas. Aqui a influência de Higham é quase nula, o que gerou especulações de que a May tivesse rompido com o marido.

Quem dá as cartas na produção conjunta é o veteraníssimo T-Bone Burnett, guitarrista lenda norte-americano. Ela assina as 11 faixas do álbum, sendo que cinco com parceiros.

"Black Tears" é o destaque, principalmente pela elegante guitarra chorosa de Jeff Beck, em uma canção com clima saudosista dos anos 50, mas despojada de remorsos.

"Call Me" abre o CD em uma clima pop um pouco amargo, mas sereno, remetendo a coisas intensas e fortes como podemos observar nos trabalhos solo de Natalie Merchant (ex-10.000 Manicas).

"Six Senses" e "Human", por sua vez, trazem elementos pop jazzísticos, com arranjos sublimes e ótima condução das guitarras e mandolins. Não é exagero observar que traços de Stevie Nicks e Fleetwood Mac.

"Levitate" resgata um pouco da persona cinquentista anterior, enquanto que "When It's My Time" exacerba o romantismo que remete à soul music dos anos 60, temperado por um suingue maroto do pianista Jools Holland.

A aposta de Imelda May é alta, mudando a forma e a postura buscando uma posição além do nicho rockabilly que sempre a caracterizou. Embora não assuma, ela pretende entrar para o panteão das divas britânicas da música pop. O novo o álbum a credencia para isso.

<P

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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