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Krisiun e Nervochaos são vítimas da ignorância e da estupidez em Bangladesh

Combate Rock

10/05/2017 07h00

Marcelo Moreira

Krisiun (FOTO: DIVULGAÇÃO/PRI SECCO)

O rock derruba barreiras e destrói preconceitos, mas nem sempre. Foi o que as bandas brasileiras Krisiun e Nervochaos sentiram na pele em Bangladesh, país asiático vizinho à Índia.

Em pleno século XXI, quando jamais imaginávamos que poderíamos ver um festival de heavy metal em Dubai, no Oriente Médio, eis que ainda existem alguns baluartes conservadores que abusam do direito de ser retrógrados e medievais.

As duas bandas estão percorrendo Ásia e a Europa em uma turnê extensa e bem legal. Só que as autoridades de Bangladesh resolveram atrapalhar o giro e provocaram o cancelamento de três shows – Dacca (Bangladesh), Ulan Bator (Mongólia), Hanói (Vietnam) e Pequim (China).

Os problema aconteceram após o desembarque em Dacca. Quando músicos e roadies apanhavam as malas na esteira, foram abordados por vários seguranças e "detidos para esclarecimentos".

Foram mais de dez horas impedidos de deixar o local e com os passaportes apreendidos. As primeiras informações dão conta de que as "autoridades" ordenaram a detenção de todos porque o Krisiun eram uma "banda satânica".

A informação não foi confirmada, mas os brasileiros tão pouco foram comunicados sobre os motivos da detenção. A situação só foi resolvida com a intervenção do embaixador brasileiro no país e do cônsul brasileiro na cidade.

Relutantes e a contragosto, as "autoridades" decidiram pela liberação, não antes de dizer que eles ficariam detidos por tempo indeterminado caso a diplomacia brasileira não tivesse atuado.

Depois de uma rápida passagem pelo hotel, já com o show cancelado, as bandas e suas equipes voltaram imediatamente para o aeroporto para continuar a viagem e a turnê.

Bangladesh é um país muçulmano e extremamente conservador, quase tanto quando a Malásia e a Indonésia – curiosamente, as duas bandas tocaram em Jacarta, capital deste último país, antes de ir para Dacca; também curiosamente, a Indonésia tem um presidente reacionário e ultraconservador que é fã de heavy metal.

Episódios como esse são cada vez mais raros. Anos atrás, o Saxon foi "desconvidado" a participar do importante festival de Dubai por causa da música "Crusader", com a letra mostrando o ponto de vista de um cavaleiro ocidental que participou das Cruzadas, no Oriente Médio.

Bandas ocidentais também não são bem-vindas no Irã, que está cada vez mais conservador.

Independentemente da questão religiosa ou mesmo política, é uma vergonha que países autoritários e totalitários se baseiem em preceitos medievais para barrar a circulação de pessoas e a disseminação da cultura.

E qualquer relativismo a respeito do "respeito à cultura local" deve ser repudiado. Bangladesh é um país retrógrado e não pode ser levado a sério, infelizmente.

Leia a seguir o comunicado conjunto das bandas Krisiun e Nervochaos sobre o ocorrido:

"Gostaríamos de agradecer imensamente o cônsul e toda sua equipe, no consulado Brasileiro em Daca, Bangladesh. Tivemos uma experiência muito desagradável, onde fomos vitimas de um grande mal-entendido e vivenciamos mais de 10 horas de puro preconceito e desinformação.

Assim que aterrissamos no aeroporto internacional de Hazrat Shahjala, em Dacca, na madrugada do dia 9, fomos abordados por agentes de segurança enquanto buscávamos as bagagens.

Tivemos os passaportes retidos, sem qualquer tipo de explicação, em um pais extremamente conservador.

O evento foi cancelado e os vistos que obtivemos na embaixada de Bangladesh no Brasil, totalmente desconsiderados. Graças ao grande esforço e enorme ajuda do cônsul Brasileiro e sua equipe no consulado Brasileiro (em Dacca, Bangladesh), do embaixador do Brasil, Maximiliano Arienzo; e da nossa agente de viagens Carla, fomos liberados.

Seguimos amanha para o Japão e depois para Coreia do Sul dando continuidade na tour. Infelizmente, devido aos acontecimentos mencionados acima, os shows na Mongólia, China, Vietnam e Malásia estão cancelados.

Pedimos desculpas a qualquer transtorno causado e esperamos voltar num futuro próximo. Obrigado."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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